domingo, 31 de julho de 2011

Ser




Fui vez dessas numa reunião de família, onde cada qual falava de si. Fiquei intrigado e ao mesmo tempo inquieto: eu não sabia que tinha tanta gente na minha família. Era primo disso, daquilo outro, uma coisa meio interessante, esquisita, mas, estranhamente familiar - não dá para definir.

Vi primos de segundo grau que guardavam feições minhas (e eu que jurava ser a cara de meu pai, que nada tinha a ver com a família de minha mãe), todos tinham aquele trejeito recôndito, brejeiro - meio broxa, mesmo. Parece um mal, um vírus, uma coisa ruim. Sentia-me mal por já não estar em casa, agora aquela semelhança maldosa me dava asco, quase.

Sentamos todos numa grande mesa, o patriarca moribundo na ponta da mesa com aquela cara de felicidade, pensando talvez Em pensar que vim da pobreza, sem lenço nem documento, só a cara e a coragem e hoje que bela família. Bela, ele diria, ou simplesmente ria-se de sadismo, da dor que lhe pungia. Era um câncer que lhe carcomia por dentro, estava ali com aquela cara de Ai ai ai, tomara que ninguém perceba. Mas eu olhava para tudo inquieto, observava cada feição, cada gesto, cada riso, cada beijo, cada olhar-facada... Minha mãe chamava-me ao canto, dizia,

- Olha, filho: esse é teu primo, filho de meu irmão, que voltou, sei lá de onde. O cara sorriu, me apertou a mão, sorriu, e eu vi na sua cabeça um negócio que já tinha visto na cabeça de certas pessoas. Um cacho lhe descia do lado de cada orelha. Era um rabino? Não sabia que tínhamos judeus na família. Pra você ver quão fundo se ainda pode cavar.

Na história da tal mesa, surge então um apascentador que diz complacente,

- Olha, acho que aqui muita gente nem se conhece que a família que o seu José constituiu é uma coisa que nem ele tem dimensão do tamanho, né, pai?, ao que o velho gemeu,

- Hun!, todos riram - que sacanagem. Era o câncer matando o velho e todo mundo se empanturrando de churrasco e massa de pão. Eu pus a mão na cara num gesto que minha mãe reconheceu, de impaciência. Fez ela um sinal de calma eu balancei a cabeça e suspirei, Fazer o que...

E começaram todos a apresentar seus feitos, seus nomes, sobrenomes, mestiçagens, religiões, países em que moravam, países que passaram, seus empregos, seus desejos, o que sentiam. Ora, tinha gente de tudo que era gosto. Mas todos eles guardavam coisa de si mesmos. Eu vi que tinha, claro, que o mundo é vasto, mas nem tanto, tinha coisa que se repetia, como A felicidade que sinto de estar aqui reunido com a minha família, ou, A vontade que tenho de sorrir agora numa foto com todos aqui; nisto a ideia foi aplaudida e aceita.

- Um brinde ao sorriso da família do sorriso mais bonito!, gritou um imbecil. Que tipo de adjetivo se dá a uma família? Eu os chamaria de hipócritas se pudesse. Mas eu tinha preguiça de rebater qualquer coisa, só queria que aquela reunião amorosa findasse. Mas a família não tinha fim. Tinha gente que dizia que amava o mar, que amava o céu, a praia... Muitas pessoas gostavam de ficar em casa, mas elas não tinham cara de que faziam algo... interessante, para não dizer, algo que fosse decente - eram os primos ricos, que não estudavam, não trabalhavam, só dormiam e usufruíam da aposentadoria das minhas tias - uns parasitas sociais. Tinha um ou outro parente que me surpreendeu: um era escritor de livros exotéricos, outro era empresário do ramo da moda, outro era rasgadamente homossexual o que causou certa repulsa por parte de um ou outro mais conservador - o primo judeu foi um. Chegou então a minha vez de falar de mim mesmo. Eu não tinha a menor ideia do que dizer, e como sempre, tremi todo, fiquei vermelho roxo, azul e amarelo em segundos, mas consegui falar, ainda que convulso,

- Sou um sedentário, leitor, preguiçoso, crítico do cotidiano, rabugento, sorrio porque me obrigam, odeio fotos, tenho tendência para a esquerda, embora não concorde com o que aconteceu na União Soviética... Sou ateu, não discuto religião, não tenho nenhum preconceito contra quaisquer tipos de credo, opção sexual, ou condição financeira, porque, ora bolas, eu sou pobre, tenho sonhos, não sei nadar, nunca peguei catapora e acho que George Harrison foi o melhor dos Beatles. Odeio o mar, a praia, o sol, sei que vou morrer antes dos 40, não gosto de relacionamentos, preferiria ter nascido vegetal e odeio todas as instituições, a começar pela família.

