inclusive nunca me atinara a vontade de voltar,
proteger-me demasiado, saciar a sede na água da garrafa, acender um cigarro,
ler um pouco, os óculos repousados sobre nariz da luz embaciada da cozinha; me
proteger da chuva, me proteger da rua, sob a vontade dum frio desejado, ouvir a
chuva de longe, ouvir a rua de longe, evitar a rua, evitar a chuva, o mundaréu de
gente, aquele sopro no dorso do pescoço, os perfumes que nem beijam nem se
escondem, os olhares cobiçosos; pegar um táxi correndo, sem qualquer proteção,
não dar palavra e atravessar a cidade desfazendo o percurso de ida, numa
velocidade que te assegure no assento; inclusive, disso posso garantir, aquela
vontade de dançar passara, mesmo que os atabaques fossem mais altos que a
reverberação dum vaguear doido por ali – saber-se não-sozinho e sentir-se
melhor, livre: mais livres os braços, os olhos e a cabeça e os cabelos...
regidos pelo mesmo signo, ess'água que nos afoga, podia ver na cabeça loira e no suor que escorria e na
água que nele se espraiava e na sua loucura tenra, algo doutras épocas; aqueles
tais atabaques se sobrepunham a qualquer fartura de xamã qualquer, orixás e
babalaôs, farofa e galinha assada, cachaça prata, nada nada nada (naquilo)
daquilo, nisso, minha cabeça zonzeava sem entorpecer, sem nenhum minuto padecer
sob nenhuma circunstância, mesmo esforçando e ainda por cima chovia, rua acima
era temporal fechado, um vendaval na minha testa, abrir-se o chão, levasse o
que fosse, levasse pr’algum lugar, que dessa rua eu só sabia que subia, descia,
encontrava-o, sua voz grossa, sua loucura de cachaça, de cigarro, de baianice, baianidade, idade, nenhuma, sofrimentos de 6 minutos de uma casa pequena com uma varanda chamando as crianças pra jantar, isso é pra viver, ou morrer?, sua preguiça, a memória sortia-me, em casa, encharcado da rua, da chuva, um
cigarro, saciar da sede da água da garrafa, a vontade de voltar, de cama, de
travesseiro, inclusive.
eap