domingo, 2 de junho de 2013

do amor de argos

era assim tal amor
que em cada gesto
via tanta intenção
a tal vontade

- ela sim
tomava a dor,
lambia as feridas
que sua essência,
mesmo de linda,
mesmo de fera,
era ainda capaz de sentir.

que me fez monstro,
cem olhos seus
para vigiá-lo
todos os dias,
todas as noites.
por ela, nunca
dormi.

lei dos
olhos fechados,
olhos abertos...

[por ti nunca dormi,
mesmo meus olhos
que descansavam
reproduziam
incansáveis, a tua beleza
e fragilidade de deusa
atrás das pálpebras
eu chorava.]

por ele as orgias
de todas as noites,
demasiado humano
(deus demais para ser
perfeito).
também eu
por tudo por ti fazer
papel maldoso
sabia.

na culpa inconcebível
de amá-la,
devoto dos olhos,
era fatal que meus todos,
cabeça pagasse - antes meu coração.

deixaste-me ainda
sendo qual engano:
persigo os amantes,
nas plumas onde
mal me caibo
entre a tua procura -
viver do resplendor
de ser teu bicho preferido
nem teu pão,
nem tua carne,
teu objeto de contemplação
(que vigia e contempla)
sensível e delicada selvageria
onde inda te procuro.

eap

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