sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nada será como é

Do terror que vejo nos olhos daquele homem, ai de mim, que não consigo fugir desta vida tão somente, sou tudo que ele é, então vem a culpa, algo que nem evito, é uma dívida Persegue-me, é, e eu fico abobalhado, Não acredito que sou somente isto que dizem Resto de algo que foi ele, aquele mal-trabalho aborto da natureza, meu pai, eles repetem Saio por qualquer corredor, evito as aparências Raspo meus pêlos, corto meus cabelos, Deixo crescê-los, peço minhas penitências Eu é que não quero mais ser este ser igual. Deixo de lado tudo o que já vi, passo a fazer de minha maneira, Sem métrica, sem nada, seguindo bem além do que qualquer um já possa ter feito, indo e indo.. At é N em po der se r ma is rec onhecí vel. Não como Ele. Que mesmo de trás pra frente, continua a ser Ele. e,a,p'

domingo, 21 de novembro de 2010

Coração (Samba Anatômico), por Noel Rosa



"(...)
Coração
De sambista brasileiro
Quando bate no pulmão
Lembra a batida do pandeiro
Eu afirmo
Sem nenhuma pretensão
Que a paixão faz dor no crânio
Mas não ataca o coração (...)"

sábado, 20 de novembro de 2010

A Salvação



Chagas abertas coração ferido. Sangue de nosso Jesus Cristo... Desaprendi a rezar. Não sei ao certo como se deu isto, mas aí vejo que não consigo lembrar o que vem em seguida. Talvez seja castigo. Só pode ser castigo. Minha mãe bem que disse, Menino não brinca com santo que deus castiga. Castiga lá nada, eu respondia. Tá aí. Não consigo mais rezar. Chuto macumba, imagem de santo adoidado, devo ter chutado um São Francisco desses qualquer, devo ter negado de ir a pé a Canindé, mas eu não lembro. Lembro que minha esposa era devota dele. Isto eu lembro. Lembro dela.


Perdi o emprego, justa causa. A mulher me largou e disse que só voltava a ver os meninos quando eu pudesse dar de comer a eles. A quenga, desgraçada. Foi só eu me dar mal pra ela me dar um pé na bunda. Mal e bunda, duas coisas que não soam bem. Vai ver tinha outro já. E eu, cuzão, jogava dinheiro todo na mão dela (salário, vales e refeição) pra ela comprar roupa nova, porque quando conheci, só vendo. Um mulambo, trambolhenta, a menina. Dei banho, ajeitei o cabelo, ficou uma princesa. Quebrei cara de muito neguin por aí por causa da morena que ela se tornou. Mas daí já viu, né?, mulher vai, melhora, troca de roupa, troca de pele quase, e acha que deve trocar também de homem. E não é que a puta já tinha outro?


Passei um dia desses com o meu carro na avenida que dá de cara para o prédio onde fica meu ex-trabalho, e lá ia ela com outro de sorriso na cara, batom vermelho e óculos de verão num carro esportivo alemão sem capota. O outro, aquela careca, que eu reconheceria lá de cima do décimo quarto andar, meu ex-chefe. Fiquei puto. A vadia nunca quis andar no meu Escort xr3 conversível porque tinha vergonha de sair mostrando a cara pra todo mundo. E comia do meu feijão, a desgraçada. A filha da puta. E eu, paga pau do caralho, dei minha filha mais nova pro crápula do meu ex-chefe ser padrinho. Lembrei da Clarissa. Imaginei a menina perguntando, Cadê papai, como ela sempre fazia quando chegava a hora em que eu estava perto de chegar. Agora cadê o padrinho, eu não podia aceitar. Acelerei meu carro e enfiei a frente dele na traseira do carro alemão. O símbolo da BMW caiu em cima do meu volante e por um instante eu achei ter sido tão grande a porrada que eu estivesse sonhando. Dei por mim no meio da avenida com gritos desesperados, pessoas apontando o dedo com a mão na frente da boca, quando vi que minha orelha sangrava. Peguei da chave inglesa e saí quebrando o pára-brisa do carro dele.

Sentia-me bem com aquilo.

O careca filho da puta tenta pegar da minha mão a porra da chave,

- Vai se foder, eu digo, Seu filho da puta, cachorro, sem vergonha do caralho. Cê vai morrer, eu gritava levantando a chave inglesa na direção dele, que no chão rastejava a perna manca, da batida. A careca tinha gotas de sangue dos estilhaços do vidro. Gente gritava, a mulher arrancou a chave da minha mão, mas eu ainda tinha punho pra isso.

- Veado filho da puta. Pega o saco de arroz é o caralho, seu porco, seu arrombado, eu gritava enquanto acertava a cara dele com força. Ora, ao menos para isso tinham servido aqueles seis anos seguidos na estiva.

- Pelo amor de Deus, não faz isso Tião, por favor.

- Deixa o homem, vagabundo, gritou alguém, a mulher veio acudir a vítima, o cagão, me segurando pela blusa. A boca dela sangrava e a testa e eu não pensei duas vezes antes de sentar a mão na cara dela.

- Vaca, piranha, puta, paf, paf, paf, quantas tapas eu nem contei.


*


A polícia chegou e eu não podia acreditar que estava tentando rezar no canto da sela do lado de uma privada enquanto uma bosta enorme boiava na água amarela de mijo e uma mosca sobre a merda me olhava com aqueles olhinhos brilhantes e verdes. Um crioulo que estava sentado no canto da parede levantou-se, se ajoelhou do meu lado e perguntou,


- Cê é veado?

- Não, eu respondi.

- Porra, vai tomar no cu, não chega uma bicha decente nessa porra de xilindró. Tá perdendo o moral, os veados. Tão tudo virando cabeleireiro, manicure e pedicure, esses baitolas. Mulher já não dá o cu, e quem servia antes pra dar tá botando maior queixo que as mulher mermão, aí é sacanagem, né não?, me perguntou o negão de mão e dedos cruzados olhando pra parede que tinha um pau desenhado.

- É a vida, eu respondi.

- Tá fazendo o quê?, ele perguntou olhando pra mim agora.

- Tô tentando rezar, respondi. Cê sabe o que vem depois de chagas abertas coração ferido sangue de nosso Jesus cristo...?

- Porra, tá de sacanagem? Eu não sei nem ler, pô. Joga qualquer merda nisso aí. Pede. Ele não vai te atender mesmo. As paredes da sela não deixam Deus escutar reza de vagabundo não, xará. Deus é surdo pros malandros.

- Tô sabendo, respondi meio vago. Quem cagou esse capitão aí mermão?

- Eu sei lá. Tá aí desde que cheguei. Fez o quê amarelo?, me perguntou o negão.

- Dei uma bolacha na ex-patroa e um murro na cara do meu ex-patrão.

- Cê comia qual dos dois?, perguntou ele.

- Tanto faz. Só sei que os dois me foderam, isso sim.

- Então cê tá mal, xará, disse o outro.

- E tu?

- Que é que tem eu?

- Fez o quê?

- Eu roubei um menino lá. Um playboy de merda desses aí, saca? Daí não dava em nada, não fosse o pai do menino ser o seu delega aí, ó.

- E aí?, perguntei.

- Amanhã tô solto. A imprensa bate em cima, minha mãe vai atrás. Ela ainda acha que eu tenho jeito. A velha foi pra igreja dos crente, tá sabendo? Então, foi aí que ela achou que se eu entrasse numa igreja eu também tomava jeito. Mas quando agente se desgarra do mundo, amarelo, é difícil voltar malandro.

- Verdade, respondi ainda intrigado com o tamanho da bosta boiando.

- Aí, vai dormir e pede logo, porra. Tu aí de joelho e essa tua bunda grande fico na maior secura, porra, falou o preto que voltou pro canto da sela e lá, sentado, dormiu.


*


No outro dia a queixa foi retirada. Eu estava livre com uma condição: Tinha que me manter longe do Sr. Ferreira e de sua família. Inclusive da Sra. Ferreira. Eu ri e não entendi. Por gentileza, quem é a Senhora Ferreira aqui, hein? É a Senhora Ferreira, ô vagabundo. Cleonice Ferreira, essa aqui debaixo, sabe ler?, então: a mesma que é casada com o senhor Carlos Ferreira, me respondeu o inspetor. Assina logo essa merda e dá o fora, porra. Deixa de enrolar.


Eu ri e assinei minha assinatura quase garrafal. Senti o ar impuro da manhã e da cidade fedorenta que eu via. Perto do córrego da minha casa olhar a bosta durante uma madrugada inteira foi besteira pouca. Não tinha mais o carro para passear e espairecer nos dias em que estivesse de tédio. Tinha tevê. Mas eu não queria assistir. Pus a camisa de botão branca e um chapéu e fui até o Bar do Roliço. Lá todo mundo estava na mesa e eu me senti bem de novo.

- Ôpa, Seu Tião, o machão da propaganda da cerveja. Senta aí, Homão, Machão, e as gargalhadas corriam soltas.

Engraçado como notícia ruim corre rápido. Talvez eu devesse ter sido recebido com os olhos do povo desconfiados, mas aqui eu me sentia bem. Todo mundo ali já tinha botado um na ponta da faca ou no chumbo do revolver pra vestir o paletó de madeira. O Paulo Paulada, por exemplo, esmigalhou a cabeça de um homem até dizer chega e tá aí. Foi pro xilindró sim, mas aí está ele de cigarro na boca, apertando os olhos, com seis cartas na mão. O Chico Pescoção, também, só que ele comeu cadeia por causa de roubo. Andava roubando a casa das granfinas e se deu mal. O Roque Santeiro, que balança o relógio de prata é o homem das granas, sempre paga a primeira rodada de cachaça pra todo mundo. Estelionatário fino. Não é a toa que está ali, bisbilhotando as cartas do Paulo Paulada. Porra, perto deles eu era uma mocinha. Era como se eu tivesse roubado uma loja e tivesse voltado pra devolver os produtos e esperado a polícia.

