quarta-feira, 20 de abril de 2011

Wong Kar-Wai



Há, de certo, lugar reservado àqueles distintos homens sensíveis.
Poetas, diria.Mas aqui vemos Wong Kar-Wai, dono de uma linguagem cinematográfica que muito comove mesmo quem não é dado a gostar de sentimentalismos, romances, tocar na ferida aberta chamada amor, que Kar-Wai sabe tocar de jeito, com jeito e em cheio, causando as dores mais profundas, mais horríveis, deixando o espectador diante da tela, de todo, desarmado.
Já disse e continuo a repetir a quem quer que ouça que sou fã de carteirinha de belas fotografias, elas resumem todo o sentimento incapaz de ser expresso em palavras, em imagens, em bons atores, etc.. Aí Wong sabe cativar, sabe moldar a seu gosto os olhos dos que assistem à sua visão de mundo, deixando abobalhado de tanto entretenimento unido à uma arte pouco antes vista, que é esse seu cinema.

Dos filmes que mais gosto e que melhor explica todo esse palavrório, cito dois:


Felizes Juntos (Happy Together), que narra de maneira sublime o amor vivido por dois imigrantes chineses em uma locação igualmente encantadora da América do Sul (na Agentina, para ser mais exato. Forte é, e assim defino todo o filme, todo ele, sem tirar nem pôr. Parafraseio o crítico de cinema do livro 1001 filmes para ver antes de morrer: "a dor demonstrada pelos atores", quando suas discussões estão no ápice, ou o ciúme introvertido de um toma a frente do temperamento expansivo do outro, que se vê, num determinado momento do filme de mãos quebradas, literalmente, tendo que depender do outro para fumar um cigarro dividido no banco traseiro de um taxi, "é tão grande, pungente (ufa!), que o espectador tem ímpetos de virar o rosto". Isto sem citar a beleza da fotografia, ora de um preto e branco granulado, ora de um colorido intenso, a mostrar as belezas cruas, tais quais o relacionamento que pelo filme é narrado.


2046, os segredos do amor, é outro desses filmes. Para entendê-lo, é preciso ver um outro filme, nem preciso dizer que também maravilhoso, que é Amor à Flor da Pele (In the Mood of Love), para entender que busca um escritor no labor de se debruçar sobre um livro que escreve acerca de um trem que parte para o ano de 2046 para buscar lembranças perdidas. No meio período uma robô se vê interessada por um jovem, dá-se conta disso quando já é tarde demais. Misto de ficção científica com romance, que é sua praia de verdade, o filme mostra o Sr. Chow, do primeiro filme (Amor à Flor da Pele) a retratar estes casos ficcionais enquanto se envolve com outras encantadoras mulheres, direta e indiretamente.

Há outros filmes, grande a sua filmografia, mas não precisei de ver mais para ter a certeza de que não me enganei: Nas categorias citadas antes por Claude Chabrol, dividindo os cineastas entre os contadores de história e poetas, Kar-Wai certamente se enquadra nesta última.

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