quinta-feira, 2 de novembro de 2017

soul II

tenho uma dor que não cessa
por mais que eu negue
e entregue
o melhor de mim
em tudo o que faça

tudo parece errado
terrivelmente errado
e quanto mais faço
mais desfaço
o que outrora refiz em traços

porque a palavra não é sempre minha
é sempre de outro lugar
pois que uma vez sendo
nunca mais teria razão de ser
e é por essa razão de ser e não ser
que ela rasga minha garganta
e toma as vezes
de um nó
que se desata
toda vez
que eu refaço
o que eu não consigo desfazer

revejo meus erros
e acertos
e acerto
como um erro
previamente calculado
para ser assim:
espelho sujo
espelho sujo
onde não tenho rosto
apenas reflexo
do que sou
sujo, sujo e sujo.

quanto tempo faz que na minha pele
sinto o odor do tempo
e temo
que nada disso seja físico
e sim
uma dor que não cessa
e se transmuta
em forma de monstro
que agarra meus cabelos
e aperta meus pulmões
toda vez que trago
para mim
o erro

errar é humano
mas
que humano erra
sem uma vez
ter tido a intenção de acertar.

errar é humano
mas me sinto bicho
e como bicho
não posso errar
como bicho
não posso me aceitar
errado

é por isso
que me desfaço

dos espelhos de banheiro,
dos retrovisores,
gumes
e câmeras
para fazer uma redoma de vidro
por onde talvez
todos possam me enxergar por dentro

como realmente soul.

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