- Fez certo negão. Aquela rã de bananeira não valia merda. Quenga de posto, meu irmão, vá por mim, botava a mão no meu ombro o Chico Rato, batedor de carteiras. Pus a mão no meu bolso só pra conferir.

- Vai se foder, Roque!, gritou Paulo quando percebeu que o outro havia ganho porque segurou as cartas que ele precisava para bater. Tenho que te isolar filho da puta, é isso?, perguntava rindo. A nata da malandragem ali estava. E os teclados da música ressonavam nos nossos ouvidos. Roberto Müller cantava a modinha do momento. E já estávamos todos bêbados, quando chegaram as raparigas. E nós abraçamos aquelas mulheres, de roupas curtas e peitos moles com muito amor como se fossem nossas mães, como se fossem nossas esposas. Paulo Paulada, afoito que só ele, já enfiava o dedo dentro da saia de uma mulatinha que ria toda dengosa, segurando e tirando a mão dele e dizendo que era que nem cinema: tem que pagar pra ver.

- E eu lá quero ver nada mulher. Se eu quiser te comer, te como até de calça jeans! Tudo é a mesma coisa: nenhuma das bocetas de vocês é lascada de lado, é? Então pronto, morena. O que tu tem aí o papai aqui já tá cansado de ver. E todos riam. Eu tinha no meu colo uma loira que vez por outra afogava minha cara nos peitos dela. A noite nem tinha começado.


*


A loira estirada na minha cama, cansada, dormindo, acho, e eu nu fumando e olhando pro espelho da penteadeira. O nome da outra no meu braço e eu nem lembro mais do rosto dela.


Vi a bunda da outra se mexendo de um lado pro outro e quase que tive coragem pra mais uma, mas deixei pra lá. Fiquei bolinando com ela só pra passar o tempo. Mas o fato é que aos poucos ia lembrando que era diferente a vida como ela se apresentava agora. A loira gemia baixinho e fazia careta. Cheirei meus dedos e ela ria. Sem vergonha. Aí eu recomecei. E que conheci a Giovana. Mas ela não era importante. Só gostava de comer ela aqui e acolá. Mulheres são isso mesmo: ou você encontra a certa e ela te dá um pé na bunda ou você mexe com as erradas e se dá por satisfeito. Mas nada disso me satisfazia.


Olhei com nojo da bunda dela se abrindo pra mim.

- Tá bom, tô cansado.

- Não quer mais?, ela perguntou.

- Só se você se fingir de morta, eu disse.

- Tá. E fechou os olhos toda aberta na minha cama.


*


Procurei o crioulo da cela e o encontrei numa esquina fumando um cigarro.

- Olha aí o amarelo da bunda grande, me disse ele.

- Diz aí, cara, respondi e repentinamente lembrei aquela merda na latrina da sela, não sei por que.

- Ô Gil, pega uma pro rapaz aqui e põe na minha pindura.

- Vai pagar quando, seu pilantra?, perguntou um velho bigodudo e gordo que tinha uma camisa de botão esfarrapada subindo do balcão com um cigarro preto na boca. Não obteve resposta e relutante, soltando uma praga em voz baixa serviu-me a cachaça.

Paguei.

- Que te fez vir de tão longe, amarelo?, perguntou o negão. Repensou minha proposta?

- Vai se foder, seu seco. As nêga daqui dão mais pro gasto não?

- Diz logo, lady.

- Seguinte: vou abrir uma igreja.

- Uma igreja?

- É. Eu lembrei um dia desses que uma vez tu falou que tua mãe achou que tu pudesse se converter através da religião, não foi?

- Foi.

- Então vou abrir uma igreja de pecaminosos. A Igreja de Satã, por assim dizer.

- Vai se foder, ô pá, tá ouvindo isso, Gil? Esse cara tá doido!, Fumou o quê, pinéu?

- É sério. Se Deus não escuta os nossos chamados, nós, os renegados, então alguém tinha que escutar. Quem seria?

- Poderia ser o Chico Xavier, poderia ser a Mãe Diná, Zumbi e o quilombo dos Palmares, poderia ser até o Alan Kardec, porque logo o Outro? O Coisa Ruim?

- Esse povo não dá a mínima.

- Escuta aqui, vou fazer parte disso não, amarelo. Sinto muito.

-Cê vai parar de descascar bronha.

- Sério?

- Juro por Deus.

- Irônico do caralho.

- Seja o que Deus quiser.

Irônico sou eu, pensei.


Saímos do bar e pagamos por duas cachaças que não bebemos.

- A conversão já começou, foi?, gritou o velho Gil detrás do bar.


*


Alugamos um velho galpão abandonado e começamos com um número mínimo de seguidores. Regra número um: não se usava uma bíblia ou qualquer coisa que se pudesse auxiliar nas pregações. Regra número dois: Porque a mãe do Gerônimo não admitia (esse era o nome do negão), mudamos o nome da igreja para Livre Arbítrio. Regra três, evangelizar era uma tarefa essencial. Se você fosse até a igreja, teria que trazer um seguidor através de dois métodos: encher o saco, que consistia em perturbá-lo da maneira mais inoportuna possível e se caso este não funcionasse, viria então a parte mais difícil que era o Foder Com o Próximo.


Muitos seguidores da igreja morreram durante a primeira fase da evangelização. Caso de um, que apedrejou o teto da casa de um malquerer, e o homem saiu com um revolver e sapecou três tiros na cara do infeliz. Neste caso, pegamos o corpo, pusemos no altar e decidimos que traríamos o outro para escutar a pregação. Antônio Três Pés e o Vavá foram à casa do homem deram uma surra nele, sodomizaram com a esposa do cara e com a sogra, que por sorte estava lá, e o trouxeram à força para assistir a cremação do Lourenço, que fora o homem que ele matara há três dias. O corpo já fedia no altar, tinha vermes nas feridas do pobre diabo e moscas pousavam na sua boca e olhos que permaneceram abertos. Fora conservado apenas no primeiro dia á base de éter. Fico feliz que não houvesse crianças na casa. O homem chorou e disse então,

- Aceito, eu aceito vir pra cá, mas pelo amor de Deus não me machuquem mais! Deixem minha família!

Aplausos explodiram na igreja e todos gritaram, Aleluia! Glórias mil! Confesso que para reunir aquela cambada que ali se encontrava foi difícil. Eram veados, travestis, transformistas, lésbicas, obesos, negros, argentinos, judeus, estupradores, assassinos, estelionatários, políticos e aleijados, convivendo num mesmo espaço que mais parecia o paraíso. Todos se sentiam à vontade para fazer e não fazer o que bem quisessem.


Durante a pregação era comum que aqui ou acolá alguns se pegassem no tapa, puxassem uma faca e a pancadaria comesse lá dentro. Feliz era o dia em que não morria ninguém numa pregação. Como a sacada do galpão fora pintada de tal maneira que ninguém poderia não dizer que aquilo era uma igreja, não houve maiores problemas. Aquela cara de Jesus apontando para o nome Igreja Livre Arbítrio de Deus escrito em cima de um arco-íris não suspeitaria nenhum indício do que lá acontecia.


*


- Eu sou mulher, eu juro que sou mulher!, gritava o veado pobre e barbado que tinha seios de silicone, pondo a mão aberta de lado sobre os seios e segurando com a outra o microfone.


Contratei um pastor profissional que já tivera sido inclusive padre da igreja católica, com direito a ir à em Roma e tudo o mais. Fora expulso do clérigo por ter pegado nas partes de um menininho num interior desses por aí. Depois, se converteu para a igreja evangélica. Parece que chutou uma santa numa pregação ao vivo e teve de sair da tal igreja.

- Mas são só boatos, tudo mal entendido, juro.

- Não tô nem aí, meu filho, eu disse.

O dinheiro que arrecadávamos estava sendo muito bem aproveitado, diga-se de passagem. Roupas novas, carros, mulheres, cigarros, bebidas. O Gerônimo, que só batia punheta, agora tinha três mulheres e negava fogo agora na mesa de bar. Fez implante dentário, malhou e usa terno e gravata. Eu ando de bermudão, porque não quero chamar atenção.

E ele gritava,

- Você é uma mulher?

- Se você acha que é, quem dirá o contrário? Você é uma mulher?

- Eu nasci assim, senhor, eu nasci assim!

- Você se sente uma mulher? Feche os olhos e de olhos fechados olhe para si mesma: o que vê? Óh, eu vejo meus seios, grandes, lindos, não tem pêlos entre eles... Eu tenho uma xoxota, padre, eu tenho!, ela é lisinha, raspadinha... Minhas pernas são lindas...

- E sua bunda, filha, como é?

- É grande!

- Aleluia!, gritava o padre, seguia-se a igreja a gritar mil aleluias, e o veado chorava e mostrava os seios e o padre, sem vergonha do caralho, chupava eles e ria, e gritava,

- Você é o que você sempre sonhou em ser, o que você guarda em si, o que você sonha, é o que você é!

- Padre?, levantou a mão um homenzinho que estava de pé numa cadeira,

- Eu quero ser grande. E aí?

Escaparam-se as gargalhadas, mas isto era de praxe.

- Venha aqui, desgracido, dizia ele que era de Curitiba. Feche os olhos. O que as pessoas já disseram sobre você?

