segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sad & Beautiful World

Rim Lee

A maré das coisas nos torna vulnerável, ou o contrário, às dores. 
Faz um tempo já decidi que não as iria mais sentir, e comecei a regredir alguns anos de minha (suposta) vida para voltar ao início, deitado em minha cama, fetal, às tantas da madrugada, e dia seguinte, acordar, ainda cheio do líquido viscoso da placenta, e cuidar de fazer daquele dia o primeiro dia da vida, sentir os primeiros ares, saber onde os ares são mais amenos, mais rarefeitos, onde bate forte o sol, saber que ele por muito tempo a deitar sobre a pele pode fazer mal apesar do belo espetáculo de vê-lo nascer. O sol nasce todos os dias. Nasce. E renasce. 
Assim, minha pele vai cuidando de adaptar-se aos seus raios, aos seus melhores dias. Os dias que nem sempre são bons – na verdade, a maioria é bastante ruim depois que toca o meio-dia – mas ainda assim divago nos divagares do meu monólogo particular. 
No intento de melhorar os pontos que se inconformam de permanecerem distantes – a vida se torna simples (como um círculo) àqueles que não se interessam por saber um pouco mais do que há por dentro da grande massa que nos revolve à tal maré... 
Nas mesmas poucas vezes em que me dispus a nadar contra a corrente das coisas, acabei por me defrontar com o poder abissal do mar – estar sobre a água, flutuar por algumas horas sobre, é o não ter medo de olhar para debaixo dos pés, ver o infinito se extinguir debaixo dos, and its a sad and beautiful world. Sussurrar isto ao pé do ouvido às minhas manhãs vai fazer com que eu vá aprendendo dia após dia em meus renasceres que nada vale a pena enquanto não nos tornamos cada dia um pouco mais surdos, mudos e cegos – ignorantes, insensíveis e indiferentes às pedradas que diariamente teimam em chover (à quem elas teimam eu não sei, apenas acontecem... entender é um começo).
It’s a sad and beautiful world.
E foi por isso que eu decidi naquele dia ir à praia. Fui ver até onde se deitaria o sol. O mar até tinha força de me entristecer, mas... eu ainda lutava, enquanto engolia água por todos esses anos que passei sem ter tempo de cuidar dos meus rins. Eles não agradecem, não podem e a porta vai se fechando a cada dia enquanto eu calado em renascenças ainda não aprendi a falar.
... e nem pretendo.

eap