quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Saturno Demora

O tempo corre facilmente,

Sem pensar nem sentir 

Os percalços do movimento -

Corre, e independe

Do que pensa ou pensamos de si.

Na velocidade com que passa

Rasga nossa pele

E joga em nossos cabelos

As cinzas das horas mortas.


O tempo voa sem bater asa,

Como voam os aviões,

Sempre como um pêndulo

Aproveitando-se das instruções 

Que outros homens, 

Em outro tempo,

Constataram pelo erro.

Qual não foi a engrenagem

Que destravou em mim

A memória de que o nosso tempo

Sempre corre pro fim?


O tempo viaja sem pressa,

Sem mala nem hora pra voltar -

Porque o tempo histórico do homem

Sempre passa mais devagar. 

Quanto tempo o tempo tem?

Quem decidiu que ele o seria?

Por que o sofrimento dura um ano?

E por que é como um raio a alegria?

Quanto tempo eu ainda tenho

Para responder essas perguntas?

Quanto tempo a vida dura?

E quanto vale o que a segura?


Conforme seja: o tempo varia:

Para a criança é a ansiedade da espera,

O dia que passa de hora arrastada;

Para os adultos é uma maratona

que sempre falta um tanto

Para a linha de chegada;

Para o velho, é uma caminhada,

Rumo a saída

que se deseja adiada;

Para o suicida

É uma surpresa esperada.


Mas grosso modo,

O tempo é o senhor das mudanças 

que pode demorar e demora,

Porque o tempo humano é pífio

E é uma página que demora a acabar

Mas ela virá:

Como um dia que, na enchente,

De uma enxurrada levará séculos embora,

Mas até lá, o tempo corre a conta-gotas,

Esperando esse rio que tudo arrasta transbordar.