sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ensaio sobre escorpião I


que há demais em se mostrar pequena parte do meu todo? quando de repente notar, já terei partido numa bela bad trip, que há de me tragar, estrada adentro, sem sentido. quando eu for poeta, aí sim, eu poderei me dar por inteiro a tudo, mas enquanto não, eu vou me doando à conta-gotas, cuidando de ser ator de mim mesmo, cuidando de lapidar minha pele, meus dedos, minha voz, meus sentires e cantares. eu todo moldado na mentira que criei pra mim – mas mentira de poeta é arte, entretanto ainda não sou o poeta que almejo, nunca fui nem nunca serei – sou só a parte que me resta do meu próprio latifúndio, arando a mim mesmo a terra seca, descampando meu peito, descampada a minha história, meus retratos, porta retratos. tudo o que eu construí. eu vou fechar esta porta, eu vou trancá-la, vou passar a chave. nada entra, nada sai, eu estarei longe de tudo, mas perto de qualquer coisa. poderia até complicar mais, talvez abraçar alguém, confundir o nexo, retroceder dois passos, sorrir, dizer que sim, que não, que sim-e-não, e então sair de encontro ao acaso. eu encontro lá o ombro, o cheiro, os lábios semicerrados à minha espera, toco-os com os dedos e ganho tanto quanto perco, me refestelo no meu próprio cansaço, sorridente, e o cigarro sempre acaba quando mais se necessita, o copo sempre esvazia. o resto é consequência.

eap

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