sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Obsessão - reedição

Quando eu lhe disse, Quero dela um absorvente, ela largou a vassoura no chão, e acertou a minha cara com força. Por um momento senti raiva, pensei mesmo em perguntar, Que houve sua puta, tá doida, porra?, mas depois achei compreensível, e diria mais, tolerável, a sua reação. Ora, imaginei de repente, o que não faria eu, caso ela chegasse para mim, e pedisse uma... O que seria tão pessoal quanto um absorvente e ao mesmo tempo, causasse tanto nojo como nela causou. Ela, a zeladora do escritório, sempre fora uma pessoa amável até então, mas deste dia em diante, evitava mesmo me olhar. Fiquei chateado, mas não pude deixar de concordar com ela: Desta vez havia ido longe demais. Mas o fato é que não conseguia tirar de minha cabeça uma maneira de me sentir mais íntimo daquela estagiária da repartição. Mas, eu, que não passo de um cobrador de telemarketing, no máximo, para enfeitar, aprendi num filme, Operador de Fotocopiadora da própria empresa, um burro, miserável, que mal tem o ginásio completo, jamais teria a oportunidade de lhe dar um beijo ao menos, quem dirá, chegar próximo de sua calcinha, onde, obviamente, estaria mais perto de sua vagina, lugar onde ocasionalmente eu gostaria de chegar, logo dela, que era letrada, de gente grã-fina. Mas levei comigo deste episódio a lição de que as coisas não devem seguir então este caminho tão rápido, tão afoito.

De qualquer maneira, deixei de lado a zeladora, que dela era tão amiga, e voltei a me concentrar no seu passar. Ela sequer me olhava, mas eu seria capaz de adivinhar dela uma miligrama a mais de pó de arroz que ela pusesse em seu rosto, de longe adivinharia, inclusive, como foi o caso, os dias de sua mentruação.

Houve um dia que tomei coragem, respirei fundo na minha bobinha, e superei até mesmo minhas crises de asma neste dia, fui até a máquina de xerox, e lhe dirigi o melhor, Bom dia que pude dar. Ela me olhou de soslaio, depois para cima, sem mover o pescoço, e em seguida, balançou a cabeça soltando uma baforada que entendi como enfado.

Neste dia, ela estava visualmente diferente, e seu humor também, pois inquietante estava sobre a cadeira, e aí foi que percebi que estava menstruada, pois ela usava uma calça apertada, e com a qual pude perceber pelo volume que fez em seu ventre, o tal absorvente.

Fora o detalhe que freqüentemente ia ao banheiro, creio que para trocar o dito cujo. Deduzi que ela tivesse grande fluxo de sangue a sair por entre suas pernas, mas pensei, Ora, tudo bem, toda mulher menstrua. Mas o fato é que se me pedisse agora para descrever seu rosto, eu não conseguiria, daquele dia em diante, deixei de lado a facinação que sentia por ela em si, rosto, bunda, peitos, qual o quê!, e passei a prestar atenção no volume do seu ventre, que aumentava conforme chegávamos mais ou menos no dia dezessete de cada mês, raramente passava disto. E para mim, que já tive mulheres em minha cama de toda maneira, achava um mistério elas sentirem nojo de seu próprio sangue. Elas achavam um absurdo que eu quisesse trepar com elas Naqueles dias, ou, Neste estado.

Mas o fato é o que mistério que me envolveu por estes dias a vagina da estagiária, me deixou comovido a ponto de me pegar chorando pelos cantos da casa por não poder apalpá-la. Meus amigos riam de mim, e achavam que tudo devia-se ao meu bom humor habitual. Mas desesperado eu estava.

- Vai tomar no cu, Aurélio. Como é que tu, homem feito fica chorando por mulher. Logo tu, o papão das meninas, o comilão, o patuazão daquele escritório? Cria vergonha, seu arrombado.

- Não é ela, Fred. É o absorvente dela. É o mais próximo que eu vou chegar da xoxota dela, manja? A mina é toda grã-fina, toda cheia de não-me-toques...

- Caralho, tu é nojento meu irmão. Vá se foder, viu... Tocar uma bronha não adianta pra esquecer essa nojeira?

- Não, eu não consigo, e desatei a chorar em cima da mesa; Fred me levantou pela gola da camisa e me deu uma bifa, mandou que eu tomasse vergonha na cara, e me disse,

- Homem que é homem não chora por isso não, porra! Vai te lavar, seu merda! Emporcalha todo o tira-gosto, o puto! O Fred não entenderia. É casado. Pra ele, tanto fazia a esposa dele, a Lídia, estar menstruada ou não. Todo dia era dia de trepar com ela e com outras. E ela, uma ninfomaníaca do caralho, não negava fogo nunca.

Fred era um homem de sorte.

Foi no outro dia seguido de uma bebedeira que pedi para a zeladora me conseguir um absorvente dela. A mulher se sentiu ofendida, e conforme disse, deixei para lá, mas não de todo, pois cinco minutos depois eu já estava atrás dela novamente a pedir que ela conseguisse o tal. Ela se deu por quase vencida e me perguntou então, O que é que tu vai fazer com uma porra de absorvente, Aurélio?, lhe respondi que sinceramente eu não sabia, mas o fato é que se ela não o conseguisse eu iria ter que invadir o banheiro feminino e perderia o emprego por culpa dela. Ela se irritou comigo, mas enfim disse que Sim, porra, contanto que eu a deixasse em paz e não lhe dirigisse mais a palavra. Fiz uma cena, lhe disse que aí seria demais, mas acabou que ela disse que iria ver. Mas eu deixaria de falar com ela sem problemas, se para isso fosse necessário ter em mãos o que eu tanto queria.

No dia seguinte, uma terça-feira, era quinze. Eu não aguentava mais esperar pelo dia dezessete, e quando a quarta-feira chegou, era dezesseis, achei que fosse o dia, pois ela estava freqüentemente indo ao banheiro, voltava com uma cara de nojo, passava o braço na boca, e de minuto em minuto ia novamente ao banheiro, fazia a mesma cara, e antes mesmo que pudesse chegar ao meio do escritório, voltava para o banheiro.

Perguntei a zeladora se já não teria chegado o dia, mas ela fez que não com a cabeça e disse que nem sinal de absorvente nas lixeiras do banheiro. Eu já roía todas as unhas, quando finalmente chegava o dia dezessete, e eu já não dormia mais, pensando na possibilidade de no dia seguinte ter o seu absorvente em mãos, com o sangue de seu útero, ali, pertinho de mim, onde teria encostado sua calcinha, e claro, sua vagina, saberia mesmo se ela tivesse pêlos sobrepostos, pois neles sempre ficam os pêlos do pubis, ou se ela os raspava. Eu sinceramente não sabia o que fazer: se cheirava, se o lambia, comia, se punha nos olhos, se lavaria meu rosto nele, ou guardaria de souvenir numa gaveta de minha casa... Mas então foi que todos reunidos na repartição, a comemorar, todos os funcionários batendo palmas, dando-lhes as mãos e os parabéns e o chefe de braço dado com ela, a estagiária, que estava com um sorriso amarelo.

A zeladora na porta, e eu perguntei, O que houve? Ela menstruou?, não sei em que ordem estas perguntas vieram, mas o fato é que ela me deu a resposta de ambas as perguntas em uma única frase que me soou mais dolorosa que uma facada no peito, tal qual senti no fim do expediente, quando de tanto pensar na notícia que ela me disse abraçada com a vassoura,

- Ela está grávida.

(Uma homenagem descarada a Rubem Fonseca, por seu Secreções, Excreções e Desatinos. )

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