sábado, 30 de junho de 2012

Doce Solidão -- Marcelo Camelo

Posso estar só
Mas sou de todo mundo.
Por eu ser só um
Ah nem, ah não, ah nem dá, ah
Solidão, foge que eu te encontro
Que eu já tenho asas...
Isso lá é bom?! 
Doce Solidão.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

imitação da vida

quando ele me ligou logo pensei, "carente. só me liga assim". mas, cê sabe a boba? a imbecil aqui? pois é. eu nunca soube dizer não até o dia em que ele finalmente me abandonou. sofri; relutei em admitir desde o fim até o sofrimento. o banheiro, esse cenário de novela, água e lágrima, corrediça entre as pernas. uma minha vontade, de, ah, amar -- afinal porque eu que o tinha tanto no peito não o merecia? saciar mesmo, sem remédio. mas essa cama grande e vazia... sofá, uma semana. engordei uns quilos, comendo enquanto assistia filmes antigos de madrugada, era eu ali, chorando no sofá ou era o retrato da insônia? me maquiei, fui ao mercado, quem vejo? ele, comprando carne. como sempre, os piores pedaços. ele tinha que aprender, por isso vi e não disse nada. me sorri amarelo, lhe sorrio roxa, sem medo. pergunta pouco, digo-lhe muito de amigas que não mais tinha visto, de lugares nunca mais visitados, alguns outros que conheci. ele sorri morto, enterrado. eu flerto fácil, blefo, não sei com que forças, e ele cai. o carrinho empurrado, a gente se vê, tomar um café, quem sabe, sugiro, cê sabe, que pode vir quando quiser. e vai. à noite, ele liga, eu estonteante, aumento o volume da tevê no canal de música, finjo não ouvir, ele diz que liga mais tarde ou amanhã. sento no sofá, desenrolo os cachos, rio, danço, cortejo meu par no ar -- essa imitação da vida.

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sábado, 16 de junho de 2012

Lemniscata

pra mudar,
um cigarro no outro;
este esperando
infinitamente
sou eu;
esperando
por deus,
pelo presidente
e acima de tudo
por mim
e por você
para começar
a mudar.

eap

quarta-feira, 13 de junho de 2012

a idade da pedra

eu tenho deslizado pelas ruas, lambido um pouco da água das sarjetas, sentido o calor do sol, amorenado a pele, e fumado a bituca do cigarro que o senhor joga no chão. eu tenho estado preto do sujo das ruas e tenho mendigado um trocado do pão. 

noite dessas eu te encontrei na rua, e me escondi, que teus olhos, essas duas luas, esses dois faróis, ainda me buscam na escuridão de cada beco das esquinas do centro, mas eu tenho que fugir, sabe?, não porque eu goste, mas, sei lá, dá raiva de ouvir tua voz lamuriosa, por isso, quando lembro eu me refaço, escupido da pedra e pronto, te esqueço. 

aí só quero outra e mais outra.

eap

sexta-feira, 8 de junho de 2012

verdades

ainda existe amor,
e eu te digo:
podes crer.

eap

as pernas do mundo

quando jovem existia tanto desejo, o tempo passou, quanto dos teus anseios foram satisfeitos? hoje em dia aquela vontade de criança de se crescer e ser, sei lá, adulto, se resume às obrigações mortas do dia -- que se não estão mortas, ao menos vão matando aos poucos, essa cruz. um bom yuppie, right, baby?

um dia, dei de relaxar. tapa na pantera, veio e disse, pô meo, deixa de ser careeeeta biiiêêêcho, vacilão da pôôôrraaa, meu, aquele hippie, sabe como é. como se dizia.

hoje, lembrando, parece que o mundo abriu as pernas para mim -- eu no orgasmo do mundo no meio daquela suruba universal de confluência de cor e som.

e tu me acredita, maria, que isso tudo é só um docinho debaixo da língua?

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vadinhos

é que dos amores máximos, ele sentia o mínimo. sabe lá porquê. não fosse maldade, as mulheres jamais o diriam, e uma mulher nunca mente -- aquelas todas, que ele encostou, com o papo mole, manja?, cafajestão, o bigode (na tua vida era a décima primeira praga do egito); todas sabiam, nenhuma resistia ao seus dengues de saudade. até as que levavam umas bolacha na cara, até as que ele sequer ligava -- pra quê? chegava, já é de se saber o que se quer. umas até ressaca de bebida ruim tratava, pra no dia seguinte sair dizendo que volta já.
(essa história, a novela de quantas, meu deus?)
eap

anjinho desasado

tinha tanto quanto pudesse, mesmo assim infeliz. aí veio aquele dia, que ninguém acreditou. tantas cartas, palavras, avisos prévios de natal, ano novo, aquele meio baldeado aniversário -- a vela não pedia outra coisa senão felicidade. uma corda, meu pai, o pescoço, mesmo grosso, não a sustentou -- esse tal anjinho desasado -- agora se sabe falho no alçar de voo.

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A Cura

Eu quero fazer um poema forte,
frio e duro como o ferro
inflexivo como o aço
inerte feito a pedra -- que mesmo
da mais pura, dura,
do mais rude traço,
ainda nasce a flor que cura.

eap

domingo, 3 de junho de 2012

Poesia Viva

Por quê é nas tuas palavras, nas tuas queixas
que eu encontro inspiração para reclamar e respeitar
o outro - tu me descobre os sete sentidos de uma palavra.
Que é na tua tristeza aqui e antes para depois euforia triste,
que eu faço poesia - que és bem tu a tal da poesia viva.

eap

Levantando Bandeira



(Escarrando o catarro purulento
de teu pulmão tísico
conquanto eu abro minhas feridas,
tímidas, de ser físico.)


Ai, Bandeira, quanta bandeira eu dou:
de ti em teus eu fiz a mim nos meus,
e hoje quem os olha já sabe que são eus,
por causa do muito de mim que de ti me inspirou.

Tua dor em vida, desejando vida
é minha dor de quase morte
esperando a sorte,
para que no final a gente se encontre,
naquela mesma esquina
onde os muitos e poucos se encontram
depois de finda a nossa sina.

E, Bandeira, eu te espero encontrar
qualquer dia desses,
ver de nós dois, qual mais dolorido,
inflamado e, ao mesmo tempo, calado.


eap