- Já me chamaram de tudo o que há nesse mundo, padre... Já me chamaram de tronco de amarrar jegue, pintor de rodapé, resto de esperma, salva-vidas de aquário, tampinha, toco de gente, resto de gente, projeto de gente... Tudo isto, só o que eu me lembro, padre... É muita humilhação. Nem pra ser ator pornô eu sirvo. Meu pau nem é grande e eu descobri que aquela teoria do L é relativa: o homem grande tem um pênis normal, só parece pequeno porque ele é grande, e nós pequenos, como eu, parece grande porque somos pequenos... É tudo ilusão de ótica, padre.

- Filho, já vi que você é homem inteligente. Olhe pra você. O que você faz da vida? Eu escrevo. Mas não ganho dinheiro com isso. Trabalho num escritório de advocacia, desde os dezoito anos. Estagiário.

- Você é grande, feche os olhos dos seus olhos e olhe agora, abrindo-os de uma só vez e perceba o seu tamanho: Você é grande homem.

- Não sou não. Mas vou deixar estar.

- Aleluia!

- Aleluia, responderam.


Aquilo era realmente um circo de horrores.


- Senhor, eu quero voltar para a sociedade, eu quero me reabilitar, falava um preto desdentado. Por um momento quase vi Jerônimo, que tirou o G do seu nome porque queria ficar mais parecido com Jesus Cristo. Andava ultimamente com uma idéia boba de parecer com ele, a ponto de deixar crescer aqueles cabelos ruins. Ficou uma graça, no natal, quando veio com aquela roupa de muçulmano, aquela barba enorme e pó de arroz na cara. Rio e volto os olhos pro preto magrelo.

- Meu filho, você acredita em Deus?

- Acredito no que o senhor quiser.

Estendeu cem paus pro preto.

- O que é isso seu padre?

- Dinheiro.

O preto pôs no bolso e disse,

- Obrigado padre.

- Pau nele!, gritou o padre.

Levantaram-se todos e espancaram o homem que gritava tampava o rosto e só se ouviu aquela confusão, gente correndo de todo lado, o padre pediu que se afastassem os fiéis e disse em seguida para o homem que perguntou antes,

- Porra, mas o que foi que eu fiz?

- Você roubou. Não precisa acreditar em Deus pra se converter, meu filho. A mudança parte de dentro pra fora.

- Mas você me deu os cem paus!

- Não dei. Mostrei. Psicologia mais sacana a do padre.


*


Pobre é foda. Ela poderia ter subido no salto, ter ficado rica, mas me viu bem, e aí não dá pé.

Ela quis voltar. Mulheres, como se conviver com elas? Não se convive, Se sobrevive, eu penso. Minha ex-mulher soube da igreja e veio procurá-la. Olhei-a lá de trás, da minha sala que ficava fechada. Ela abriu a porta e disse que queria falar comigo.

- Você não tem escrúpulos, ela me disse.

- Ele te deu um dicionário ou tu ensaiou pra me dizer essa palavra?, gracejei e perguntei o que tinha feito, mas depois levei uma tapa na cara e depois um beijo na boca.

- O que é que tá acontecendo aqui?, eu perguntei empurrando-a. Ela não quis saber de conversa. Disse que se eu não a aceitasse de volta ia chamar a polícia pra mim, porque o marido dela é um traveco que freqüentava a minha igreja e que agora dera para levar homens para casa e fazer sodomia.

- Na frente das crianças, Tião! Na frente da Clarissa!

Foda-se, eu pensei.

- É a vida, eu disse. Vivei e deixai viver.

- Você me paga, seu filho da puta, ela disse.

As pregações do padre deram jeito. Quase me vi falando como ele.

A polícia deveria estar vindo por aí a qualquer momento. Dava tempo de sumir com o dinheiro das arrecadações. Peguei o cofre, abri, puxei tudo o que tinha dentro: jóias, dólares, reais, pesos, libras (porra, libras?), euros... Passei pelo galpão e vi que ninguém me viu. Em terra de cego quem tem olho é rei, pensei. Entrei no carro, liguei a chave no contato, arriei a capota e som do motor roncou pela avenida. Me pegar é que eles não iam. Se foder, pensei.


Já ia na esquina da avenida do meu ex-emprego quando a polícia me parou apontando armas pra minha cara e seis viaturas fecharam as saídas. Saí do carro com as mãos pra cima e disseram,

- Mão na cabeça vagabundo.

- Porra, e eu estou de terno, gravata, barba feita e sapato de couro italiano. Absurdo que isto se repita. Não dá pra dizer, Mão na cabeça cidadão?

- Vai se foder, porra, falou um policial me empurrando a cabeça dentro do porta-malas do camburão. Achei ruim ter que voltar praquela merda em que eu estava de novo.

Lá dentro Jeremias estava olhando a lua entre as grades finas do camburão, com uma espécie de ternura angelical.


*


Chagas abertas... Chagas abertas não. Pai nosso que está no céu... Pai nosso não. As mulheres nos escutam melhor. Ave Maria cheia de graça... Graça numa desgraça desta parece até blasfêmia. Lá estávamos de novo eu e o negão de joelhos do lado da privada novamente. Eu desisti de rezar, e a luz da lua invadia a sela, iluminando o rosto de Jesus Cristo do Jerônimo, que fazia uma cara de santo e repousava as mãos no ar, como a imitar o Nazareno. Eu ri da cara dele e ele também riu. Desfez a pose e nos pusemos de novo a olhar para dentro da privada e vimos que lá estava a bosta de novo e desta vez parecia maior. As moscas eram muitas desta vez e eram belíssimas varejeiras azuis e verdes que pareciam levantar as mãos para o alto e esfregavam-nas como quem quer rezar. Todas as moscas fazem isto. É só ver.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

E no meio do Samba da Benção...


"Senão, é como amar uma mulher só linda; e daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado,
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher,
Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor,
e para ser só perdão."

Vinícius de Morais

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Aparências.

Sentei por um momento na frente de meu filho, deu a entender que eu iria vir como de praxe cobrar-lhe boas notas, cobrar-lhe qualquer coisa que ele estivesse por fazer errado em duas horas de conversa, intermináveis para ele, eu até entendo a sua chateação. Mas ser pai, é um horror. Nunca se chega para ser o vilão da história, mas sim para ser aquele que põe a mão no ombro e ser dele, o filho, o mais próximo de um amigo que as relações que cobrem um teto permitem. Fazemos o possível, mas não sei que dá quando vamos caminhando na direção deles, parece que na nossa testa vem escrito, Vou conversar duas horas com você. Já vemos no olhar do filho que ele quer fugir, mas aí vem a vilania que nós sempre iremos abominar, mas que inevitavelmente nos conduz a tanto. Ser pai é péssimo. Lembro do meu, que vinha solene, com aquele ar altivo, ajeitando os óculos, levantando as calças pelos cintos e sentando naquela poltrona e desenrolando uma filosofia toda metafórica que só os pais sabem criar. Eu não sabia que era assim, mas quando um pai começa a falar, ele pode não ter instrução, como não tinha o meu, mas faz paradoxos, por vezes risíveis ou difíceis de acreditar, mas sempre com um desfecho moralista que nos faz sentir culpados pelo menos por duas horas depois do fim da conversa.
Meu filho quer se levantar, fecha os livros, eu tenho então que parecer o vilão, e levantar a voz, dizer, Fica aí, e ele tem que obedecer. O que nos diferencia são apenas dezesseis anos, e veja só como ele está agora: um homem maior que eu, do tamanho desta porta. Me sinto quase constrangido em lhe dizer que não faça certos tipos de coisas. Por exemplo agora. Como vou falar para um quase homem mais alto que eu que ele não deve fumar?, e como vou explicar que encontrou isto em sua mochila enquanto mexia nela, sua mãe?, mas a Desiré é osso duro de roer, a mulher. Ela me encurralou na parede e disse, Ele tá fumando, José.

- Ou você descobre isso por você mesmo ou eu vou ter que descobrir por mim mesma. Nem você fuma nessa casa, porque que ele tem que fumar. Coisa mais nojenta, cigarro. Vá lá, converse com ele, ou eu vou bater nele, e se você não gosta, imagine eu. Daí, como fazer isto?, o menino tem quatorze anos, já deve estar se tremendo todo. Mas eu nem estou com raiva. Pense bem José, você está diante de uma situação que não contém nenhum risco. Pior seria se ele estivesse com um cigarro de maconha ou então uma carreirinha de pó. Deus me livre uma pedra de crack. Coisa horrível. Será que ele viu o bater de nós dos meus dedos na mesa de madeira. Ele olhou para os cadernos, e suspirou um puta que pariu que eu quase escutaria se estivesse com raiva. Pus o cigarro em cima da mesa e ele olhou contorcendo a boca. Ficou calado a observar o cilindro pequenino e branco de filtro amarelado, meio amassado ainda estava, na ponta caia ainda um pouco do tabaco na mesa. Ele não deu palavra, peguei-o de volta, o cigarro, e chamei meu filho para o segundo andar, onde tinha a sala de estudos que era também um escritório e biblioteca. Lá ele desviou o quanto pôde o seu olhar do meu, como que a procurar uma desculpa para aquele erro. Temos disto em nós, de repetir a pergunta para desviar a atenção das pessoas que nos questionam enquanto estamos matutando em nossa mente a resposta mais conveniente para tal.

- Que vacilo, hein?, lho perguntei, e ele desviou por um instante os seus olhos da janela.

