segunda-feira, 12 de novembro de 2018

uma para stan lee


para stan lee
com carinho e saudade

o homem por trás de um mundo criado sobre nanquim e cores.

veja bem: criado, não inventado. o que poderia muito ser sentido ao passo que mutantes e adolescentes que escalavam paredes podiam se cruzar nos prédios de nova iorque, ao mesmo tempo que deuses nórdicos poderiam sair de uma batida de cajado e deuses gigantescos poderiam decidir o destino da humanidade segundo o seu bel-prazer.

a caneta e o lápis de jack kirby poderia fazer milagres, mas o impulso, a máquina de produzir argumentos infantis que se transformavam em verborragia absoluta, também tinham lugar na hora de fazer perceber que aquele mundo fantasioso também tinha lugar no nosso mundinho sem graça.

meu primeiro contato com as criações de stan lee foi em 1996, aos 5 anos, quando meu pai trouxera uma edição de "a teia do aranha" a qual havia um embate entre o cabeça de teia e kraven, o caçador. daí em diante passei muitos anos perturbando minha prima, ana, para me trazer mais revistas do homem-aranha, mas também dos x-men, e do wolverine, os quais passavam por mais uma crise contra a sua própria existência no arco "operação tolerância zero". o homem-aranha que acompanhei estava sendo caçado e vivia o arco "crise de identidade" e, de 1998 até 2000 foram muitos lanches que economizei para comprar quadrinhos da marvel. a banquinha na rodoviária de maranguape não me deixa mentir.

passei pela crise da adolescência e abandonei os quadrinhos só para retomá-los, já adulto e perceber com outro olhar todos aqueles heróis. e, claro, me fez voltar a desenhar, criar, porque, quem me conhece sabe: não sei ser expectador do que amo: eu preciso fazê-lo também.

e só aí, vi a genialidade de stan lee, mesmo que haja detratores, como sempre hão de ter, stan lee conseguiu o que poucos conseguiram na nona arte: trazer problemas reais de pessoas reais e pô-los nas páginas e, ao passo que problematiza, os traz como as maravilhas que são, dentro de suas complexidades, dentro dos poderes que eles têm na vida real para existir e persistir. mas isso todos sabem (ou não sabem?).

os x-men, como uma representação dos movimentos sociais dos anos 60; o homem-aranha como uma visão do adolescente nerd excluído até mesmo entre os excluídos; a família desfuncional do quarteto fantástico, que mesmo dentro de suas características tão próprias, permanecia unida... e o legado que ficou disso nos deu o pantera negra, nos deu luke cage, nos deu demolidor, o surfista prateado e suas parábolas refletindo o universo enquanto o cruza e enfrenta o devorador de mundos...

stan lee já não escrevia há muito tempo, mas dentro do seu espectro pudemos vivenciar um renascer de super heróis ao lugar que eles merecem, ao mesmo tempo que podemos nos debruçar por muitos anos sobre as suas criações e nos inspirar, mesmo que de maneira indireta, a entender que, quem quer que sejamos, temos o nosso lugar no mundo e podemos ser incríveis.

aliás, podemos ser marvels*.

e stan lee, garantiu seu lugar no mundo, levando consigo poderes cósmicos e reformulando um universo inteiro para que possamos, ainda, existir e resistir da melhor maneira que pudermos.

nunca pude conhecer o homem por trás das criações que fizeram algumas das minhas melhores leituras da madrugada ao longo desses últimos anos, mas sei que a sua influência, de alguma maneira, guiou-me pelo caminho que sigo hoje. a stan lee o meu mais profundo agradecimento por ter existido e feito o que fez (por muita gente).

excelsior!

*(marvel = maravilha)

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