quinta-feira, 21 de março de 2013

levante adentro


como um arquiteto vou construindo meus blocos de palavras.
mas, como um arquiteto, as seleciono, minucioso, cuidadoso
comedindo as virgulas encaixadas a meio palmo do vácuo que precede a desordem
que precede o tenso silêncio intercalado por uma tríade de reticências.

mas arquiteto a palavra com a pobreza e humildade de meu vocabulário,
mvito pomposidades, sinuosos neologismos – sou mais um mortal, pobre.
pobre arquiteto, repito, infinitamente, os mesmos tijolos, um sobre o outro
a fim de que possa saber até que ponto posso organizá-las, sem pressa.

por isso não jugueis meu silêncio de agora
e de depois,
vou calcar sempre na mesma lógica sinuosa de um artesão das garrafas de areia:
em que pincelada a pincelada vai tecendo a paisagem, destoando as cores
destilando melindres de sua arquitetura particular,
em ser um pouco deus, na refazenda do mundo que se põe em suas mãos.

como um arquiteto eu construo nas palavras
as minhas ordens desordenadas, meu caos.
pai, mãe, irmão, amante. todas essas coisas de que nunca serei capaz de sê-las por perfeita e completa coesão – eu não existo por trás do papel,
sou apenas aquele que nasceu para platonismo incipiente,
obra inacabada, imperfeita, infiel ao próprio saber-se,
e é nas palavras que busco me construir,
nunca neguei esta busca, esta matemática humana de escavacar a alma;
delego-me três tijolos de sentimentos brandos
e mais um ou dois de pura maldade inocente (nem todo mal é todo mau),
que distrai o próximo passo.

[melhor seria que eu nunca tivesse descoberto, praguejo, estas verdades minhas
as verdades minhas próprias de sabe-se lá o quê.
peço desculpas – e tenho pedido tantas desculpas...
tenho deslizado pelas calçadas, pelas sarjetas sem nunca ter sonhado fazê-lo...
desculpem-me este tijolo em falso]

como um arquiteto eu me construo em versos
e até quando?, eu não saberei. por que não tomas da caneta
e continuas por mim, enquanto observo?

eap

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