Não poderia esperar que me considerassem normal depois que disse isso e depois me sentei de um supetão. Todos ficaram se entreolhando, com aquela cara de espanto. No entanto, mesmo sob os comentários que minha mãe ficou azucrinando em meus ouvidos no carro em volta para casa, eu ainda conseguia ainda ler Clarice sem culpa.






E,a,p'

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um Recado à Minha Geração



Que me perdoem a crueldade
com que vou dizer o que penso,
mas é que na verdade
é isto o que é de comum senso:

É que a gente segue
sem pressa alguma
de ir,
de voltar,
de chegar
em qualquer lugar.


E,a,p'

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fabulário Geral do Delírio Cotidiano - Charles Bukowski


Talvez, apesar de todo a classe, Rubem Fonseca tenha tirado daqui boa parte do título de Secreções, Excreções e Desatinos, pois que não é diferente o enfoque que o gloriosamente chulo Charles Bukowski direciona seus mais de 30 contos - em sua maioria ambientados na catastrófica cidade de Los Angeles, que tanto viveu, amou e onde ambientou a maioria de suas histórias bizarras, escrotas, violentas, etc..

Lá se encontra toda a famosa arte que criou, de prosttutas, mulheres de amor fácil, amigos bêbados, iniciantes a poetas, as suas influências do meio literário estadunidense e outras, além de ser muito difícil disvincular a imagem do próprio Bukowski da maioria de seus contos - que poderiam muito bem se enquadrar no gênero crônica, já que alguns não passam de simples observações sobre determinados assuntos, livros, autores e aspectos socio-políticos em relação ao estilo de vida norteamericano, e a maioria extravasa o nível da ficção (ou implode à uma realidade tão absurda quanto possível, que era de toda, ou boa parte, a realidade do Velho Safado), chegando inclusive o personagem principal a ser ele mesmo: Buk.

Ginsberg, Hemingway, T.S. Eliot, Pound, cummings, e uma gama de influências literárias são demonstradas e analisadas pelas palavras do velho - inclusive, aos mais puristas, vai soar um tanto quanto polêmico, pelo fato de que Buk não gostava nem um pouco de Leon Tolstói, principalmente, daquele seu Guerra e Paz. Na antecapa do livro há um logo em vermelho: O último grito da geração beat. Ora, Bukowski transcendeu a geração "beat" - mesmo porque, esta durou até pouco antes de suas publicações, além de em pouco bater com seu estilo.

Mas, partindo pruma análise um pouco mais pessoal, Bukowski dos romances não é o mesmo dos contos. Li boa parte de Misto Quente (clássico obrigatório para quem o curte) e Pulp, que parecem ser os lugares onde as palavras de Buk se acomodam com maior facilidade e melhor expressão. Não sendo este um livro menor, o problema sou eu em relação aos contistas que escrevem romances e dos romancistas que escrevem contos. Por exemplo: o mesmo Fonseca, é um dos melhores contistas que já li, entretanto, ao ler o seu Agosto, cansei-me facilmente, pois que a leitura é mais clássica, menos visceral, mais densa. Poucos são os contistas que sabem navegar no romance (ou nos dois gêneros). A maior exceção do nosso meio está para Machado, que atuou em todos os gêneros (conto, crônica, poesia, romance, teatro, crítica...). Buk também foi um poeta nato. Escreveu para mais de 30 livros de poesia, dentre as quais, talvez a mais famosa, seja uma chamada Bluebird - a qual aqui já recolhi parte dos versos - que demonstra que os brutos também são sensíveis - ou que a brutalidade é apenas uma casca fina, criada para sua própria proteção.

Alguns contos, enfim, valem a pena perpassar uma boa olhada e repetir depois de findo o livro, dentre os quais separei alguns por ordem de aparição: Na Cela do Inimigo Público Número Um; Cenas da Penitenciária; Você Aconselharia Alguém a Ser Escritor?; O Grande Casamento Zen-Budista; Sensível Demais; Se Quiser e Gostar; Sem Meias; Um Bate-Papo Tranquilo; Cerveja, Poetas e Mais Papo; Uma Para Walter Lowenfels; "Animal Crackers In My Soup" (o melhor de todos, talvez); Um Cara Popular; O Grande Rebu da Maconha e O Cobertor. Em todos, explode a crítica sagaz e mal-humorada de um homem que apanhou demais da vida - mui provavelmente.

