domingo, 16 de junho de 2013

dos astros imperfeitos

à  a.b., dessas tardes sem energia
(que transformamos em fumaça)

naquela tarde, havia um cansaço, e próprio dela era me achar louco. mas ela me disse ser de gêmeos, e eu tinha na mente um pessimismo latente em relação às crenças todas - e não somente por estar cansado de falar sobre os defeitos latentes do meu-eu-coitadinho, sempre fodido. que nome: câncer. melhor não seria. até mitologicamente era um covarde, criado para beliscar o pé de hércules enquanto ele lutava, foi esmagado pelo pé do herói -- a deusa, maternalmente, lhe presenteou com uma constelação, também ela uma filha da puta...

e se vangloriava das belezas de ser geminiana, de ser louca, de ser gasta no mundo, de ter o pedaço do peito chamuscado de energia para fazer quisesse o que quisesse. vontade de agaranhar o mundo inteiro com os braços. e se estendia nisso, e disse para ela que nenhum signo é perfeito, e a prova de tudo isso está na obssessão de cada um, a primordialidade de todos, ela me perguntou por quê. dá cá, e a tarde ficava bonita, e eu soltava o verbo, firme e forte, ela parou, enfim, para me escutar.

áries, eu disse, tem a energia do fogo que tudo queima e nada faz além disso, é o fogo primário, a porra do filho mimado. depois a energia se concentra no possuir e no apego às posses -- mas nada é passível de posse, tudo se constrói, desenvolve e morre, e vai, por isso touro, depois a energia se expande, na forma de ar, e busca fazer mil experiências consigo, usando o próprio corpo, esquece-se donde começou a gênese, passível de loucura, mas concentrável, embora pouco, incoerente, bipolar, dúbio, depois a energia se condensa na forma de água -- a água primordial que deu origem a todas as coisas, o útero materno, placenta cheia, o apego maternal, sofrível por dar todo o amor possível -- mas as coisas vão-se, por isso sofre câncer;

fumei, soltei, e ela ouvia embasbacada, continuei, depois a energia volta a se expandir, na forma de auto-expressão, do se ser, do independer-se da experiência adquirida com a ausência, quer estar à frente, leão, mas não há o que liderar, existem os que simplesmente não se importam com o líder, com nada, e a juba baixa, debaixo da patinha murcha os olhos de gato, ok que cê adquira a experiência de se auto afirmar, ok, daí pra frente vai existir o julgamento, o auto-julgamento, a busca da perfeição de virgem, também impossível, cê mais que ninguém sabe... aí depois desse julgamento, a energia buscará o equilíbrio de tudo, continuará enlouquecendo, constantemente, pela ausência desse equilíbrio, um equilíbrio que só se consegue sozinho, então por essa ausência buscava-se a intensidade dos sentimentos reprimidos desde câncer, só que com a força acumulada, duma água que tem a capacidade de se refazer mais rapidamente, para começar o processo de loucura, de insanidade, de força, que chora, mas não demonstra, que quer e pode e é;

tossi, umedeci a garganta e continuei, cerveja na mão: cê sabe que das energias é o constante processo de transformação, isso é lei da química, da física, foda-se, a energia astral se volta novamente para o mundo, para se expandir, e busca uma auto-afirmação baseada na liberdade, na vontade de, na ausência dessa vontade, que é inerente ao ser humano, o cansaço mata o último fogo latente, que apaga-se aos poucos e tristemente, a força sensível e livre de sagitário, resta a ele concretizar, tentar pelo menos, as experiências que tentou adquirir e obter lucro com isso, mas, é tanto conhecimento junto, tanto, que a prática falha, e o que se vê é um capricorniano, inteligentíssimo, entretanto, sem dedos para moldar a filosofia, a ciência, e o último grão de areia se desfaz assim, como quem não percebe, então a busca é pela quebra dessas convenções adquiridas, essa ciência falha, essa coisa toda que acabrunhou essa energia, é a loucura no seu estado mais anárquico, independente, quase, quase nada, suicida mesmo, kurt cobain tá aí pra nos dizer isso... Sei que nessa tal busca, de uma realidade completamente destruída, imagina você um cenário de psiquê apocalíptica, onde nada mais faz sentido?, qual tua primeira reação, já que você não se suicidou nem morreu em meio à loucura na qual se prendeu?, você busca a água profunda dos oceanos, tristes, escuras, que na margem de câncer deu origem à vida conhecida, agora é o último abrigo, onde se sonhará numa realidade diferente, embriagado pela crença, pela fé de que isso aconteça, busca-se isso dando-se, entorpecendo-se -- cê manja que existe uma conversa de que quem é residente em peixes é a última vez que encarna, né?

bebi o gole da cerveja, e disse: os signos nada mais são que a prova definitiva de que somos passíveis da imperfeição, jamais seremos perfeitos, e por mais que busquemos e que um dia haja essa tal convenção que nos diz do certo e do errado, vai haver sempre alguém que o diga, que não é o amor, mas sim a liberdade que é certo, que o amor priva a liberdade, que não é a liberdade e sim as posses materiais que trazem o estado perfeito de felicidade e satisfação, então alguém abre mão das posses e lidera uma guerra para provar que ter o mundo inteiro é a melhor coisa a se fazer, e guerreia, e conquista, mas, sem saber o que fazer dá início a um ciclo de tudo que nós conhecemos na história até hoje: homens que se sacrificaram pelo amor, outros pela guerra, uns pela liberdade, outros pela fé, enfim.

foi um silêncio tenso e bonito que se seguiu, e eu só pude esboçar mais uma coisa que ainda não tinha ocorrido: o pôr do sol tá indo embora e acabou-se a cerveja, acho que a gente deveria voltar pra casa.

eap

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