segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As Diferentes Visões.

- Furei. Furei mesmo. Furaria duas vezes; mil vezes se o puto aparecesse ali, na minha frente, paradinho do jeito que estava. E eu tenho culpa? O cara vem, faz o que faz, vira as costas, como se tudo fosse a coisa mais simples do mundo. Sacanagem. Queria ver você, e você aí, que estão apontando o dedo na minha cara vir dizer que não fariam o mesmo. Ah vá!, o cara xinga tua mãe, que morreu já. Tá com a carne seca já. Debaixo da terra, nem formiga quer saber de entrar pela cara da velha, daí vem ele, chama eu, (eu!), de filho da puta. Puta... Olha isso aí, seu doutor, aí é demais... Puta ela não era. Ganhava dinheiro honestamente, a minha mãe, seu doutor, viu? Lavava pra fora, com toda honestidade, nunca abriu as perna pra seu ninguém, não, doutor. Juro, juro. Daí o sujeito vem, tô aqui, trabalhando honestamente, depois de comer o pão que o diabo amassou no xilidró, encontro o seu Nestor, que abre as porta do estabelecimento na maior pra mim, viu? E o cara vem tirar de valentão pra cima de mim, (de mim!) só porque eu derrubei a sacola dele, daí tinha um bagulho que quebrava, de leve, sabe? Daí vi que era ovo. Pagando de playboy e comendo ovo, o cara? Brincou né? É, é, é... eu também ri, réééé... Daí o cara vai, sem vê nem pra quê, me aponta o dedo na cara, e diz, Cê é um filho da puta, mano. Puta incompetente. Daí vi que o pilantra era do Rio. Já tive lá, sim senhor, muito legal, maior onda, sabe?, mas daí, então, o cara vai, não satisfeito, senta uma bolacha em mim, doutor, (em mim!). Aí, nêgo, pô, sou honesto, mas não sou besta, liga? O senhor agüentava? Não? Pois é, nem eu, doutor. Empurrei o menino, mesmo. Furei ele com a caneta, mas foi só de raiva. Só porque neguin é pobre merece isso não, sabe? E minha mãe, coitada, nem se defender podia, delega... Viu minha mãe em cima de um home? Nem viu. Viu ela, pelo menos? Nem viu... Ela não tem culpa do filho que teve não, seu doutor, o sargento aí deve saber que viver ali não é paraíso, né não? Pois então... Ta aí, o playboy, ouve o que ele disser aí, tô nem aí. Agora perco meu emprego, fico fudidão agora, vô voltar pra rua porque o branquelo azedo, o cagada de urubu vai dizer qualquer coisinha aí. Daí, bonitinho, engravatado e furado, todo cagado de sangue, o ruim vai ser eu. O chefe tava lá, mas o que fazer, né doutor: "O cliente tem sempre razão". Pode ir lá, seu doutor, nem me arrenego. Nã, nã. Vá lá. Onde? Aqui né? Tem água? Sede doida. Dá nem pra tirar as algema não, sargento? Tá bom, vai assim mesmo. - Então, seu delega, cheguei lá, como sempre faço, e o rapaz nunca tinha trabalhado comigo, entendeu? Empacotava pouco e ruim. O cara ensacava o negócio cheio de mal gosto. Olhei pra cara dele, manja? E ele puto, cara feito um bicho pro meu lado. Daí resolvi chiar pra ele, pra ver se me respeitava, pô. Vê se fazia graça de carioca, se liga? Mas o cara ficou foi mais puto. Esse aí, desde o início tava querendo confusão. Olhou pra minha cara e pensou, Esse aí merece que eu enfie uma caneta nele. Ora, seu doutor, olha pra cara dele. Preto, pobre, sujo, deve ser vagabundo. Tem cara de vagabundo, né não? O senhor, tendo experiência com essas coisas, olha pra cara dele, diz: tem, ou não? Olha pra cara dele ali na vidraça, tem o jeito todo de um vagabundo não, ele? Porra, a gente saca logo vagabundo pelo andado, doutor. Meu advogado aqui, Doutor Traumaturgo, sabe disso. Antes, era defensor público, eu que tirei ele da merda. Ele sabe como é o negócio. Daí vem com aquele jeito de pobre decente. Qual o que! Tá aqui o decente no meu braço. Se eu não desvio furava meu peito o puto. Se eu xinguei a mãe dele? Xinguei não, senhor. Da onde? Olhe bem pra mim, seu doutor, sou moço sério, direito, faço faculdade. Aqui ó: Estudo Educação