sábado, 28 de setembro de 2013

Sem nome nº46


por aquele amor
ainda arrependido
de ter perdido
desperdiçado
eu dou um braço
e um nada -
realismo fácil,
altruísmo falso.

eap

nada jaz


luto pelo amor

que dela
pedi.

luto pelo amor
que serena
e molha

as páginas
de agora.

luto pelas coisas
que sei
que sei:

não peço "volta",
mas minha memória
não a quer morta

tampouco eu,
que a amo
em sê-lo meu

e mudo
coro as faces
pelo tudo.

luto pelo amor
que dela perdi,
e nada depois
valeu o que fiz.

luto por mais
esta hora
e as próximas

e pelo sono
sem senso
sem nexo
sem sonho.

meu sonho
é negro e perdido
numa madrugada
entre tantos copos
tantas bocas,
tantos corpos
tantas roupas.

eap

tempo (infinitivo)


faz de conta assim
que a gente
nunca teve passado;
corremos pro fim
do presente
sem nunca deixar
o que é ser/estar.


infinitivo.


para mim
que nunca fui dado
a desapegos
o futuro
é sempre do pretérito.


então sou assim:
agoranuncasempreado.


diz-se que da gente

o futuro sempre foge;
mas dia desses passeamos
por um infinito de horas
em que levantei as sobrancelhas
e lhes disse "eu sei":


era tudo a mesma coisa.

eap

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

-

22 de fevereiro de 2013

Meu lugar no mundo eu já não sei. Sei apenas das minhas palavras, e por favor, não me prive delas. Quero entrelaçar-me nos seus grifos, garatujar e engaratujado ser pelos traços e destroços que ela me proporcionar – a palavra não é a vida do escrevente, é arte à parte, arte à vontade, é tudo o que poderia ser e é, entre papeis, nas ideias – que são as ideias senão organismos vivos à procura de espaço, solitude? o que procura existência é algo que procura existir, portanto existe mesmo que sobreposto no nada. assim vivem as palavras que ainda não escrevi, que ainda procuram agarrar-se a ideias soltas que minha cabeça ainda não teve força de juntar.

eap

-



e dar-se – que grande covardia, a minha, claro, de não ser tão bom assim sozinho, de não ser próprio a esmo neste mundo. de não encontrar porto que descansar navegar, navegar... um mar de presente, esse popular galgar da vontade da braçada e ir... pra quê, pra quê, meu deus? busco ilha em que me firmar, aconchegado na maciez estável de areia... distante das marés instáveis. dessas quero distância.

eap

Sem nome nº 43



perdido
pra me achar.
e se, quem sabe,
eu me encontrar,
saberão
que foram em vão
todas as cartas.

eap

Sem nome nº 44



é fácil ferir a pele exposta;
serenar quando desistir
de tentar dar resposta.

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- à noite ela ainda procura teu cheiro
no lençol
- você sabe? você sabe?
- ela ainda molha as coxas
pensando na sua voz
ao pé do ouvido.
- sabe? sabe?
.......um ronrronar.
- desliga o rádio, dorme
e descansa - amanhã tua mãe volta
sabendo de tudo.

ela levou as roupas
que melhor lhe vestiam o corpo
que deixavam seus olhos brilhando
- ela morre todos os dias sem saber
que aqui tem uma mulher
que morre por ela...

[os galhos
da árvore
dançando no telhado.]

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meus cabelos ainda puídos
minha calça suja
das cinzas de cigarro...

os dedos unidos...
então, quem sabe surja
uma rua na tua rua,
me surja um lugar na tua casa,
na tua cama.
uma rua na tua casa,
um lugar onde cê não precisará
se esconder,
deixará teu rosto descoberto
quem sabe
até crescer.

eap

ensaio sobre capricórnio



para mim o que importa é o puro e o sólido, as coisas práticas e úteis, a vontade não é nada se não há necessidade e utilidade. seus ossos e lágrimas só pertencem à terra, em deus, quem sabe, ainda delego gosto pelas virtudes de meu suor. inicio com vontade, gana, e não me importo com as bestializações, as filosofias, as máquinas de sonhos, as sensibilidades – em que cauda de cometa, em que anel desses de poeira de saturno esqueci meus sentimentos petrificados, prontos para desintegrar-se como fosse assim uma estátua de sal, que não olha para trás? –não olharei jamais para trás, porque importa o tempo presente, meu sangue quente, meu suor, minha vida. deixo esse tempo para quem o quiser. importa querer e ser à custa de um retorno inversamente proporcional: nascer cheio de nada, morrer vazio de tudo.

eap