segunda-feira, 9 de março de 2015

exílio 1

nascido pela primeira vez e sem culpa em maternidade e cartório
avalie você em cartomantes — com certeza já fui fraco.
pensando tão somente nessa lástima que me acompanha desde a placenta
e contudo não continua nem alimenta — deixa que eu morra quieto,
dormindo, passando a mão em meu próprio rosto,
supondo ferida aberta e pus, como bom sommelier interrogo,
o dedo no sangue, na ferida aberta, o dedo na língua,
“é sangue ruim, saga vencida, elemento ordinário, morte morrida”
por enquanto a vida não corre — quem corre pelo tempo somos nós,
ele não passa, nós passamos por ele — kronos o gigante a quem
passamos 50, 60 anos a escalar, para ser engolido pelos dentes podres
de sua boca imunda, mas que não diferencia sabores ou intervenções
indigestas ao seu organismo — pai de toda galáxia, saturno, dor elevada
se o tempo não morre nem corre, ao menos se alimenta
do que outrora foi vida — enquanto viva, suga, com a boca entreaberta, o sono,
o sonho de mil homens por segundo.
estudar a forma da dor, do complexo dedo com que gira a caldeira do milênio —
terminando o sabor pela guerra e sangue quente a chumbo e loucura,
prato do dia, chá de saudades, conformidade, mas de sobremesa a morte quem serve
o melhor café que se possa ambientar a entrelinha.

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