E,a,p'

sábado, 23 de julho de 2011

Retrato da Estante Quando Jovem

Da direita para a esquerda: "Tieta do Agreste", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "Gabriela, Cravo e Canela", "Farda Fardão Camisola de Dormir", "Mar Morto", "Os Verdes Abutres da Colina", "Vidas Secas", "Memórias de Minhas Putas Tristes", "Cem Anos de Solidão", "Caim", "As Intermitências da Morte", "O Homem Duplicado", "A Jangada de Pedra", "O Homem de Fevereiro ou Março", "Secreções, Excreções e Desatinos", "Feliz Ano Novo", "Benjamim".





Direita para a esquerda (exceptuando os já ditos): "Melhores Poemas de João Cabral de Melo Neto", "O Estrangeiro", "Guia Do Mochileiro das Galáxias", "Laços de Família", "Olhai os Lírios do Campo", "A Gaia Ciência", "A Princesa da Babilônia", "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", "Trópico de Câncer", "Pulp".

Faltam nesta lista: "O Eu Profundo e Os Outros Eus", "Ereções, Ejaculoções e Exibicionismos - Parte II: Fabulário Geral do Delírio Cotidiano", "Estorvo", "Budapeste", "Leite Derramado", "Ensaio Sobre a Cegueira", "O Processo", "A Metamorfose", "Agosto", "Quincas Borba", "O Natimorto", "O Cheiro do Ralo", "Jesus Kid", "O Chefão", "Medo e Delírio em Las Vegas", "Laranja Mecânica".


ps: Título baseado no título de um romance (que um dia hei de ler) de James Joyce: Retrato do Artista Quando Jovem.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Consequências




Demorei então até descobrir enleado
que é de fim que se faz o começo
como é noite e em que já amanheço
a pensar em seguir o mesmo lado

pelo qual tenho estado em começo,
enquanto que no fim desde o passado
tens ficado: esta boca de beijo acabado,
meu amor por ti derramado: arrefeço,

como pobre diabo em tristeza logrado.
De chama acesa: por dentro apagado
como tudo que vai sobre a mesa, é fato

que me esqueceste no fim do teu preço
e não sou mais quem um dia fui preso
ao teu sofrimento, em mim mutilado.

E,a,p'

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Viagem (Parte 2) - Carta Aleatória



Retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros



Meu caro,

Uma vez dessas eu te disse, lembro bem, que era a primeira vez que sentia algo que parecesse com ódio. Mas bem não era: soube disso agora, que perpassava os olhos pelas velhas lembranças duma infância que passou por nós dois, Zé. Olha, que a infância passou rápido, tanto que demorou para acontecer... Hoje que ela é, senão aquele resquício sujo, como fosse última gotícula de delícia no fundo da panela? Eu sinto dó e dor. Mas não por nós dois, por essa nossa distância, por esse nosso rosto frio - a mão trêmula com garra negra, o olho duro e esbranquecido, de tão branco esquecido, de tão esquecido, pálido: branco. Era fértil o terreno que fecundava nossa pequena horta de alegrias. Hoje é mais um dos muitos pedaços.

Lembro de todas as datas especiais, as que não foram tanto assim, as que parecem que evaporam da memória, como a esconder qualquer coisa, mas vendo bem assim, não fizemos qualquer bobagem, posto que a nossa vida era a tranquilidade das plantas que cresceram em minha antiga casa - vá lá ver e não vais mais reconhecer aquele casebre abandonado e amarelo pelo tempo. Hoje sobram bitucas de cigarro das nossas fugidas da aula no chão da calçada da escola, um pileque de cachaça no barzinho que ficava lá em frente, aqueles pulos desesperados pela porta dos ônibus para fugir da passagem, tua revolta, meu grito, nossas vozes, as vozes de Tati, do Curumim, da Sandra, os meninos todos. Quem morreu, quase eu, e boa parte. Zé, eu descobri: a vida é uma gatuna.

