segunda-feira, 29 de julho de 2019

não adianta a métrica da vida

a vida se esvai num rio
deságua em mares
e, conforme dela corra um fio,
vai sempre ao encontro
de seus pares.

somos pequenas gotas de chuva,
grãos de areia do deserto
e toda miudeza que se acumula
das pequenezas muitas
do universo.

viver é um sopro que se dá,
que vem não sei de onde
e por mais que tentemos se agarrar
o curso certo de toda ventania
é ir longe.

mas se esse longe é breve
e toda vida se aninha na mão
de um gigante de passo leve,
talvez a gente seja parte de um
grande "senão".

mas não adianta trocar em miúdos
tudo que se pode dizer da vida
mas continuo a contar os segundos,
cansado de com a incerteza
conviver ainda.

terça-feira, 23 de julho de 2019

a saudade nos envelhece rápido

para laís helena alcântara souza
a quem devo saudade, afeto
e um espaço preenchido na história e na memória.

eu entendo tua partida
entendo que houve uma dor.
uma dor tamanha,
que não se mede pelo que sobrou.

queria entender mais
pra segurar uma tristeza tamanha
que também não se mede pelo peito
e é composta apenas de uma força estranha.

não posso voltar no tempo
mas se pudesse iria
te abraçar sem hora de acabar
te segurar as mãos
e não deixar esse tempo passar.

vou deixar teu nome no tempo,
vou deixar teu nome na história,
pra deixar que, sempre que precisar,
saibam que laís ocupa uma memória.

[mas fique aqui por perto,
fique aqui por dentro
e crie suas raízes
dê seus frutos, dê suas flores, dê suas sementes,
dê seu riso, dê sua presença, dê sua lembrança
mais além que uma pedra com teu nome e foto.
é o que fica dentro de nós que vai ocupar um espaço fora:
esse espaço vazio preenchido de ausência.]

já tenho saudades de você,
e essa saudade durará pra sempre,
o arrependimento também
- e deus sabe o quanto dói,
mesmo que eu seja incapaz de chorar -
fico pensando,
olhando esse vazio que você deixou,
não faz nem um dia,
e eu já me sinto velho de saudade.

tomara encontre o bem -
e se puder avisa, se puder me diz,
se puder me conta se você já tem a paz que sempre quis.

eu vou ficando, vou levar como der.
tenho tantos planos, tantos projetos,
ainda vou realizá-los - porque é o que me move
e vou te contar quando for aí - se você quiser.

terça-feira, 16 de julho de 2019

pixo

isso, de se escrever na parede das coisas,
ainda vai dar pano pra manga,
vai ser folha pras histórias
e ainda vai ocupar os espaços
de todas as memórias.

isso de ser
mancha preta em muro branco,
de levantar teu olhar pra cada canto,
onde a cidade se subverte em alento
é herança djalgum banto
perdido de nossa veia em algum momento.

isso de ser
mancha vermelha em roupa de varal,
na calada da noite tingida,
por coturno e boina cinza,
inda vai ser odiosa manchete de jornal,
nas calçadas de casas e lajes distintas.

mas é nas calçadas e nos céus de fios de poste
com vozes agudas que não podem fugir
abafadas em cigarro
e afogadas em café forte,
que eu vejo todo dia essa tinta emergir.

e eu, que já cansei de caiar esses muros
cansei também de esperar
e deixo o pixo do muro,
que é pela voz deles que a cidade vai falar.