quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Não Estou Lá

A praia quis encostar no continente, meio em ondas, meio em turvas pancadas com que acerta a pedra. A pedra sequer sente a tal, mas um homem se esquiva enquanto ela chega, vem, bate, explode, se distancia, se espalha no ar e em seguida não é mais que arco-íris. Tudo isto vem, acontece, acaba, acontece, e acaba novamente, como é que não se pode aperceber-se de tanta beleza?


Alguém cutuca com um dedo frio minhas costas e eu me assusto por segundo de minha observação. Pobre mocinha das flores vermelhas. A flor na cestinha de madeira, seu rosto magro, moreno do sol castigante que do mar reflete - eu lembro que certa manhã eu fugi da aula para ver o mar, e naquele dia o mar refletiu a luz do sol com a força de um espelho. Parecia mais verde, mais ao fundo, mais azul, parecia querer se agarrar ao céu e a ele se juntar, se aglomerar, se misturar, ser um só, coisa mesma, nada além de uma mesma coisa que se estende longa e vai se distanciando.


O sol, falando nele, por vezes, reflete o corpo negro e retinto de um homem que insiste em pular na água. Desconhece talvez o perigo de cair n'água de cabeça e tchibum!, ir fundo, ser absorvido seu impacto, seu peso, misturar-se, como o sol, sua cor, sua pele, sua beleza, seus músculos. Ele sobe e recomeça novamente seu movimento, como a onda do mar que repete a sua fantástica explosão, que de água raivosa, espumante, barulhenta, que pode te afogar, se transforma no que é, um amontoado de cores, de reflexos, de luz e espumas que ficam assim, a pairar no ar uns instantes, molham e somem. O homem talvez não pense nisso. Ele quer é mergulhar, exibir seus músculos, cair, levantar, cair de novo. A pedra ao fundo talvez seja mais funda que sua cabeça possa ir.


A menina das rosas me oferece uma. Na verdade, moça não, um dia foi, eu quase a vejo, no mesmo lugar, a cestinha, o olhar pedinte, o sorriso feliz, não sei como. Eu espero um bom instante e não agüento, quero ir, mas ela não, parece que não espera o tempo de ir para sua casa, se tem, se não faz parte deste lugar, se não é parte habitante desta ponte a quem chamam, não sei por que, Ponte dos Ingleses, Metálica - se é feita de madeira, por vezes balouçante, é bem verdade. Deveria ser a ponte das rosas, da moça das rosas, deveria ter seu nome.


Hiperbolismo à parte, esta ponte tem mais histórias à contar por meus amigos que por mim, que passo aqui, vagueando só, sem destino certo, apenas apreciando o silêncio de alguns lugares, onde se possa usufruir uma boa dose de paz, onde agora nem se encontra mais. Vou apenas achando isto, enquanto as pessoas que se encontram, as que fazem barulho, vão se aglomerando, vão pondo seus flashes à mostra e rindo seus sorrisos. Já é hora de partir. A lua vai alta no céu a me acompanhar e antes de volver em meus calcanhares, ainda observo a lua que perto do mar joga seus cabelos, que, dizem os marítimos de Jorge Amado em Mar Morto, são os cabelos de Iemanjá, de Janaína. Lá, no alto, tão maior que cá na cidade, do meio do caos - que é uma lua medrosa, se escondendo por trás das palhas de coqueiros, dos prédios, das casas, e nunca dá as caras, com medo de se acinzentar, logo ela, tão prateada.

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