terça-feira, 16 de julho de 2019

pixo

isso, de se escrever na parede das coisas,
ainda vai dar pano pra manga,
vai ser folha pras histórias
e ainda vai ocupar os espaços
de todas as memórias.

isso de ser
mancha preta em muro branco,
de levantar teu olhar pra cada canto,
onde a cidade se subverte em alento
é herança djalgum banto
perdido de nossa veia em algum momento.

isso de ser
mancha vermelha em roupa de varal,
na calada da noite tingida,
por coturno e boina cinza,
inda vai ser odiosa manchete de jornal,
nas calçadas de casas e lajes distintas.

mas é nas calçadas e nos céus de fios de poste
com vozes agudas que não podem fugir
abafadas em cigarro
e afogadas em café forte,
que eu vejo todo dia essa tinta emergir.

e eu, que já cansei de caiar esses muros
cansei também de esperar
e deixo o pixo do muro,
que é pela voz deles que a cidade vai falar.

1 comentários:

Carol Russo S disse...

O pixo no muro reflete o sangue que nosso coração bombeia.
É forte e denso e intenso e triste.
No fim... Tem muita parede branca por aí. Deixa a alma desabafar.

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