Se te escrevo assim, rápido, é que a saudade me aperta o peito, me dá nó na alma, dor na goela. Semana passada lembrei de você enquanto comia. Senti uma dor sisuda no estômago - lembrei de tua gastrite, do jeito como tu debruçava a cabeça sobre o meu ombro e sentia a dor, sem chorar: ria. Teu sadismo montou essa minha personalidade, e se a morte deixa alguma coisa de bom, eu ainda não consegui descobrir, que de tudo aquilo, só sobrou a falta, que é uma traça que vai comendo pedaço por pedaço impiedosamente. Quando eu dei por mim, escrevia esta carta pra esse amigo velho. A página vai amarelada: mancha de café que eu não tive coragem de escrever tudo de novo. Bem me conheces, sabe que minha vontade é sempre aquela de ser engolido pela cama toda manhã. E não me culpavas, agora então, não me culpes, que eu sou assim.

De tudo, deixo que saiba que sofro, mas não de saudades, nem clamando por teu retorno. Sofro por não poder gritar minha ferida como tu gritas e a deixa e exposta. Bem que no fundo, mesmo negando, há em ti essa poesia inquieta que não te deixará ser feliz enquanto não assumirdes este lado obscuro que de ti emana, meu mano. Saiba: É aqui que fico, aguardo teus beijos, teu abraço, teu afago, tua reconfortante presença - ou quem sabe, me mate logo com tua absoluta ausência, que viver assim é que não dá.

Um abraço, até a vista.

Desse teu amigo que tanta falta sente, E.


Fortaleza, 20 de Julho de 2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dia Mundial do Rock - 13 de Julho.

The Strokes



Nirvana


Sonic Youth


R.E.M.


Joy Division


Ramones


Sex pistols


Iggy Pop


Led Zeppellin


Jim Morrison


Jimi Hendrix



The Velvet Underground



The Beatles



Johnny Cash



Elvis



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É de som,
é de fúria,
bate som,
acorde rouco,
que é pra acordar
toda a humanidade,
que é feito o rock.

Troquemos nossas figurinhas,
sejamos parte deste todo,
e era tudo isso o que o rock queria:
fazer gritar a voz de todo mundo.

Dos desvalidos,
dos deprimidos,
dos irritados,
dos inibidos,
dos sujos,
dos penteadinhos,
dos engravatados,
dos desfigurados,
dos pintados,
dos ressuscitados!


Uma homenagem retardada ao dia 13 de Julho. Dia Mundial do Rock.

Viagem















A viagem seguia com certa velocidade, até chegarmos e tomarmos um rumo de volta. Bem, nem tanto a velocidade me agradava, mas é verdade, e agora digo: se tudo me passava rápido, era porque minha cabeça preferia estar em qualquer lugar. Não estava em minhas mãos o volante; D., que dirigia com afinco, mesmo sem dormir a dois ou três dias, conseguia manter prumo na direção. Seus cabelos, que só cheiravam ao vômito da véspera sacudiam-se com certa sofreguidão por conta do vento. Ele tinha mesmo na sua alma essa coisa selvagem, indefinível; à flor da pele. Seus óculos ainda refletiam o pôr do sol, enquanto eu via qualquer coisa pelo movimento das janelas, acúmulo de árvores secas, infinitas, que ganhavam vidas cheias de fulgor. Parecíamos dois loucos, quando pusemos as coisas na mala, dissemos, Vamos, e seguimos a estrada. Cada parada um cigarro; ele sugava o cigarrinho e apertava os olhos, sugava com força e prendia a boca, soltando em minha boca a fumaça deste. Bem, era provável que não estivéssemos tão ruins de cabeça assim. Nossos pais ainda esperavam aflitos por notícias nossas, mas essa viagem não tinha vontade alguma de acabar. Eu olhava para os olhos dele, e dizia, Cê é um louco... Iria com ele para onde quer que ele fosse. Tinha a certeza que nossa vontade iria nos levar ao infinito e além. O cheiro da bebida já embebeda mais este momento torpe, que cambaleia o olho, chovida chuva de emoção colhida pelos cruzados olhares que ficam a se perder dentro do Corcel. Valente corcel prateado que cruza as estradas. Se guarda alguma coisa, algum segredo, vontade maior que a de ficar só assim, isso eu não conseguia dizer, que a força do seu cavaleiro era o punho frouxo de D., que só sabia que queria guiar à beira-mar.



-- Quando a Argentina bater, a gente pára.



