segunda-feira, 21 de setembro de 2015

aliens (i, ii e iii)

olho para a vida como quem observa o fim do dia,
toda tarde se aurora o sol, coroa a noite,
num roxo-alaranjado-azul de nuvens cinzas,
e cresce por trás a lua, e dá a sua volta de 90 graus
entornos do nada,
rasga a malha do universo,
deixa apenas o reflexo da existência da morte,
quando vem a morte
a lua se vai, para aurorar em outro lugar --
mas a vida é assim para mim, que quando chega a madrugada
ganha ares de viver mais,
de pensar mais,
de se sentir mais à vontade
dentro do corpo em que fui condenado viver,
refletindo sobre a morte, a vida,
ou o que quer que seja,
enquanto a poeira do cosmos
recobre meus cabelos, e os seres interestelares,
de vida tão primordialmente superior,
vão tecendo os caminhos pelos quais
ninguém precisa atravessar o caminho de ninguém.
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observo o mundo
o mundo me observa
nós sabemos tudo um do outro
e ao mesmo tempo nos desconhecemos
eu sou só mais um,
mas existindo inexisto,
o mundo é ele todo,
nas páginas dos livros,
diante dos meus olhos,
o mundo é azul pequeno,
mas nesse quarto ele parece infinito,
e eu não posso nem ao menos tocá-lo,
fazê-lo meu, pois que não sou parte dele,
e nem de outro mundo, mas não sou uno,
como eu, outros aliens andam pela terra,
unidos em suas unidades,
unidos em seus egoísmos,
acabados em seus começos,
condenados em seus concebimentos,
julgados pelos seus julgamentos,
os aliens se dirigem aos seus quartos,
descrevem palavras ininteligíveis,
sem formas aos olhos mundanos,
tão fracos, tão fortes,
tão vivos, tão mortos.
quando formos carne,
união de toda forma,
os cães uivarão para a lua,
e saberemos que a hora é aquela
meia-noite eterna
para os seres que não dormem
conquanto se deslumbram com a mais boba ideia.
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abandonei-te um pouco,
como sempre faço nas vezes em que tenho
que purificar aquilo que chamamos
alma.
mas saiba já que viajei um pouco dentro
do que fui chamando de praticidade,
pelo peso que em meu peito rasgava
dizer cada uma dessas coisas
que sempre digo
quando quero te maltratar -- me maltratando
sempre
no final.
mas não há final,
porque sou feito de extenso oceano,
silencioso
e horrível
na face dos peixes abissais
iluminando a escuridão
apenas para afastar os que ousam aproximar-se
do sentimento cego que vagueia pela imensidão
sentimentos que raramente veem a luz,
apenas quando enquanto em flama
queimam ardentementes
no vácuo e sem dor
sem oxigênio
não há fogo
apenas o sentimento,
o flutuar das vozes
que sempre estão aptas
a dizerem o que há no meio
de tudo o que há.
sou alienígena
sem lar
sem planeta
sem sol
sem lua
sem água
cultivando um câncer
a cada turno de morte
a preço de salário.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

de si para si (momentos mornos)

dos bons momentos
quero o pudor de não sabê-los
e deixá-los tenros,
descansando mornamente em apenas estar
em banho-maria, esquentando o frio esquento,
para a delicada delícia de saborear
depois
o que outrora fora estrago,
o que outrora fora esmiuçar o que se pôs,

mas é que na hora
a gente não toma tento
do momento
e ele fica assim desatento por si mesmo
como se desejasse
ser mais que mero elemento
do agora,
gerundismos,
e eu me perdoo,
por ser intertexto,
mas há coisas que tomam forma
no momento em que são feitas.