- A mãe achou, não foi?, ele revolveu a pergunta, enquanto sentava na cadeira a minha frente e eu abria as janelas, fazendo entrar um vento. Olhei por ela, e lá ia a Desiré no carro olhando para mim e fazendo aquele olhar de quem diz, Vá lá e mostre pra ele. Mandou um beijo no ar e saiu. Eu ainda a amo e isso é incrível. Tenho medo de lhe dizer a verdade, verdade que eu não consigo falar mais alto com meu filho. Não dá mesmo. - Achou. E ela quer que eu tome uma iniciativa com você.

- O quê?, perguntou ele.

- E eu é quem sei? Ela me acha um mole.

- Seja homem, pai. Me ponha de castigo, homem! Confisque o meu video-game. Proíba a internet, faça alguma coisa, eu sou o filho, tu és o pai, quer me adiantar esta responsabilidade? Quer me traumatizar? Eu não ligo pra isso. Estou mais preocupado com os meus livros, não confiscando-os, é o que importa. Tenho ainda prova de química e não sei o que fazer. Por isso, peço: só não confisque os livros. Teve alguma ideia?

- Não, me dá o isqueiro, pedi enquanto retorcia os dedos de nervosismo. Se tinha uma coisa que eu não gostava era de que me dissessem o que fazer. Mas se por acaso não me dão um direcionamento, fico a mercê do acaso. O acaso já me mostrou que é falho. Os resultados são sempre os mesmos, essa mistura de bom e ruim, que nos dá conformidade, nos faz pensar, É, não veio o que eu queria, mas vindo isto, está bom demais. Tudo bem, disse, vai pro seu quarto, está proibido de, de, de ver seus filmes, pronto.

- Tá ótimo, velho. Muito bem, disse ele, pondo as mãos no meu ombro e indo até a porta.

- Ei, você não vai falar nada pra sua mãe, vai?, perguntei, ridículo, me senti depois. Aquela pergunta me fez lamber o assoalho diante do meu filho. Que ser ridículo me senti. Meu pai teria vergonha, eu sei que meu filho tem vergonha desta personalidade submissa, destes gestinhos medíocres, desta coisa que se esconde pelos cantos da pauta de uma escritura, nos medinhos mais insignificantes, a tremelhicar os dentes sobre as unhas. Medo da perda sempre foi o maior problema da humanidade, e de todo jeito ela sempre acaba destruindo e não simplesmente perdendo para que outro possa achar. Eis que meu filho destruiu este medo, e em seguida esta minha cisma de ridículo que sou, pelo menos nesta frase que se segue.

- Claro que não, pai, ia sair, mas voltou e disse, Eu te amo, velho, e aí sim, fechou a porta e foi para o seu quarto, voltou ainda de uma vez e disse, Não te preocupas, homem, vou continuar guardando na mochila os teus cigarros.

- Obrigado. Falei automático e depois, com o cigarro a tostar em minhas mãos soltei uma baforada pela janela e lembrei de meu pai, que nunca fumou na vida e sempre e quis longe dos cigarros. Eu sabia que quando ele vinha conversar eu passaria a mesma vergonhosa situação pela qual passo agora. Mas eu não me importo. Eu amo a Desiré. Enquanto ela não se importa, eu vou fumando. Depois entro na ducha, tomo um banho com um sabonete cheiroso e a espero depois do trabalho na nossa cama, sentindo a sua respiração cansada e ofegante, dela, que pensa que não sei, fuma também.



Tire as Mãos de Mim - Chico Buarque.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As Diferentes Visões.

- Furei. Furei mesmo. Furaria duas vezes; mil vezes se o puto aparecesse ali, na minha frente, paradinho do jeito que estava. E eu tenho culpa? O cara vem, faz o que faz, vira as costas, como se tudo fosse a coisa mais simples do mundo. Sacanagem. Queria ver você, e você aí, que estão apontando o dedo na minha cara vir dizer que não fariam o mesmo. Ah vá!, o cara xinga tua mãe, que morreu já. Tá com a carne seca já. Debaixo da terra, nem formiga quer saber de entrar pela cara da velha, daí vem ele, chama eu, (eu!), de filho da puta. Puta... Olha isso aí, seu doutor, aí é demais... Puta ela não era. Ganhava dinheiro honestamente, a minha mãe, seu doutor, viu? Lavava pra fora, com toda honestidade, nunca abriu as perna pra seu ninguém, não, doutor. Juro, juro. Daí o sujeito vem, tô aqui, trabalhando honestamente, depois de comer o pão que o diabo amassou no xilidró, encontro o seu Nestor, que abre as porta do estabelecimento na maior pra mim, viu? E o cara vem tirar de valentão pra cima de mim, (de mim!) só porque eu derrubei a sacola dele, daí tinha um bagulho que quebrava, de leve, sabe? Daí vi que era ovo. Pagando de playboy e comendo ovo, o cara? Brincou né? É, é, é... eu também ri, réééé... Daí o cara vai, sem vê nem pra quê, me aponta o dedo na cara, e diz, Cê é um filho da puta, mano. Puta incompetente. Daí vi que o pilantra era do Rio. Já tive lá, sim senhor, muito legal, maior onda, sabe?, mas daí, então, o cara vai, não satisfeito, senta uma bolacha em mim, doutor, (em mim!). Aí, nêgo, pô, sou honesto, mas não sou besta, liga? O senhor agüentava? Não? Pois é, nem eu, doutor. Empurrei o menino, mesmo. Furei ele com a caneta, mas foi só de raiva. Só porque neguin é pobre merece isso não, sabe? E minha mãe, coitada, nem se defender podia, delega... Viu minha mãe em cima de um home? Nem viu. Viu ela, pelo menos? Nem viu... Ela não tem culpa do filho que teve não, seu doutor, o sargento aí deve saber que viver ali não é paraíso, né não? Pois então... Ta aí, o playboy, ouve o que ele disser aí, tô nem aí. Agora perco meu emprego, fico fudidão agora, vô voltar pra rua porque o branquelo azedo, o cagada de urubu vai dizer qualquer coisinha aí. Daí, bonitinho, engravatado e furado, todo cagado de sangue, o ruim vai ser eu. O chefe tava lá, mas o que fazer, né doutor: "O cliente tem sempre razão". Pode ir lá, seu doutor, nem me arrenego. Nã, nã. Vá lá. Onde? Aqui né? Tem água? Sede doida. Dá nem pra tirar as algema não, sargento? Tá bom, vai assim mesmo. - Então, seu delega, cheguei lá, como sempre faço, e o rapaz nunca tinha trabalhado comigo, entendeu? Empacotava pouco e ruim. O cara ensacava o negócio cheio de mal gosto. Olhei pra cara dele, manja? E ele puto, cara feito um bicho pro meu lado. Daí resolvi chiar pra ele, pra ver se me respeitava, pô. Vê se fazia graça de carioca, se liga? Mas o cara ficou foi mais puto. Esse aí, desde o início tava querendo confusão. Olhou pra minha cara e pensou, Esse aí merece que eu enfie uma caneta nele. Ora, seu doutor, olha pra cara dele. Preto, pobre, sujo, deve ser vagabundo. Tem cara de vagabundo, né não? O senhor, tendo experiência com essas coisas, olha pra cara dele, diz: tem, ou não? Olha pra cara dele ali na vidraça, tem o jeito todo de um vagabundo não, ele? Porra, a gente saca logo vagabundo pelo andado, doutor. Meu advogado aqui, Doutor Traumaturgo, sabe disso. Antes, era defensor público, eu que tirei ele da merda. Ele sabe como é o negócio. Daí vem com aquele jeito de pobre decente. Qual o que! Tá aqui o decente no meu braço. Se eu não desvio furava meu peito o puto. Se eu xinguei a mãe dele? Xinguei não, senhor. Da onde? Olhe bem pra mim, seu doutor, sou moço sério, direito, faço faculdade. Aqui ó: Estudo Educação Física. Se dá muita gata? Pô dá demais, cara. Te juro. Cada uma, delega, cada uma!, rá rá rá! Pois sim, voltar, né? Ofícios, ré ré ré. Pois, xinguei não, senhor. O rapaz foi que soltou um palavrão aí eu disse, sim, Porra, mas que ovo filho da puta. Ovo, sim. Ele nem ouviu... Mas o gerente ouviu, conhecido meu, parceiro, ele. Tava lá no caixa. Poxa, doutor, ovo é bom, gemada, dá um gás, sabe? Meu pai já deve vir aí, mas acho que nem precisa. Sabe aquela rede de supermercados? Então. É! É ele, rá rá rá! O ataque, né? Foi assim, ele me xingou, me empurrou, entendeu? Daí eu tive que revidar doutor. Dei uma bifa nele de leve, tipo assim, vem aqui Doutor Traumaturgo, assim, ó. Tá aí, doeu, doutor?, então, foi desse jeito. Se bem que na hora do desespero, nem dá pra saber realmente como foi né? Então... Daí fode, né? Perdão o palavrão. Mas sim doutor, quê mais? Tô liberado? Ôpa, pois boa tarde pro senhor, viu? Mando um frangão daqueles pro senhor, viu? Que é isso! Precisando ó. Ah, claro, pode deixar, dou o toque lá das periguetes do senhor, mas vamo malhar, né? Tchau doutor, lembranças. - Sei de nada não, senhor. Quando eu vi a cagada já estava feita. O rapaz, moço decente, com a mão no braço, aquele monte de sangue sujando o balcão, os clientes correndo, gritando, gente assustada, e o meu funcionário, aliás, ex, talvez, ali, atracado com o homem. Ah, ele sempre foi esquentadinho mesmo. Eu contratei ele porque conheço desde pequeno. Sou padrinho dele, né? Daí o senhor sabe: a gente tem que dar uma chance pra esse povo, né? Foi pra prisão, fez coisa errada, andou fazendo o que não devia... Mas o que se há de fazer? O mundo é isso mesmo, a gente se surpreende com as pessoas. Achei que tudo dava certo, que tudo ia bem, mas aí ele me apronta uma dessas, rapaz. Tenho pena dele, porque a gente faz o que pode, né? Agora vai lá agride o cliente, assusta todo mundo... E eu que dei oportunidade a ele, né doutor. É osso... Mas que fazer, a vida é cruel, ingrata por si só. Ele dava nojo de ver doutor, deixava de ir pro colégio, todo mundo via, eu via, os vizinhos, pra ficar se acompanhando com quem não presta. Eu ia fazer o quê? Sou padrinho, não sou pai! Podia pegar ele pelo braço, mas cada um que cuide dos seus, né não? A gente tem que se cuidar, doutor. O rapaz? o rapaz me parece ser moço direito. Estava comprando umas coisas lá, suporte energético, eu vi. Como? Ah sim, eu vi depois, nem estava perto, vi depois, quando as sacolas estavam no chão, entendeu? Pois é. Se eu tivesse perto lá tinha deixado isso acontecer doutor? Sou cidadão direito. Pois é. Ah não era suporte energético? Era ovo? Mentira... Pra você ver né doutor, como as coisas são. Um carrão daqueles e comendo ovo! Rá rá rá, ai, ai... Pois então, eu só sei que o senhor é quem sabe, doutor. Dei meu parecer. Vi pouco e pouco posso dizer. Disseram que eu estava perto, mas nem estava. Estava na gerência, todo mundo viu que eu saí de lá correndo. Eles disseram foi? Mas eu não estava não, estava não. Pois é. Que vai acontecer com o rapaz? Vai ser preso? Pois é, né? É a vida doutor, é a vida. Pois bem, obrigado viu, seu doutor, até a vista. Queira Deus que não nos vejamos mais, né? Ré ré ré. Aqui ó, só pra garantir que não vou precisar mesmo. Ora, aquele adiantamento aí, né doutor. "Pra rir, tem que fazer rir", né não? Chegue lá depois pra gente tomar aquela cerveja gelada, viu? Então. Tchau doutor, tchau capitão. Recomendo Tropa de Elite 2 para todo mundo. Visão política que o outro tivera em menores proporções, Violência, sociologia explícita. Perturbador, inquietante. De certeza o melhor filme deste ano, no âmbito nacional. Sumido em decorrência das obrigações; Minha morena, eu te amo: dias e dias se somam, e isto é tudo mais que se pode dizer.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Analfabetismo Sentimental

