domingo, 29 de agosto de 2021

o mundo por um triz e eu quero esquecer

o mundo está por um triz
e minha mente divaga com o som
das vozes estridentes que me dizem o certo e o errado
e eu não quero pensar, eu estou cansado de tentar,
tudo o que eu queria era viver sem escolher
sem conflito nenhum, numa paz que foi lutada por adesão
e não por convencimento pleno
ardil de nossos dias
eu tenho sentimentos controversos e contraditórios,
como toda a realidade que me curva
a ser um pouco menos eu e mais meu melhor
mas estou constantemente encostando no teto de minhas possibilidades
dentro de minhas limitações,
e eu sou limitado
limítrofe entre estrofes - qual o problema
em ser o poeta da obviedade?
eu só não quero nem posso viver sem uma maldade
que me faça bom
que me faça oco como um santo
e eu só penso que o mundo está por um triz
e minha mente também,
mas eu fecho a porta
e eu fecho a luz,
desligo a televisão,
e rasgo os jornais, antes de chegar,
para que tudo seja o momento -
em que deito no chão gelado desses dias quentes e sinto afundar
eu não quero mais viver
às vezes penso,
e penso também que viver é muito bom
mas pago para viver
e tudo se torna caro
que o que resta é sobreviver,
e o mundo, por um triz, clamando na porta,
e eu não tenho esmola nem pra mim,
por isso dou de braço com o mundo e tomo o mundo
pego a estrada
e vou embora
com o mundo a tiracolo
pedindo trocados dentro de uma sacola.

sofá

eu tiro um dia ou dois para cuidar de mim
e sei que por dentro e por fora 
eu deveria ser um pouco menos ruim
afago minha mão em ninho de passarinho
e canto no teu ouvido os versos mais bonitos
enquanto saio do banho cheirando a jasmin
a espuma do sabonete ainda exala no ar
quando a preguiça desses dias quentes
insiste em oprimir nossa preguiça
tão boa nesse sofá
onde fazer nada ainda causa cansaço
e há apenas de um tudo a se fazer -
mas não tem importância:
o mundo está acabando e silenciar
é essencial para se manter vivo
como se diz: falar é prata, calar é ouro
e é nesse silêncio de nada querer fazer
que as notícias tão tão ruins
não cheguem aqui
que eu só quero deitar e dormir
aproveitar o que ainda há de bom
que o mundo é muito vasto e se devasta
mas eu não quero sofrer por isso
eu quero sofrer só quando esse momento acaba.