sábado, 20 de outubro de 2012

distante

para juliana franco
(saiu quase sem querer)

viajarei:
e te veria,
te verão,
te invernava,
outonava minhas folhas
sem versos
e, em primeiro,
dormiria
primaveras
do teu lado -
cheira já antes no ar
qualquer coisa de lisergia
esse nosso
quase encontro.

eap

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

versos íntimos iii


isto é sobre amor
isto é sobre poesia

mais que te tenha renegado
em prol da prosa
por tantos motivos,
sabe lá deus, que é isso:
essa vontade - a batalha
vencida contra o papel
assustadoramente
branco.
essa surdez absoluta do senso
de tudo e de tanto, digo:
verso, penso, reflito.
cansa essa palavra, busco outra,
chamo todo meu vocabulário,
sacrifico meus irmãos
em prol de minha desgraça
como escrevente desses versos
só me permito ser
teu pai, tua mãe, teu amante
teu professor e aprendiz - saudade
de ser algo em tua vida
amargo os dias que passo distante
a te rejeitar... embora me venhas,
na mente minto:
eu te repudio, orgulhoso,
não te nego amor nenhum,
embora bem saiba
que, como todas,
me rejeitas, me esfria, me joga de canto
(talvez o segredo de me ter nas mãos
talvez o segredo de me mostrar
sem máscara nenhuma - ódio de amor,
amor pelo ódio, odiar amar tanto - tudo não passa
de uma ilusão - meus versos, minha tinta
meus dias, meus dias)
te busco na cidade,
te busco cansado,
te dedilho,
te surro,
te faço gargalhar,
sinto até teu cheiro,
enquanto me acompanhas
andando pelo centro da cidade -
sou o tumor que em mim mesmo fede.
sou a gana de me ter pelos dedos,
rabiscar tua pele sem senso,
tatuar nela meu nome e apagar
só para ter o gosto de reescrevê-la
e te ferir, ferindo-me, sem saber...
o vácuo que me apetece,
é ele quem me afaga a noite,
é ele quem me acalenta o dia,
é ele quem me dá a certeza de que estou certo
sobre todas as pessoas.
versos íntimos cheiram a sangue,
mas não são nada - um mero teatro
protagonizado por aqueles que não sabem viver.

eap

terça-feira, 2 de outubro de 2012

sobretudo, sobre logo

tenho que dizer que não tenho medo do dia que me sairdes porta afora – esta porta está aberta. como diz aí certa canção, quem deixa ir, tem pra sempre. mas, pulos, meu destino é traçado a cada instante ouço bem o que me dizem sobre ele, ouço bem até o que não me dizem. prefiro que saibas que de nada em mim te admira saber do sol, desses iluminares, dessa cidade, fortaleza até me admira se sustentar sob o sol, à beira mar mas me admira muito mais o jeito como sabe vivê-la (uma arte – sacudir a poeira, levantar-se e ir) em dobrar suas esquinas – em se perder quase sempre é nas ruas que eu encontro o copo meio vazio e cheio das coisas – as janelas me aparecem sempre abertas mesmo fechadas (até enxergo peças de peles pelas transparências). um meu raio de sol que se põe sagrado e profano, meio-dia, meio-meu (aprendi a beleza de se escrever o eu) mas, ainda contorno essas coisas (não usava coisa mas aí, quando me vi vazio, decidi abrir exceção e como dizem por aí, não há exceção sem regra, e não há regra sem exceção) sei que não sei, mas pergunto, por ti, a ti, até assoo o nariz mas, nada me faz tão feliz quanto saber que posso dizer o que bem queira, na métrica que eu decidi, que ninguém me fará parar – podem até não gostar, podem sim, podem apontar-me o dedo na cara, como já o fizeram, mas eu não vou parar... mesmo que eu mesmo o queira.

não é cisma nem birra, é uma doença.

eap

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

na real


fui lá e digo: me arrependo; aliás, arrependo não ter ido antes. disse que quis porque acreditava em mim, ela não, por ser mulher, por estar me amando demais, entende? pensei tanto sobre, mas não pude deixar isso passar:
considerei outras, entende?
quê? grande éfe dê pê você é, desgraçado.
mas...
ah, vá pra pê que pê. vá se fudê.
poderia entender?... que dizer a verdade seria dar a corda. não quis. preferi que odiasse. sei lá... amar é uma viagem besta. repente você tá no alto, amando, desse lado, por outro também, até que um, sei lá, repente acorda... foi assim.
tal noite invadiu meu quarto com um revólver deu três tiros no meu pau. fugiu, nem registrei queixa nem nada. merecesse, mas gritei tão alto, e disse tudo naquele fluxo de ódio. muito até, disse além das gotículas mínimas. daí saiu chorando. achei que fosse se matar com as outras três balas – e na real, não foi assim.
hoje casada... isso faz, sei lá, dez anos. me visitou dia desses, trouxe lírios, parecia outra. conheci seu marido e seus filhos – duas crianças lindas.
ainda bem que detesto crianças.

eap

amor mínimo

porquê volta, nunca perguntei; sabia felicidade d’em mesma cama tê-la, compartilhar desordem natural – essa perfeição dos dias.
madrugada passou, brigamos, xingamo-nos, ligo ligo ligo – o tal do tu-tu-tu insistente.
mês depois, volta, nada tivesse acontecido, beija absurdos, agarro-a, nada digo, fosse assim a mãe – amo-lhe assim: ganhando por perder a cada dia.

eap