Se minha morena entendesse o que aqui tenho guardado,
saberia que o que falo, não é nada além do que é.
Tanto falo, tanto trago em meu peito...
Queria saber escrever, e não deixar rasgados os papéis,
Numa indecência, numa disenteria de tintas de caneta,
a tentar traçar belíssimas fôrmas e formas de sentimentos
dos quais todo o meu peito é feito
E se enfeita em cores e alegrias em te ver, morena.
Brilhar os olhos num amorenar de tua pele,
São necessariamente as férias que sempre quis.
Agora, tento digitar analfabetadamente qualquer coisa que tenha sentido
Invento palavras, invento cores, tamanhos e dissabores mil, para tentar
Ao menos se equiparar nesta vontade de expressar o inexpressável.
Perto disto, sou nada mais que um juntador de palavras,
Um néscio qualquer, um abrupto buraco em meio ao nada.
Não tenho como dizer, além de três palavras o que vagueia estes versos
Sem rimas ricas, sem bons traços, sem métrica, sem nenhum propósito.
São as três palavras, que guardo para nós.
E além de nós, um mil de palavras mais,
Para se representar no teatro do amor.

E,a,p'

(Decentemente)

Um corpo bóia numa piscina
Na cidade do Rio de Janeiro.
O Leblon pára,
A cidade salta os olhos.
Que fato exclusivo.
Vale a primeira página,
Vale bem mais que uma mera fotografia.
Exclamam pelos corredores.
Seus braços estendidos,
Lembram o Cristo Redentor
(a flutuar).
Posto que sua cara n'água,
Só o faz ser um sonhador.
Não é que de um brando sorriso encharcado ele é feito?
Mas que sonhos lhe passavam na mente,
Antes de todo este nó ser desfeito?
Os dedos enrrugados de quem envelhece precocemente,
Não esconde a idade de quem quer apenas morrer
Decentemente.


(....)


E,a,p'

domingo, 3 de outubro de 2010

Jeito de Corpo


"(...) Cara, Careta, Dedão.
Isso não é legal,
em frase de transição. (...)"

Caetano Veloso - Jeito de Corpo

Road-Movie


Um dia ponho o pé nesse mundo, sabe?, Um dia vou conhecer outros lugares que só ouço falar. Tiro a habilitação, compro um carro qualquer, e em dia me mando nesse mundão. Vou deixar as coisas em casa, levo só o que amo demais. As coisas que amo demais. Meus livros de poesia, meus discos de bossa-nova e rock n' roll, minhas camisas de frio que nunca usei e o óculos de sol, que não vou precisar me envergonhar para usá-lo, pois quem eu vir pela estrada, nunca mais me verá novamente. Ponho também a câmera fotográfica, que é para retratar os momentos que passarei, só eu, o retrovisor, as placas de sinalização e a estrada.


O asfalto segue uma linha reta, mesmo que torta, mesmo que no meio do barro, aquele sentido único de ir para lugar nenhum.


Passo na casa da amada, dou um beijo, dou um tchau, que é para ela demonstrar seu sentimento mais verdadeiro. Passo na casa do amigo, e digo que mais tarde a gente bebe aquela cerveja no bar da esquina, em casa eu digo que volto mais tarde e um beijo na minha mãe eu dou. Aproveito e dou um abraço nos irmãos. Ponho na bolsa uma garrafa daquela cachaça favorita, compro um maço de cigarros e aí vai ser só o vento no rosto.


Vou parar em cada cidade, ver todos os donos de botequins a me sorrir quando, de manhã, pedir um café para merendar com pão entupido de Manteiga da Terra e queijo. Vou sorrir para as cabrochas, e não vou mentir para elas, nem dar esperança, pois lá de onde saí deixei meu coração pendurado num cordão - e se ela o tiver desrespeitado, eu não ligo.


Vou conferir o amanhecer em todos os lugares que eu puder, olhando o céu se alaranjar, e azular da maneira que ele achar mais apropriado; seja chiando pelo litoral, cortando o mar salgado, ou seja abrindo espaço por entre as árvores do cerrado. Pela linha que ele traça até o final do horizonte eu vou seguindo, deixando um tantinho de tristeza por onde passo, numa conversa de bons amigos que vou fazendo em cada mesa de restaurante que vou passando. Vou temer e me amigar com cada um dos senhores policiais que estão na estrada fazendo a batida.


Meu carro não vai ser o mais belo, nem o mais silencioso e nem vai ter um ar-condicionado potente, para que eu possa fechar as janelas e seguir viajem de maneira tranqüila. Ah, não vai não. Porque ele vai ser um possante velho, que vai rasgar a madrugada acordando os sertanejos, os moradores das pequenas cidades, para que saibam que eu estou passando, vai ser antigo, para que eles possam ver que não importa quão nova seja a novidade, ela envelhece no instante posterior. E a janela vai permanecer aberta que é para o sol amorenar meu rosto e meu braço, e para que todas as cores da estrada (o marrom das montanhas, o azul do céu, o prateado das estrelas, o verde do mar e da mata virgem, e o cinza do cerrado morto, o amarelo das casas) e todos os cheiros possam penetrar carro adentro.


Vou conhecer as melhores pessoas deste mundo, que não vão ter tempo de mostrar seu verdadeiro Eu. Vou conhecê-las antes mesmo que elas possam me cansar, que elas não me mostrem nada além que as pessoas que deixei para trás. Elas vão sorrir ao me ver, e mesmo que não sorriam, eu vou saber que não vou mais voltar a vislumbrar seus rostos novamente. Vou cantar, sorrateiramente, numa roda de samba e vou ser aplaudido pela verdadeira malandragem, ali, nos arredores da Lapa, mas antes, vou entrar num terreiro e tocar atabaques para uma Mãe-preta, na Bahia de Todos os Santos, que vai me abençoar para algum orixá, e depois, lá no centro-oeste, vou subir no palco e me jogar na multidão, num show de rock, e o mar de gente vai me levar até o momento em que no chão eu for posto. Depois vai ser bom chegar na Argentina e não saber o que fazer diante do tango. E quando a América for pequena, vou para o velho continente, e de lá, se tempo der, vou descobrir minhas origens nas savanas. E se mesmo assim, o mundo me aprecer pequeno, tem o mar, que é um mundo à parte.


E se um dia eu parar em algum lugar com o qual eu me sinta novamente bem, tranqüilo, que queira parar ali e estacionar meu carro definitivamente, vai ser o lugar onde serei enterrado. Sete palmos debaixo de muita areia e por cima um gramado bonito e verde. Como eu quero.


Um dia eu pego minhas roupas ponho numa bolsa e saio fora dessa vida.


.

Auto-explicativo.

