segunda-feira, 12 de março de 2012

Pergunte ao Pó - Trechos

John Fante - escritor de Pergunte ao Pó.
Influenciou, entre outros, os escritores
da geração beat e Charles Bukowski
   Pergunte ao Pó é o livro mais famoso do ítalo-americano John Fante, que narra as desventuras no outro lado do american way of life de Arturo Bandini, o alter-ego de John Fante.

   A edição que li foi traduzida pelo sensacional Paulo Leminski, e, tal qual ele, pude experimentar a sensação boa de folhear as poucas páginas deste livro que nos diverte e nos mostra uma literatura feita com cuidados de um fã de Joyce, com um humor afiado, uma linguagem poética e uma história que nos mostra o outro lado da sociedade.

   Enfim, o livro explora a simplicidade desse cotidiano bobo, as mesquinhices, as contas a pagar no fim do mês, os rostos conhecidos e desconhecidos. A bobagem que chamamos viver, enfim.

***

  "Lá vai você por Bunker Hill, e você levanta o punho contra o céu, e eu seu o que você está pensando, Bandini. Os pensamentos de seu pai antes de você, chicote nas tuas costas, fogo em seu crânio, a culpa não é sua: este é o seu pensamento, que você nasceu pobre, filho de camponeses na miséria, pra lá e pra cá porque vocês eram pobres, fugidos da sua cidade no Colorado porque vocês eram pobres, tropeçando pelos esgotos de Los Angeles porque você é pobre, esperando escrever um livro pra ficar rico, porque aqueles que odeiam você lá no Colorado não vão odiar você se você escrever um livro. Você é um covarde, Bandini, um traidor da sua alma, um frágil mentiroso diante do seu Cristo em lágrimas. É por isso que você escreve, é por isso que seria melhor se você morresse."
[Pg. 26]


   "(...) Uma oração. Claro, uma oração: por razões sentimentais. Deus todo-poderoso, lamento que agora eu seja ateu, mas o Senhor já leu Nietzsche? Ah, que livro! (...)"
[Pg. 29]


   "Eu os tenho visto sair cambaleando de seus palácios de cinema, piscando os olhos vazios por ter de encarar a realidade de novo, cambaleando para casa, indo ler o Times para ver o que se passa no mundo. Eu tenho vomitado em seus jornais, lido sua literatura, observado seus hábitos, comido sua comida, desejado suas mulheres, bocejado diante de sua arte. Mas eu sou pobre e meu sobrenome termina com uma vogal e eles odeiam a mim e a meu pai, e ao pai do meu pai, e eles gostariam de ver meu sangue escorrer, mas eles estão velhos agora, morrendo no sol e no pó quente da estrada, e eu sou jovem e cheio de esperanças e amor por minha terra e meu tempo, e quando chamo você de sebosa não é meu coração que fala, mas a boca de uma ferida antiga, e eu estou morrendo de vergonha pela coisa horrível que fiz."
[Pg. 53]

   "-- A gente aprende a nadarem águas calmas"
[Pg. 70]

   "Que proveito tem um homem se ganha o mundo todo e sofre a perda de sua própria alma?"
[Pg. 108]

---FANTE, John. Pergunte ao Pó (Ask the Dust).
Editora Brasiliense.SÃ PAULO. 3ª ed. 1987.
Trad. Paulo Leminski.

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