terça-feira, 19 de agosto de 2014

nem tanto

para r.n., porque o tempo passa
14/04/2013

foste a causa mais provável das pontas de cigarro
abandonadas no cinzeiro...
foste, quiçá a causa de umas três ou quatro horas perdidas
de um devaneio sexual, no qual me perdia brandamente.
foste também este obscuro objeto de desejo
com o qual descasquei algumas lasquinhas da superfície franjosa;
foste tão superficial quanto se supunha a casca.
dei-me dando a volta nos trezentos e sessenta graus
de um erro previsto, evitável,
mas, ah!, esse coração: afoito pela loucura,
pelo sofrimento de um amor louco e profundo,
que me agarre pela nuca e puxe os cabelos
e que no retorno, beije brandamente os lábios
que se supunham secos.

cê me soube
destas facetas,

(guardou num canto
escuro
muitas verdades minhas
sobre seus olhos --
tinha razão no não encarar)

te disse um dia da minha teoria
de que as pessoas são pontes.
achei, à curto prazo,
duas tábuas da ponte que me foste;
teu sexo, teu desnexo,
a ponte do encontro,
do que me fez 'homem'

[o homem que todos almejam
mas que provável
precisará d'outra mãozada na cara
para levantar e reagir,
e correr, e ganhar o mundo]

foste a causa do meu silêncio de ouro
e isso é tudo o que eu sei agora.
e eu te soube
pelas palavras.
mas ainda assim,
foste acausa mais provável
deste último seu poema,
nem tanto de coração partido,
nem tanto de saudade,
nem tanto de desejo,
nem tanto.

1 comentários:

Unknown disse...

as coisas que tu escreve são muito bonitas!

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