Preciso Me Encontrar - Cartola (Que irônico!)

domingo, 26 de setembro de 2010

Indistinções do pensar

Não sou destes que ficam a procura de um motivo; não procuro sequer um. O poeta ensina que viver não é preciso, e sim navegar. Ah, navegar... E eu que nem sei nadar? Que tenho medo de me afogar no mar, Que pela brava onda ser quebrado em seu quebrar e sumir borbulhando, até o fundo do oceano, me diz então: Como irei fazer para procurar um motivo-razão? E já que viver não é preciso, fico aqui, a bobear sempre por entre as linhas e que linhas tortas, traçadas por um velho homem. Não sei se já nela escreveram, mas sei que de uma maneira indistinta lá já está ela traçada. Mas cético sigo, e lá estão as linhas, Mas torto piso e já nem ligo, se se importam com o meu pisar. Caminhar é necessário, viver é um desvario, poeta.

sábado, 18 de setembro de 2010

Incompetência e desagrado.

Vi dois meninos fumando maconha descaradamente no meio da rua. A imagem, que para muitos, para a maioria, talvez, soe pitoresca, um nada a ver, para mim serviu de combustível para o ódio ao mundo.

Três meninos, uma menina, um menino e um pivete, que não deveria ter mais de dez anos, fumando maconha, a baforar, antes da esquina, a fumaça da tal. Eles riam, e eu não ria. Eles riam, e eu nem pensava em rir.

Pensei mesmo em pegar aquele pedaço de pau, madeira grossa, pesada de maçaranduba e acertar-lhes mesmo na coluna. Que filhos da puta!, eu pensei, Fumando maconha no meio da rua! No meio da rua! Em plena luz do dia! Vou matar esses putos de porrada!, eu exclamava de tempos em tempos, e observava que enquanto eles sumiam no fim do quarteirão, os velhinhos, com os seus humildes bonés, viravam a cabeça para trás, na procura incessante de saber que diabo o menino que mais descaradamente ria levava na ponta de seu indicador pressionado contra o polegar.

Quando eu achei que o pequenino apenas estivesse a acompanhar, eis que dá uma tragada grande e cospe a fumaça, como se fosse um grande homem a fumar o seu cigarro. Não ouvi, mas deve ter lhe dado um acesso de tosse. Tomara que morra, eu disse para o meu amigo, que procurava se conformar com aquela imagem, sentado, olhando para os três.

Puta que pariu, meu... Que filhos da puta, na cara-de-madeira, dizia ele, sem parar, enquanto por dentro vinha um gosto de vômito que quase pude sentir bater nos dentes e voltar garganta adentro, provocando aquela sensação terrível de azia, queimação na garganta que só se sente quando se põe para fora o vômito.

- Tô com nojo do mundo, falei para o meu amigo, que ria, e dizia, meio que para me acalmar que, Nem todo mundo é assim. Esses aí é porque querem ser os bichões, os patuazões, uns escrotos, porque nem mesmo os vagabundos, os vagabundos mesmos, eles não fumam maconha assim, na cara-de-pau, eles fumam nas entocas, escondidos. Eles é que são uns putos.

Mesmo assim, a imagem não me saía da cabeça, enquanto eu ouvia os outros meninos que subiam da outra escola a gritar com eles, Ei!, Ei, seus filhos da puta! Vão se foder, porra! Vão tomar vergonha na cara, caralho! Vão fumar em outro lugar! E jogaram uma pedra, creio eu. As pessoas que vinham subindo a rua, e viam a cena, não conseguiam não olhar para trás de tempos em tempos, e balançar as suas cabeças num sinal de desaprovação. Mas quem diabos somos nós, que não podemos sequer segurar nas mãos ou nos punhos deles e dizer-lhes, O que está certo é isso, jovem, e levá-los para casa dos pais, e ver no que dá. Ao invés disso, vamos nos apegando a sentir nojo, raiva, indignação.

Que adianta isso, se não há ação? Mobilidade para levantar do banco de cimento e fazer alguma coisa, que não só reclamar, se indignar, xingar, esculachar, apedrejar, ter ânsia de vômito. Isso não apaga a ponta do cigarro de maconha, isso não faz com que o uniforme do colégio seja respeitado, isso não faz com que os pais olhem para eles, e lhes deem lições severas, que não são bater, espancar, não: Mostrar para que lado caminha a coisa, para onde se deve ir, para onde deve se caminhar.

Se isso é uma forma de afrontar quaisquer formas de poder, como poderiam dizer os defensores da causa, por que não lutar contra isto lúcido, são, de olhos bem abertos, com a consciência tranqüila de que não há por quê apontar os dedos sujos de seja quem for que está lá em cima, ou lá em baixo a condenar. Mas este não é o caso.

Entendi isto num momento de reflexão, quando em casa cheguei e olhei meus irmãos a brincar com seus carrinhos de plástico, a fazer brum, brum, brum, e frear seus freios imaginários nas bocas, olhando para os seus mundinhos, rasgadamente, introspectivos. Há esperança, pensei.

Lembrei do fato, e cheguei a conclusão de que infelizmente, não fazemos nada. Mesmo pensando desta maneira, chegando a conclusão que cheguei, sorrindo do jeito que sorri, o cigarro amanhã estará novamente aceso, e rindo eles estarão, sem que ninguém queira rir daquilo. Os olhos vermelhos ainda vão ficar, e todos olhando para eles. E cambaleantes ainda vão caminhar, e podem mesmo cair, e não vamos fazer nada. E caindo vai o mundo destas pequenas maneiras. Que fazer, se somos assim: tudo é tão comum... Deixa passar.

sábado, 11 de setembro de 2010

O Crítico.


Pois não é que aquele cara não conseguiu enfim publicar seu primeiro livro?, até surpreso recebeu a notícia, e mal teve tempo de comemorar, e ser parabenizado, quando foi chamado para uma comitiva de imprensa numa livraria. O homem se sentia pouco a vontade naquele ambiente, onde na sua frente estavam seus leitores, que nunca leram seus livros, e que mesmo assim lá estavam a esperar suas palavras acerca das dúvidas que pouco surgiam a não ser daqueles seus ex-companheiros de trabalho, os senhores jornalistas. Agradecia a deus por não estar ali presente nenhum daqueles críticos literários que apodrecem a possibilidade de ver um futuro promissor para o artista. Pensou ser mesmo, estes tipos, uns artistas fracassados. Mas não os renegava, porque ele mesmo passou boa parte da vida a descascar jovens e promissores artistas. Lembrava mesmo do seu tutor nos tempos de calouro no jornal. Na verdade um jornaleco, que hoje em dia é um puta jornal do caralho. Nas colunas sociais, todas as celebridades municipais estão a disputar suas caras e sorrisos amarelos. Que putos, ele pensava, mas nada poderia fazer. Ora, jornais estão aí para tudo. Inclusive para recepcionar, nós, artistas emergentes no mundo já tão disputado dos literatos. Já dizia, e não tornava a repetir que estava com medo de um crítico aparecer, mas ora, como poderiam barrar um crítico. Por acaso entra um homem com letras garrafais estampadas na testa, com as palavras CRÍTICO. Se assim fosse, todos eles morreriam de fome.



Eis que lhe aparece um homem de roupão estampado, vermelho, com flores pretas, e uma cueca samba-canção, andando pelo salão receptivo da área da comitiva. O homem punha nas mãos um livro do homem, que tinha aquele aspecto de todo livro de contos: Uma capa preta, letras em maiúsculo, com o título, e lá em baixo em braco-gelo, o nome do autor. O crápula, gritou o homem, que na outra mão, trazia apertada uma caderneta e uma caneta, um gravador e na ponta de dois dedos uma garrafa de um uísque barato. Sua barba disforme, por fazer, meio branca, sua careca descomposta, seus últimos pêlos, seu peito cabeludo à mostra numa camisa de botões que estava manchada de café, e os óculos a escorregar pelo nariz. Imagine Jack Nicholson em Os Infiltrados quando bêbado estava. Pronto. E lá ia ele, cambaleante, enquanto dois seguranças seguravam seus braços, e ele se desvincilhava, sutilmente, puxando os ombros e caminhando entre os livros, derrubando alguns de propósito, e lendo um conto chamado, Os Malditos Sangue-Sugas, gritando palavras que ecoavam mais alto que as do autor,



- "E então, eis que todos eles ficavam boquiabertos diante das exigências do editor-chefe do jornal em relação aos críticos, Peguem-nos nos mínimos detalhes, não existe uma obra sequer, musical, cinmatográfica, literário ou da puta que os pariu que esteja imune ao nosso minucioso trabalho. Fodam com a vida e obra destes putos egocêntricos que se aventuram em auto-biografias, que pecam pela falta de emoção das suas vidinhas medíocres, relatando inclusive a primeira vez que se masturbaram. Ora, a quem diabo interessa como foi a sua primeira vez? Músicos? Ora, se eles fazem um trabalho experimental, aí vocês apoiam, que é para aqueles molecotes pseudo-cults começarem a se achar uns cuzões porque aquela banda que usa a descarga de privada como instrumento musical é uma banda que merece notoriedade. Façam com que esta..." Mas o que é isso?, perguntou então de repente, fechando o livro e alisando a roupa do escritor, que ainda olhava com um sorriso dissimulado, meio envergonhado. Ora, se o meu pupilo não virou um homem.

- O senhor está péssimo, avaliou finalmente o escritor.

