quarta-feira, 21 de abril de 2021

queria versar novamente mas a realidade me curva




tudo no seu canto e cada um com os seus

e eu que meço, grito, peço, cresço e luto,

ainda me sinto incompleto nesse mundo

não me encontro em lares, paredes e cantos


— desses que por vez ou outra são espaços de opressão

— mas peço meu acalanto pelas vozes e de tudo

que me aparece abjeto como o cão

faço saber que caminho lado a lado com os meus.


e somos muitos e mudar queremos tudo

embora nossos inimigos ceder não queiram nada,

mas não esperamos apertos de mão ou dinheiro graúdo

de quem na história só cedeu pela bala


mas não me entenda mal, não é que desejemos as armas

é que não é pela paz que que a paz vai ser conquistada,

nunca foi sobre violência mas é contra ela que ela será usada

contra aqueles que causaram nossa morte — por morte morrida e matada.


queria escrever como outrora, sobre amor e da mulher amada

sobre o corpo e o copo e as ruas que tanto amo na madrugada,

mas hoje não tem poesia, não tem música nem mesa de bar

o que tem pra hoje é doença, ferida, e um desejo de tudo isso acabar.


meu verso foi ficando pobre, vocabulário seco e cheio de amargor

embora eu tente rimar, ainda assim, não consigo apaziguar

todo esse ódio contido no peito de tudo que me causa dor

e eu quero ferir pra matar esse quem tem feito meu povo sangrar


porque esse ódio é revolucionário, movido por sentimentos de amor.

amor pelos meus, pelo povo, pelas crianças, pelo meu bairro,

pelo meu estado, pelo meu país, embora guarde de alguns certo rancor

gosto de lembrar de che e do seu amor que tem lado, partidário


das causas que parecem impossíveis, que parecem inderrubáveis,

mas não quero seguir triste, quero apontar com meu dedo em riste

e dizer quem é o responsável por esse hoje de verdades inaceitáveis

e derrubar, seja com pedra ou rifle, lado a lado com meu povo que resiste


e falo,

aos que hoje fazem pouco caso do nosso triste ocaso

e falo do brasil, mas falo de mis hermanos,

e falo por mim, pelo povo latino-americano,

que de antemão já me dou

de corpo inteiro pra essa marcha, ombro a ombro, braço a braço.