segunda-feira, 18 de agosto de 2014

ao carlos

eu teria tanto a preencher em papéis desamassados
se não houvesse o rascunho imaculado
pela minha vontade de nunca mais mexer naquilo,
de deixar qual marca minha de perfeição - que não existe.

já foi dito que luta vã é esta com as palavras,
e que verdade, que verdade até triste.
mas nunca me encontrei com outra função em vida
(nem em morte)
que batalhar contra elas, mesmo que na vida seja de uma covardia...

[nádia um dia levou-te poemas meus, grudou assim um esparadrapo
nas tuas mãos - espero que ao menos teu espectro seja ou esteja pairando
se bem que não sou dado a acreditar que fosses assim de tanta atenção]

olha-se assim pela casca, cara fechada, até que ríspido,
porém mole, mole, mole. à noite essas feições são nítidas,
pintadas com uma máscara da máscara de carência de abraços
e mãos dadas, muitas mãos - eu queria me desgrudar de tua presença

mas, tem-me sido tão difícil, carlos, ainda mais agora, que te sei
um tanto mais - e já enche-me a paciência, tanto falarem nas tuas pedras
nos teus caminhos - se me souberem querido de teus versos
e somente deles - como dói sê-los às vezes, sozinho na américa,
num quarto, em qualquer lugar...

a bruxa segura está atrás de mim, onde quer que eu ande,
vela meu sono, senta à mesa e mastiga ruidosamente em seu silêncio,
e mastiga e rumina muito a morte em sua boca banguela.

quando amanhece, já não sei se quero tanto ser carlos,
se quer ser uma vaca qualquer no campo, um gato preguiçoso,
um móvel que apoie minha história - tão vasta em vazios.

 uma mesa, e nessa mesa, teu rosto, em preto e branco, mineirinho,
eu, já de nordeste cheio, não me encontro, em não ser forte,
me aperreio com a vontade de não aperrear-me em ser estigma...
um estrangeiro, de país nenhum, de língua alguma, onde se falam silêncios.

acabrunhado pela natureza própria, ô, carlos, eu sinto que lutar
é realmente vão, mas, se pelo menos eu ergo o punho,
já me sacro vencedor de tanta vida.

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