quinta-feira, 24 de junho de 2010

Zé Saramago.



Quase nada clichê, mas, o fato é que José Saramago mudou um pouco esses meus conceitos pré-fabricados em relação ao mundo. A notícia da morte dele abalou -me bem mais que a notícia da morte do meu avô, que acontecera á quatro meses atrás (só espero que ninguém da minha família veja isto), pois ele infundiu em minha cabeça muitos mais conceitos e ideias de dois anos para cá, que meu avô desde o dia em que nasci. Mas o fato é que não vou discorrer muitas linhas acerca da vida deste homem "que nem sabe que você existe", como disse a minha tia, no dia em que resolvi usar preto durante uma semana, devido a sua morte, mas sim, vou relatar do meu primeiro contato básico com José Saramago enquanto artista (e sempre foi assim, pois nunca ví-o). Sei que ouvi falar dele pela primeira vez quando foi lançado Ensaio Sobre a Cegueira de Fernando Meirelles, e Marcelo Tas, do CQC, dera um entrevista na época a revista PLAYBOY, onde afirmara que Meirelles era um gênio, enquanto que Saramago era um velho ranzinza e gagá (perdoem-me se falo bobagem, mas faz muito tempo que não vejo esta entrevista, e "gagá", não sei bem se foi este o termo, mas sei bem que não foram adjetivos de diferente grau de beleza), daí depois vim ver que ele escrevera a pouco um livro que tive a curiosidade de abrir, e sentir o cheiro, na loja Saraiva, que era A Viagem do Elefante, que me pareceu estranho pacas, este título, "seria isto a narrativa da viagem do elefante até o local onde solitário ele morre?", pensei na hora, lembrando que meu amigo Afonso havia dito isso um tempo destes. Sei que abri-o, e decidi ler até o final do primeiro parágrafo, e vi que o fim daquele parágrafo não chegava de maneira alguma, e eu já estava quase chegando à página cinco, e que já começava a me perder naquele jeito de pontuar as falas, seguidos de vírgulas e letras maiúsculas, que me deixaram confuso, e acabou que desisti da leitura. Pouco depois, quando por culpa de uma epopéia, chamada Crime e Castigo, me habituei a extensas leituras, resolvi ler Ensaio Sobre a Cegueira, pouco tempo após ter ouvido falar do filme, e decidi que só iria assistí-lo quando lido tivesse, o livro. Meu primo não trouxera da biblioteca da sua faculdade o Ensaio que queria, mas serviu como base de leitura, O Ensaio Sobre a Lucidez, que era a continuação da Cegueira, narrando a mesma cidade, que fora acometida dois anos antes pela cegueira branca, agora fazia com que as autoridades sentissem o poder do voto, com uma população inteira votando em branco. Não cheguei a lê-lo por completo, mas sei que a possibilidade de criar um país imaginário, povoou a minha cabeça, nas minhas aspirações literárias, que ainda hoje são fortes, mas cada vez mais conformadas na possibilidade de não existir.

Logo em seguida, fui surpreendido pelo lançamento de um livro chamado Caim, onde o próprio viajava pelo tempo, nas páginas do Velho Testamento. E ora se o velho ranzinza e gagá não era lá um cara tão audacioso. Logo vi algumas entrevistas suas, algumas leituras suas, nos sites de pesquisa, e vi que era um ateu, dono de vigorosos argumentos anti-clericais, e que era um "comunista-libertário", como gostava de se auto-definir, e tinha suas questões filosóficas em relação ao mundo e, conseqüentemente, à humanidade, tal qual tenho. Claro que a minha premissa boba de "Eu odeio o mundo", ou "O mundo é um bolo de merda sem cereja", não são eqüiparáveis aos pensamentos de Saramago, mas sei que um dia chego lá, e para minha surpresa, minha amada, no natal, deu-me o então famoso, talvez o mais famigerado, livro de Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira. Foram quase quarenta e cinco dias de leitura, senão um pouco mais, mas no final das contas, eis que senti um grande apreço, maior que o que já tinha antes pelo velho. Tanto, que um dia destes, comprei para Minha Amada, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, que fora o responsável pelo seu auto-exílio em Lanzarote, arquipélago das Ilhas Canárias, que fica entre Portugal e Espanha, por parte de um conflito de idéias entre o escritor, e os princípios cristãos do país, que é, reconhecidamente, cristão por histórico reconhecimento. Sei que não tive tempo de lê-lo ainda, mas as poucas páginas que pude folhear, sem muito esbravejar, como fora o impacto inicial com o estilo "Saramaguiano", é que o "gajo", puera em folhas, não o Jesus Cristo, santo, deus, todo-poderoso, mas sim um Jesus de Nazaré, humano, com grande poder para com as palvras, que sofreu, morreu e amou. Desmistificou muitas das metáforas bíblicas, no primeiro capítulo, como por exemplo a idéia de virgem Maria, que ficou claro, logo de início. A afronta fora tamanha, que Saramago se refugiou na dita e ilha e lá permaneceu até a morte.



