quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

estrangeiro nativo

eu não sou deste país,
eu sou cidadão do mundo,
eu sou cidadão do fundo
de um quarto escuro.

eu não sou empregado de ninguém,
eu não sirvo a mestre nenhum,
eu crio os meus castelos e moinhos
e com meu escudeiro, vou além,
vou pra lugar algum.

eu não falo português,
eu falo outra língua,
não adianta me imitar
nem tentar fazer rima,
eu sou latino americano,
tenho sangue quente,
não tenho eira nem beira,
mas sigo contente,
e toda vez que me acusam
eu chamo toda a gente,
pra bater, pra te xingar,
quem sabe até te esmurrar
e fazer careta,
ocupar uma rua
ou uma cidade inteira.

eu canto samba de raiz
mas curto rock n' roll,
não faço questão de ir a igreja
e faço dos versos o meu show,
não toco violão, não tenho oração,
mas guardo sempre a boa intenção
de fazer valer o que eu sou.

eu não sou brasileiro, eu sou cearense,
sou de fortaleza, do itaperi,
que é lugar de gente,
eu sou dessa rua, eu sou desta casa,
eu sou minha família,
eu sou minha asa,
não tenho eira nem beira,
mas faço como ninguém
um café e puxo uma cadeira
pra conversar dessa situação,
desse nosso sofrimento, desse novo apagão,
eu falo dessas coisas e não digo nada
durmo tranquilo quando não faço amor de madrugada.

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