Física. Se dá muita gata? Pô dá demais, cara. Te juro. Cada uma, delega, cada uma!, rá rá rá! Pois sim, voltar, né? Ofícios, ré ré ré. Pois, xinguei não, senhor. O rapaz foi que soltou um palavrão aí eu disse, sim, Porra, mas que ovo filho da puta. Ovo, sim. Ele nem ouviu... Mas o gerente ouviu, conhecido meu, parceiro, ele. Tava lá no caixa. Poxa, doutor, ovo é bom, gemada, dá um gás, sabe? Meu pai já deve vir aí, mas acho que nem precisa. Sabe aquela rede de supermercados? Então. É! É ele, rá rá rá! O ataque, né? Foi assim, ele me xingou, me empurrou, entendeu? Daí eu tive que revidar doutor. Dei uma bifa nele de leve, tipo assim, vem aqui Doutor Traumaturgo, assim, ó. Tá aí, doeu, doutor?, então, foi desse jeito. Se bem que na hora do desespero, nem dá pra saber realmente como foi né? Então... Daí fode, né? Perdão o palavrão. Mas sim doutor, quê mais? Tô liberado? Ôpa, pois boa tarde pro senhor, viu? Mando um frangão daqueles pro senhor, viu? Que é isso! Precisando ó. Ah, claro, pode deixar, dou o toque lá das periguetes do senhor, mas vamo malhar, né? Tchau doutor, lembranças. - Sei de nada não, senhor. Quando eu vi a cagada já estava feita. O rapaz, moço decente, com a mão no braço, aquele monte de sangue sujando o balcão, os clientes correndo, gritando, gente assustada, e o meu funcionário, aliás, ex, talvez, ali, atracado com o homem. Ah, ele sempre foi esquentadinho mesmo. Eu contratei ele porque conheço desde pequeno. Sou padrinho dele, né? Daí o senhor sabe: a gente tem que dar uma chance pra esse povo, né? Foi pra prisão, fez coisa errada, andou fazendo o que não devia... Mas o que se há de fazer? O mundo é isso mesmo, a gente se surpreende com as pessoas. Achei que tudo dava certo, que tudo ia bem, mas aí ele me apronta uma dessas, rapaz. Tenho pena dele, porque a gente faz o que pode, né? Agora vai lá agride o cliente, assusta todo mundo... E eu que dei oportunidade a ele, né doutor. É osso... Mas que fazer, a vida é cruel, ingrata por si só. Ele dava nojo de ver doutor, deixava de ir pro colégio, todo mundo via, eu via, os vizinhos, pra ficar se acompanhando com quem não presta. Eu ia fazer o quê? Sou padrinho, não sou pai! Podia pegar ele pelo braço, mas cada um que cuide dos seus, né não? A gente tem que se cuidar, doutor. O rapaz? o rapaz me parece ser moço direito. Estava comprando umas coisas lá, suporte energético, eu vi. Como? Ah sim, eu vi depois, nem estava perto, vi depois, quando as sacolas estavam no chão, entendeu? Pois é. Se eu tivesse perto lá tinha deixado isso acontecer doutor? Sou cidadão direito. Pois é. Ah não era suporte energético? Era ovo? Mentira... Pra você ver né doutor, como as coisas são. Um carrão daqueles e comendo ovo! Rá rá rá, ai, ai... Pois então, eu só sei que o senhor é quem sabe, doutor. Dei meu parecer. Vi pouco e pouco posso dizer. Disseram que eu estava perto, mas nem estava. Estava na gerência, todo mundo viu que eu saí de lá correndo. Eles disseram foi? Mas eu não estava não, estava não. Pois é. Que vai acontecer com o rapaz? Vai ser preso? Pois é, né? É a vida doutor, é a vida. Pois bem, obrigado viu, seu doutor, até a vista. Queira Deus que não nos vejamos mais, né? Ré ré ré. Aqui ó, só pra garantir que não vou precisar mesmo. Ora, aquele adiantamento aí, né doutor. "Pra rir, tem que fazer rir", né não? Chegue lá depois pra gente tomar aquela cerveja gelada, viu? Então. Tchau doutor, tchau capitão. Recomendo Tropa de Elite 2 para todo mundo. Visão política que o outro tivera em menores proporções, Violência, sociologia explícita. Perturbador, inquietante. De certeza o melhor filme deste ano, no âmbito nacional. Sumido em decorrência das obrigações; Minha morena, eu te amo: dias e dias se somam, e isto é tudo mais que se pode dizer.

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