Antes de morrer, Caim, seu último livro provocou ainda um certo frisson por nos conceber ali, mesmo na beira dos noventa anos, um homem de idéias que caminham em linha reta, e não vão se enfraquecendo ao longo da idade, vigor, sim. Com a mesma astúcia de sempre, foi lá e fez o que já era constante na sua obra, tão extensa, que começara já tardiamente, com Terra do Pecado, em 47, só veio voltar a escrever com Levantado do Chão, em 77, coincidiu mesmo com os tempos rancorosos de Salazar, em Portugal, que vivera uma ditadura de caráter fascista, criticou as instituições, e a sua preferida, a Igreja Católica. Soube, por via de sites, que estava ainda a escrever um livro sobre tráfico de armas, mas que ficou pelo caminho, ao passo que morreu, e deixou para nós, seus enormes parágrafos, com diálogos estranhos e situações mais ainda.


Fica aqui, uma lista de livros, que (segundo dizem), são essenciais em sua obra:


  • Levantado do Chão

  • Memorial do Convento

  • O Ano da Morte de Ricardo Reis

  • A Jangada de Pedra (que foi listado para o vestibular da Ufc, mas finjam que eu não disse isso, pois eu não li)

  • História do Cerco de Lisboa

  • O Evangelho Segundo Jesus Cristo (que breve falarei sobre ele)

  • Ensaio Sobre a Cegueira (também, mas quando apresentar-se a hora oportuna)

  • A Caverna

  • As Intermitências da Morte (esta, uma história interessante, sobre o dia em que a morte decide não mais levar ninguém)

  • A Viagem do Elefante

  • Caim

É isso.



Pensando em como vai ser bom ser massacrado pela prova do vestibular amanhã, no quanto falei sobre este troço para a Minha Amada, e no quanto eu estou ficando doente da garganta. Ah, e no quanto eu sou idiota em não ser o que as pessoas querem que eu seja. Mas como o farei, se é tão difícil saber o que querer até de si mesmo? Fica a dúvida. E fica também, a frase que é a dúvida de Saramago, e também a minha: "O que é isto?", Por quê estamos aqui afinal? Para onde vamos e de onde viemos? "Acho que vou morrer sem descobrí-lo". Ora, todos nós, saudoso José. Zé, meu querido Zé.



Eu te amo, meu amor! Troblóvsky, pra você!


(Assistindo aos poucos, pela 45ª vez "Gladiator", na parte em que gritam do Coliseum: "Maximus! Maximus! O Misericordioso!", fico pensando no que o rei deve ter feito com ele...)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Listas, Black Hole Sun, Surrealismo, David Lynch.




Hoje acordei cedo, e liguei a tv. Pus na MTV, e eis que estava passando um MTV Lab Listas. E se há uma coisa que gosto, são as listas. Listas me indignam, e me atormetam, mas também me fazem feliz. Um exemplo? Ora, é péssimo descobrir que seu nome não está numa das listas mais desejadas de quando você tem dezoito anos, que é a lista de aprovados. É felicidade e frustração na mesma proporção. Cinquenta por cento pra cada lado. Listas me emputecem, às vezes não pela falta, mas pelo excesso de coisas. Por exemplo, peguei esses dois livros que dei uma rápida olhadela em cada um. No primeiro, há quem diga que eu sou um escroto, mas o que diabos um cd da Britney Spears diferenciará no meu futuro? E no segundo, o que Pânico está fazendo naquela lista? Poderiam ter posto qualquer outra coisa ali, sinceramente. Mas esses são os críticos. os críticos sabem o que dizem, e podem mandar um artista ás estrelas ou á merda com um simples gostei ou não gostei.


Mas a lista hoje era de clipes surrealistas. Havia um clipe da banda paralela de Thom Yorke, havia um clipe do Nine Inch Nails, que coincidentemente é tema de um filme de David Lynch, do qual vou falar logo em seguida, e veio então o clipe que mais gosto, que é de uma estranheza claustrofóbica. Nojento, imbecil, intrigante, curioso, escroto, medonho, bem bolado. Todos esses são adjetivos dados ao clipe, que ouvi durante as vezes que mostreio-o para alguém.



Black Hole Sun, é uma música muito bonitinha em seu começo, mas que logo em seguida abre espaço para as distorções, as guitarras doentias de Kim Thayil, que saem desafinando tudo na hora mais macabra do clipe, quando os habitantes de uma cidade (que pode ser qualquer cidade estadunidense, com aquelas cercas brancas e pessoas estranhamente felizes e sorridentes) são tragados para dentro do tal "Sol do buraco negro". No clipe vemos coisas que de tão absurdas nos causam três sensações: ou estranheza, divertimento ou nojo. Crianças queimando baratas com lupas, um alquimista (?), gente babaca, babando de frente a uma tv, sorrisos macabros que se abrem de uma maneira assustadora com efeitos especiais de última geração. Toda aquela ditadura da moda, com a mulher se requebrando toda em cima de uma máquina que tem uma cinta enquanto passa um batom (na cara), um dálmata na banheira, crianças se debatendo, bonecas na churrasqueira... Difícil de entender não é. Quer dizer, pelo meu ponto de vista. Vejo mais como uma crítica ao modo de vida dos EUA. Fúteis.



