segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um Conto Cômico do Destino


Foi na cigana: hmm... Seguinte, puxou a carta e foi logo dizendo que coisa de ruim iria acontecer para a mulher que ele ama. A carta era aquela: uma morte que vem a cavalo de galope, como disse o poeta, sobre o corpo morto de lágrimas copiosas de duas crianças e um bispo -- um bispo? -- clamando alguma coisa à morte que veio à cavalo -- um cavalo negro. Era alguém que ele amava, disse puxando a carta seguinte. Estremeceu dos pés à cabeça, cheio de pavor. Levantou-se, pagou e foi para casa. Ao chegar lá, sua esposa chorava abundantes lágrimas a descrever-lhe o resultado de um exame que trouxera a tiracolo dentro de um envelope. Era um câncer que lhe moía por dentro, apodrecendo-a. Ele não pôde acreditar no que ouvia, e abraçou-a, pensando no que poderia fazer. Olhou pela janela, viu o carro, único objeto de valor à curto prazo. Vendeu-o por menos do que valia em dois tempos. Pagou a melhor clínica da cidade para tratá-la, sobrando ainda alguma miséria, que pagou num alazão que seu pai vendera, advertindo que era um ótimo animal, perfeito às corridas, mas entretanto, era arredio -- lembrou-se inclusive que Pluto (esse era o nome do cavalo) só era sereno à montagem dele, pobre dele. E levou o bichano para casa resignado à um sofrimento mudo e surdo. No espelho os olhos do cavalo lho encaravam e ele quase que sorria, poderia ressarcir o dinheiro perdido, quem sabe. Foi então que soube da melhora de sua esposa, e felicitou-se por tanto.

Passado um mês, correu à cigana, que puxou novamente a carta da morte. O cavaleiro sobre o alazão preto olhava ameaçadoramente. Pensou que diabo era isso e redarguiu dizendo que salvara sua esposa. Olhou em volta e saiu, confuso. Seu pai saíra e deixara o cavalo sozinho na porta da cigana. Montou sobre ele e saiu à trotes largos e pesados até a sua casa, no meio do trânsito que era de seis da noite. Viu o médico que tratara sua esposa sobre ela completamente nu, passou até a cozinha, tomou de uma faca, e esfaqueou os dois até não poder mais e matou também a cigana.

E,a,p'

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