- É, mas garanto que melhor que o seu livro, falou irônico o velho, que sorria olhando para a cara do rapaz, batendo na capa do livro. O outro, que desfez o sorriso e lhe estendeu o braço para o lado de fora da livraria, pediu licença e saiu com ele a empurrar-lhe as costas, perguntando-lhe, ao longe, que diabo faz aqui?, e gesticulando, apontando o dedo na cara do outro, o outro ria, abria os braços, deixava a garrafa cair, levantava, sentava no chão do shopping, dava um pulo, enquanto o outro lhe estendia os braços e pela sua boca se entendia, Por quê?, e de repente, voltava o homem, e num gesto de enfado, sentava na mesa e o homem, no vidro da saída lhe sorria, dando adeus com as mãos. Que figura irritante lhe parecia!, e cansado, abandona a caneta, levanta da cadeira cansado, empunha um livro seu em mãos e sobe na mesa. Rasga a primeira página, a segunda e a terceira. Não é literatura, não é nada, se não for o que se pensa ser realmente. Que diabos, só é um pouco de verdade. Os críticos destruiram amanhã todas as duzentas páginas, mas e daí? Amanhã surge mais um sucesso, e eu vou lá e desço o pau nele também. Que se foda. Eu mesmo vou falar sobre o meu próprio livro. Estão vendo este conto, O Dia Em Que Sertanejo Chorou, é uma merda,da qual eu me aproveitei da linguagem chula para chamar a atenção. Estão vendo o conto, Último Dia de Sucesso, é demasiadamente ordinário, usei do dramalhão para descrever a asceção e queda de uma banda, e daí, bandas dão em árvores, você chuta uma e nasce a melhor banda do mundo de todos os tempos da semana. Cantou algumas músicas, rebolou na mesa, empunhou seu livro por completo, queimou, e desceu da mesa e deu as costas ao público.



No outro dia, que livro era aquele, senão um que não mais estava nas prateleiras? Não era mais nada, senão o último best-seller da última semana. E lá estava ele, na sala do editor-chefe da revista, a pegar seu emprego de crítico de volta. E no final das contas, ele próprio tinha razão: Os críticos são uns artistas fracassados.



Cansado.

Amanhã é domingo e eis o pior dia da semana.

Falta de criatividade, falta de saco e paciência.

Melhor seria morrer amanhã.

Não sei o que há.

Eu deveria estar num dia inspirado para escrever.

Mas não dá.



Escutando "The Desperate Kingdom of Love", PJ Harvey, do albúm Uh Huh Her.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fobia.


De repente, foi como se seus olhos se assombrassem com a imagem que surgia-se diante de si: o palanque, o homem que sorria de ofício, vermelho, e lhe entregava em suas mãos um sorriso para posto ser na cara, mesmo sem querer. O homem achou bom, pois era já um dia de superação de traumas e que dia!, vinha então este filho da puta para lhe fazer sentir o ódio provocar-lhe uma dor em sua úlcera. Tem gente que não tem mesmo o que fazer, chegou a pensar. Em pensar que isso pode ser considerado um trabalho, Um absurdo. Não pensou duas vezes ao empurrar-lhe o peito e vê-lo cair no chão, sim, fê-lo rir de verdade, com vontade, e o seu olhar assustado de presa, mais engraçado ainda. Perguntava, O que foi?, mas o homem não ouvia nada, já lhe estava pronto para lhe acertar um murro na cara. As crianças já choravam assustadas com a algazarra ali posta, a música já tinha cessado fazia um tempo. Não tinha Xuxa que desse jeito na perseguição tranqüila do homem.


O homem vira sua vítima pular a cerca branca desesperado de medo. Mesmo assim, a calma do homem parecia inabalável, andando e vendo por cada rua que o outro escondia-se com um olhar target. É uma máquina.


No pequeno beco, o homem mais parecia um rato a fugir de sua morte certa. Agora ali diante de si, não teria quem gritasse-lhe, Não faça isso com o pobre homem, pelo amor de deus. Tenha piedade, piedade, o caralho. Como um verme deste, um infeliz vinha a fazer-lhe a estupidez de ir-se assim a penetrar casa adentro e ser mais bem recepcionado que ele, dono da casa, por seu próprio filho. Uma coragem tremenda a sua, rapaz. Crueldade é o mínimo que este porco merece por tudo. E assim o homem encurralado já não sabia mais o que fazer, já havia dito, Por favor, não faça isso, não faça nada comigo. Mas já era tarde, pois a pistola que nunca saiu do coldre, já estava posta em mão, pronta para disparar. Já poderia sentir o baque, a parede imunda em suas costas sujas do vermelho-sangue a descer lentamente pela parede. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram. Mas veja que azar, a pistola sem balas deu um tique, e nada saiu a não ser o barulho seco da pistola intacta. Merda, ele pensou, soltando um suspiro de enfado, misturado com a raiva frustrada. Não pensou muito, ao ver que o homem ria da sua cara por causa da merda que deu. Foi até a direção do homem e acertou-lhe, segurando pela gola da camisa um, dois, quatro, nove murros com os nós dos dedos, que explodiam pela cara do homem, manchando-lhe a maquiagem nojenta, e fazendo-se sentir os magros ossos, quase a sair da carne, trêmula de raiva. Não satisfeito, a pistola foi-se na sua testa e nariz, o cabo, com toda força e violência, destruindo seu sorriso de ofício, seu sorriso de palhaço patético. O primeiro crack que se viu, já foi-se junto com o líquido cor-de-petróleo que desceu do nariz do homem. As coronhadas que seguiram-se, deixaram a pistola, e não somente, como também, a cara do palhaço aos frangalhos. Na cara, a maquiagem patética, assustadora, com pedaços de dentes, ossos expostos, misturados a uma sopa de sangue e ossos aos caquinhos espalhados que se estendia por todo o beco chegando-se até o lixo.


O homem fora embora com a sensação de dever cumprido, mas em compensação, tivera a certeza de que nunca iria superar na vida o medo de palhaços em festas de crianças. .


Hum, UECE! Letras - Português, Noturno, Bacharelado.

Acertando 39 scores em tudo! Ta que o pariu!

Passei, caralho, tudo de bom, menos a cabeça raspada!

D:


Jane, que saudade de ti, mulher!

Tua pele morena, teu sorriso, teus olhos,

tua boca, teus beijos, teus abraços, tudo teu!


: )

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Zé Saramago.



Quase nada clichê, mas, o fato é que José Saramago mudou um pouco esses meus conceitos pré-fabricados em relação ao mundo. A notícia da morte dele abalou -me bem mais que a notícia da morte do meu avô, que acontecera á quatro meses atrás (só espero que ninguém da minha família veja isto), pois ele infundiu em minha cabeça muitos mais conceitos e ideias de dois anos para cá, que meu avô desde o dia em que nasci. Mas o fato é que não vou discorrer muitas linhas acerca da vida deste homem "que nem sabe que você existe", como disse a minha tia, no dia em que resolvi usar preto durante uma semana, devido a sua morte, mas sim, vou relatar do meu primeiro contato básico com José Saramago enquanto artista (e sempre foi assim, pois nunca ví-o). Sei que ouvi falar dele pela primeira vez quando foi lançado Ensaio Sobre a Cegueira de Fernando Meirelles, e Marcelo Tas, do CQC, dera um entrevista na época a revista PLAYBOY, onde afirmara que Meirelles era um gênio, enquanto que Saramago era um velho ranzinza e gagá (perdoem-me se falo bobagem, mas faz muito tempo que não vejo esta entrevista, e "gagá", não sei bem se foi este o termo, mas sei bem que não foram adjetivos de diferente grau de beleza), daí depois vim ver que ele escrevera a pouco um livro que tive a curiosidade de abrir, e sentir o cheiro, na loja Saraiva, que era A Viagem do Elefante, que me pareceu estranho pacas, este título, "seria isto a narrativa da viagem do elefante até o local onde solitário ele morre?", pensei na hora, lembrando que meu amigo Afonso havia dito isso um tempo destes. Sei que abri-o, e decidi ler até o final do primeiro parágrafo, e vi que o fim daquele parágrafo não chegava de maneira alguma, e eu já estava quase chegando à página cinco, e que já começava a me perder naquele jeito de pontuar as falas, seguidos de vírgulas e letras maiúsculas, que me deixaram confuso, e acabou que desisti da leitura. Pouco depois, quando por culpa de uma epopéia, chamada Crime e Castigo, me habituei a extensas leituras, resolvi ler Ensaio Sobre a Cegueira, pouco tempo após ter ouvido falar do filme, e decidi que só iria assistí-lo quando lido tivesse, o livro. Meu primo não trouxera da biblioteca da sua faculdade o Ensaio que queria, mas serviu como base de leitura, O Ensaio Sobre a Lucidez, que era a continuação da Cegueira, narrando a mesma cidade, que fora acometida dois anos antes pela cegueira branca, agora fazia com que as autoridades sentissem o poder do voto, com uma população inteira votando em branco. Não cheguei a lê-lo por completo, mas sei que a possibilidade de criar um país imaginário, povoou a minha cabeça, nas minhas aspirações literárias, que ainda hoje são fortes, mas cada vez mais conformadas na possibilidade de não existir.

Logo em seguida, fui surpreendido pelo lançamento de um livro chamado Caim, onde o próprio viajava pelo tempo, nas páginas do Velho Testamento. E ora se o velho ranzinza e gagá não era lá um cara tão audacioso. Logo vi algumas entrevistas suas, algumas leituras suas, nos sites de pesquisa, e vi que era um ateu, dono de vigorosos argumentos anti-clericais, e que era um "comunista-libertário", como gostava de se auto-definir, e tinha suas questões filosóficas em relação ao mundo e, conseqüentemente, à humanidade, tal qual tenho. Claro que a minha premissa boba de "Eu odeio o mundo", ou "O mundo é um bolo de merda sem cereja", não são eqüiparáveis aos pensamentos de Saramago, mas sei que um dia chego lá, e para minha surpresa, minha amada, no natal, deu-me o então famoso, talvez o mais famigerado, livro de Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira. Foram quase quarenta e cinco dias de leitura, senão um pouco mais, mas no final das contas, eis que senti um grande apreço, maior que o que já tinha antes pelo velho. Tanto, que um dia destes, comprei para Minha Amada, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, que fora o responsável pelo seu auto-exílio em Lanzarote, arquipélago das Ilhas Canárias, que fica entre Portugal e Espanha, por parte de um conflito de idéias entre o escritor, e os princípios cristãos do país, que é, reconhecidamente, cristão por histórico reconhecimento. Sei que não tive tempo de lê-lo ainda, mas as poucas páginas que pude folhear, sem muito esbravejar, como fora o impacto inicial com o estilo "Saramaguiano", é que o "gajo", puera em folhas, não o Jesus Cristo, santo, deus, todo-poderoso, mas sim um Jesus de Nazaré, humano, com grande poder para com as palvras, que sofreu, morreu e amou. Desmistificou muitas das metáforas bíblicas, no primeiro capítulo, como por exemplo a idéia de virgem Maria, que ficou claro, logo de início. A afronta fora tamanha, que Saramago se refugiou na dita e ilha e lá permaneceu até a morte.



