quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

um conselho ao poeta romântico

o poeta baixo é grande
quando fala por uma mulher
o poeta, eu acho,
não está interessado no que ela quer.

o poeta fala, versa a mulher amada
odes e sonetos sobre a mulher invisível
sobre a mulher sonhada
sobre a mulher impossível

a mulher sem pêlos,
a mulher sem cor,
a mulher sem anseios,
a mulher sem amor.

é fácil matar o poeta,
se uma mulher começar a falar
é fácil enforcar um poeta
se ela começa, ela mesma a versar.

o poeta instituição, histórico,
o poema indiscreto de coxas e seios
de boca, de lábios, de desejo irrisório
de quem a mulher não nutre desejos.

imagine a mulher que fala do falo,
da frustração do homem mediano
imagine a poetisa que diz não me calo
a uma versão minha que não amo.

imagine você, que a poesia é feminina
que o poeta cria seu verso infantil
crescendo nesse substantivo que culmina
nas criações de uma mente indiscutivelmente viril.

o poeta tem que mudar sua poesia,
o poeta tem que ouvir uma, toda mulher
saber que seu horizonte se amplia
a medida que fora do corpo se constrói o que se quer.

respeite o corpo que versa, pense nisso!
é mais fácil que descrever o impossível
e se matar aos 27 por ter sido omisso
ao pouco que se preze do que é crível.

este mesmo poeta, se revisitado, tem suas falhas
é impossível não ter sido um erro antes deste fato:
pensar fora do corpo feminino e das suas saias
e deixar essa masculinidade velha e aborrecida no passado.

pense nisso, poeta; pense com carinho!
vamos criar novas crianças com um amplo horizonte
e fazer dessa geração um exemplo, um caminho
para ir mais além do que fomos, para ir cada vez mais longe.

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