Mas esse surrealismo passa longe de um filminho de quinze minutos do qual acho que muitas pessoas já ouviram falar, que se chama um Cão Andaluz. É um filme francês realizado em uma parceria entre o grande diretor espanhol Luis Buñuel e o grande pintor surrealista Salvador Dali, também espanhol. Ninguém entendeu, para variar. Mas como a função dos artistas do contexto não era fazerem-se entendidos, e sim, mostrar uma nova corrente de pensamento que se difundiu naquelas épocas, com o Modernismo que se estendeu na literatura, nas artes plásticas, e como podemos ver, nas artes visuais também. Essa premissa de querer revolucionar é uma ideia que não sai da cabeça alheia, e um diretor em especial causa impacto na minha cabeça e derrete todos os meus poucos neurônios.




David Lynch, ao contrário do que muitos pensam não é um diretor surrealista propriamente dito. Não tal como foi Buñuel. E sim o cara muito inteligente que quis modificar padrões pré-estabelecidos no tal cinema hollywoodiano. Seu filme Mulholland Drive é uma mostra disso. O filme, que eu demorei três anos para fundar uma ideia que está muito próxima de se desmanchar que vai ser no momento exato em que eu assistí-lo novamente, é m quebra cabeças bizarro e surreal, que tem características já famosas do diretor, que é uma quebra do eixo temático da história. Tal como ele fez anos antes com Lost Highway (que eu não vi, por isso não vou comentar), e faria novamente em 2006 com INLAND EMPIRE (assim mesmo, com letras maiúsculas), que é um filme concebido sem nem ao menos conter um argumento de uma refilmagem de um filme polonês que foi "amaldiçoado" pois os protagonistas se envolveram e foram mortos (falando assim é fácil, mas vai entender o que diabos é aquilo...). Mas essa fixação do diretor já vem desde o seu primeiro filme, Eraserhead, que é um horror pós-industrial que fecha as possibilidades de um entendimento ao menos primário do que o diretor quis dizer, já que o filme não deixa nenhum resíduo de certeza para ao menos fazermos demagogias bobas, do tipo, "Ah,
o filme é uma amostra do quantos estamos esquecendo de viver, do quanto é difícil conviver numa futuro sem perspectivas. Que a única esperança é a vida após a morte, o sossego eterno". O caralho.


No final das contas, o filme não é nenhuma coisa nem outra, senão uma obra de grande impacto visual. O diretor tem mesmo alguns bons filmes, que não o afastam tanto assim de fãs, como eu sou, como o clássicos dos anos oitenta, como, O Homem Elefante (baseado numa história real), Coração Selvagem (que também não assisti, mas sei que ganhou a Palma de Ouro em Cannes) e Veludo Azul, este, onde o saudoso Dennis Hopper (que os vermes o devorem com respeito) maltrata de uma maneira doentia a belíssima Isabela Rosselini. O filme mostra, assim como o clipe Black Hole Sun, o horror por trás das belíssimas cercas de madeira pintadas de branco e dos sorrisos saudosos de quem tem cara de fazer propaganda de leite em pó o tempo inteiro.




Ouvindo Driver 8 - REM, com uma agonia de estar com o dedo enfaixado por causa de uma unha encravada que foi arrancada numa mini-cirurgia. A perna formiga, parece até que estou com elefantíase (Homem Elefante!).

Jane, tu és a coisa mais gostosa deste mundo. Quero arrancar as suas bochechas, à la Hannibal Lecter e comer com ervilhas!


Mentirinha! Amo você.

sábado, 5 de junho de 2010

A ideia vaga

A resposta do nome do blog, para quem não entende, é um trechinho do que escrevi numa noite dessas.

"A ideia vaga... Vaga ainda."

É tudo o que se há de dizer,
diante de um sol de 30 graus,
diante de tudo o que se há de mais belo,
mais imundo, mais escroto,
diante de tudo o que se forma.

Há sempre um olhar compassivo
sobre o desabrochar das flores,
sobre o vento das plantas,
sobre a lama da sarjeta,
sobre a merda na cabeça ou na latrina
ou sobre o bater de moedas no bolso.

É tudo o que digo.
É tudo o que há de se formar,
por toda a beleza,
por toda a decadência,
por todo dadaísmo,
que não há nada a esconder.

Diante disso,
a ideia é vaga,
mas vaga
ainda,
pelos corredores da memória,
pelas salas de espera,
pelos quartos escuros
de qualquer casa,
de qualquer mansão,
de qualquer favela.

A ideia vaga,
cruzando a madrugada,
a tarde ou a noite,

a ideia vaga
ainda quando estamos
a dormir.

Ela vaga,
mas é vaga.

Não há nada
que não se possa adicionar
a qualquer suposição
ou a qualquer sentença.

A ideia vaga...
Vaga ainda.

eap