Antes de morrer, Caim, seu último livro provocou ainda um certo frisson por nos conceber ali, mesmo na beira dos noventa anos, um homem de idéias que caminham em linha reta, e não vão se enfraquecendo ao longo da idade, vigor, sim. Com a mesma astúcia de sempre, foi lá e fez o que já era constante na sua obra, tão extensa, que começara já tardiamente, com Terra do Pecado, em 47, só veio voltar a escrever com Levantado do Chão, em 77, coincidiu mesmo com os tempos rancorosos de Salazar, em Portugal, que vivera uma ditadura de caráter fascista, criticou as instituições, e a sua preferida, a Igreja Católica. Soube, por via de sites, que estava ainda a escrever um livro sobre tráfico de armas, mas que ficou pelo caminho, ao passo que morreu, e deixou para nós, seus enormes parágrafos, com diálogos estranhos e situações mais ainda.


Fica aqui, uma lista de livros, que (segundo dizem), são essenciais em sua obra:


  • Levantado do Chão

  • Memorial do Convento

  • O Ano da Morte de Ricardo Reis

  • A Jangada de Pedra (que foi listado para o vestibular da Ufc, mas finjam que eu não disse isso, pois eu não li)

  • História do Cerco de Lisboa

  • O Evangelho Segundo Jesus Cristo (que breve falarei sobre ele)

  • Ensaio Sobre a Cegueira (também, mas quando apresentar-se a hora oportuna)

  • A Caverna

  • As Intermitências da Morte (esta, uma história interessante, sobre o dia em que a morte decide não mais levar ninguém)

  • A Viagem do Elefante

  • Caim

É isso.



Pensando em como vai ser bom ser massacrado pela prova do vestibular amanhã, no quanto falei sobre este troço para a Minha Amada, e no quanto eu estou ficando doente da garganta. Ah, e no quanto eu sou idiota em não ser o que as pessoas querem que eu seja. Mas como o farei, se é tão difícil saber o que querer até de si mesmo? Fica a dúvida. E fica também, a frase que é a dúvida de Saramago, e também a minha: "O que é isto?", Por quê estamos aqui afinal? Para onde vamos e de onde viemos? "Acho que vou morrer sem descobrí-lo". Ora, todos nós, saudoso José. Zé, meu querido Zé.



Eu te amo, meu amor! Troblóvsky, pra você!


(Assistindo aos poucos, pela 45ª vez "Gladiator", na parte em que gritam do Coliseum: "Maximus! Maximus! O Misericordioso!", fico pensando no que o rei deve ter feito com ele...)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Listas, Black Hole Sun, Surrealismo, David Lynch.




Hoje acordei cedo, e liguei a tv. Pus na MTV, e eis que estava passando um MTV Lab Listas. E se há uma coisa que gosto, são as listas. Listas me indignam, e me atormetam, mas também me fazem feliz. Um exemplo? Ora, é péssimo descobrir que seu nome não está numa das listas mais desejadas de quando você tem dezoito anos, que é a lista de aprovados. É felicidade e frustração na mesma proporção. Cinquenta por cento pra cada lado. Listas me emputecem, às vezes não pela falta, mas pelo excesso de coisas. Por exemplo, peguei esses dois livros que dei uma rápida olhadela em cada um. No primeiro, há quem diga que eu sou um escroto, mas o que diabos um cd da Britney Spears diferenciará no meu futuro? E no segundo, o que Pânico está fazendo naquela lista? Poderiam ter posto qualquer outra coisa ali, sinceramente. Mas esses são os críticos. os críticos sabem o que dizem, e podem mandar um artista ás estrelas ou á merda com um simples gostei ou não gostei.


Mas a lista hoje era de clipes surrealistas. Havia um clipe da banda paralela de Thom Yorke, havia um clipe do Nine Inch Nails, que coincidentemente é tema de um filme de David Lynch, do qual vou falar logo em seguida, e veio então o clipe que mais gosto, que é de uma estranheza claustrofóbica. Nojento, imbecil, intrigante, curioso, escroto, medonho, bem bolado. Todos esses são adjetivos dados ao clipe, que ouvi durante as vezes que mostreio-o para alguém.



Black Hole Sun, é uma música muito bonitinha em seu começo, mas que logo em seguida abre espaço para as distorções, as guitarras doentias de Kim Thayil, que saem desafinando tudo na hora mais macabra do clipe, quando os habitantes de uma cidade (que pode ser qualquer cidade estadunidense, com aquelas cercas brancas e pessoas estranhamente felizes e sorridentes) são tragados para dentro do tal "Sol do buraco negro". No clipe vemos coisas que de tão absurdas nos causam três sensações: ou estranheza, divertimento ou nojo. Crianças queimando baratas com lupas, um alquimista (?), gente babaca, babando de frente a uma tv, sorrisos macabros que se abrem de uma maneira assustadora com efeitos especiais de última geração. Toda aquela ditadura da moda, com a mulher se requebrando toda em cima de uma máquina que tem uma cinta enquanto passa um batom (na cara), um dálmata na banheira, crianças se debatendo, bonecas na churrasqueira... Difícil de entender não é. Quer dizer, pelo meu ponto de vista. Vejo mais como uma crítica ao modo de vida dos EUA. Fúteis.



Mas esse surrealismo passa longe de um filminho de quinze minutos do qual acho que muitas pessoas já ouviram falar, que se chama um Cão Andaluz. É um filme francês realizado em uma parceria entre o grande diretor espanhol Luis Buñuel e o grande pintor surrealista Salvador Dali, também espanhol. Ninguém entendeu, para variar. Mas como a função dos artistas do contexto não era fazerem-se entendidos, e sim, mostrar uma nova corrente de pensamento que se difundiu naquelas épocas, com o Modernismo que se estendeu na literatura, nas artes plásticas, e como podemos ver, nas artes visuais também. Essa premissa de querer revolucionar é uma ideia que não sai da cabeça alheia, e um diretor em especial causa impacto na minha cabeça e derrete todos os meus poucos neurônios.




David Lynch, ao contrário do que muitos pensam não é um diretor surrealista propriamente dito. Não tal como foi Buñuel. E sim o cara muito inteligente que quis modificar padrões pré-estabelecidos no tal cinema hollywoodiano. Seu filme Mulholland Drive é uma mostra disso. O filme, que eu demorei três anos para fundar uma ideia que está muito próxima de se desmanchar que vai ser no momento exato em que eu assistí-lo novamente, é m quebra cabeças bizarro e surreal, que tem características já famosas do diretor, que é uma quebra do eixo temático da história. Tal como ele fez anos antes com Lost Highway (que eu não vi, por isso não vou comentar), e faria novamente em 2006 com INLAND EMPIRE (assim mesmo, com letras maiúsculas), que é um filme concebido sem nem ao menos conter um argumento de uma refilmagem de um filme polonês que foi "amaldiçoado" pois os protagonistas se envolveram e foram mortos (falando assim é fácil, mas vai entender o que diabos é aquilo...). Mas essa fixação do diretor já vem desde o seu primeiro filme, Eraserhead, que é um horror pós-industrial que fecha as possibilidades de um entendimento ao menos primário do que o diretor quis dizer, já que o filme não deixa nenhum resíduo de certeza para ao menos fazermos demagogias bobas, do tipo, "Ah,
o filme é uma amostra do quantos estamos esquecendo de viver, do quanto é difícil conviver numa futuro sem perspectivas. Que a única esperança é a vida após a morte, o sossego eterno". O caralho.


No final das contas, o filme não é nenhuma coisa nem outra, senão uma obra de grande impacto visual. O diretor tem mesmo alguns bons filmes, que não o afastam tanto assim de fãs, como eu sou, como o clássicos dos anos oitenta, como, O Homem Elefante (baseado numa história real), Coração Selvagem (que também não assisti, mas sei que ganhou a Palma de Ouro em Cannes) e Veludo Azul, este, onde o saudoso Dennis Hopper (que os vermes o devorem com respeito) maltrata de uma maneira doentia a belíssima Isabela Rosselini. O filme mostra, assim como o clipe Black Hole Sun, o horror por trás das belíssimas cercas de madeira pintadas de branco e dos sorrisos saudosos de quem tem cara de fazer propaganda de leite em pó o tempo inteiro.




Ouvindo Driver 8 - REM, com uma agonia de estar com o dedo enfaixado por causa de uma unha encravada que foi arrancada numa mini-cirurgia. A perna formiga, parece até que estou com elefantíase (Homem Elefante!).

Jane, tu és a coisa mais gostosa deste mundo. Quero arrancar as suas bochechas, à la Hannibal Lecter e comer com ervilhas!


Mentirinha! Amo você.