E era até agradável que me dissesse quando que íamos chegar - era mais agradável, na verdade, porque suas terrenas vontades às vezes me dava vontade de esquecê-lo. Deixá-lo como o conheci: pedindo carona, pondo o pé na estrada, n'algum lugar desses que de repente desse por levá-lo onde ele queria. Prefiro-o assim, a falar coisas que eu pretendia esquecer com o tempo. Se se desgrudasse um pouco de todas as lembranças, seríamos então as pessoas que queríamos ser, não quem querem que sejamos, que é o que fomos um dia. Se de cidade em cidade vamos indo, que fazer procurando, não tenho noção. Mas esse mundo tem me guardado algo que para conhecer tive que me desconhecer, deixar de egoísmo. Ser do mundo no mundo. Porque é desta terra que somos feitos e que nossos ancestrais foram feitos, mortos, ressuscitados na pele de todos nós, pigmento de cá e de lá que nos formam, e o resto, toda a porcalhada que falamos. Fica no asfalto, deslizando, leve, como marola que escorrega pela água. Dá quase que tristeza.



Seguimos. Se chegaremos ou não, só a neve dirá. Queira o tempo que nada do dele nos faça volver. Que voltar é coisa que não faço. A estrada passa, no cabelo de D., eu sinto que a liberdade pouco a pouco vai se instalando no seu cérebro. Ele sorri do nada, como quando nos sentimos bem, naquele barato de sempre, de rir de tudo. Ele poderia me pôr no gancho de seu abraço quente, e aí, seguiríamos fazendo um Road Movie cheio de nossos momentos. Que voltar é coisa que não faço.



Ansioso por On The Road - O Filme e também por ler o livro famigerado de Jack Kerouac.

sábado, 9 de julho de 2011

A Um Maldito

Maldito mal dito em ditos!

Tu que és pensador das horas,
dos versos incabíveis, invisíveis,
aí é que começas,
para terminar num nó indissolúvel.

De tua má palavra,
agressão verbal com os teus,
com os outros,
cabe um mundo, à palmatória
intercalado em revolta.

Afinal, quem entenderá um maldito?

Mal ditos benditos, maldito!

Grita teu nome,
assine teus zeros,
assassine teus nexos;
abocanhe o sexo -- teu complexo
incompleto de ideias.

E,a,p'

A um Achado

Há um achado
(um, acho)
que acho
quando te acho
no achismo
de meus perdidos
e desvairados
pensamentos.

Há um achado
em cada chuva
de chiados,
(de lágrima),
que alaga
este silêncio
cá posto
em prosas.

A um achado:
e acho que,
no encontro
entre os dois,
não mais
nos achamos.

E,a,p'

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Filosofias de morte e Máximas em Memórias Póstumas de Brás Cubas

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Editora FTD



Tomando de empréstimo e referência o blog de Rosangela Bastos (pela falta do livro em mãos) ponho aqui algumas das máximas de Memórias Póstumas de Brás Cubas que achei findo o livro. Pena não poder ter tido a oportunidade de anotá-las ou grfá-las no próprio livro, que não era meu... Mas, anyway, ficam aqui palavretas que valem a pena ler, para além do nome mais importante da nossa literatura e de um de seus romances mais famosos (na minha opinião, o melhor), que narra a história de "um defunto autor, não um autor defunto",


"Não importa ao tempo, o minuto que passa, mas o minuto que vem"


"O mundo era estreito para Alexandre; um desvão de telhado é o infinito para as andorinhas"


"Deus, para a felicidade do homem, criou a religião e o amor. Mas o Demônio, invejoso do sucesso de Deus, fez com que o homem confundisse a religião com a igreja e o amor com o casamento"


"Matamos o tempo, o tempo nos enterra"


E em minha surrada opinião, a que melhor estapeou a minha cara, ao fechar o livro.


"Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma outra criatura o legado da nossa miséria."


(Prometo rever as melhores e reformular esta postagem com frases que eu mesmo retirarei, relendo as quase 200 páginas do livro novamente)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Resultados

Lembrei que de todas as coisas que pensei que faria


num futuro desses que chegasse num repente louco,


hoje, sobrou apenas aquilo que eu já há muito fazia:


sonhar; o que, para se realizar, ainda é muito pouco.




domingo, 3 de julho de 2011

Um Desenho





e.

Eu tive um sonho...

...Onde eu tinha um sonho: antes mesmo de ter este, tinha outro: que era um revés de outro, que era melhor ainda. Um labirinto em linha reta, desenraizando outro pela parede invisível de outro sonho.

De repente: eu bebê.

Mas que dentro de um sonho cabem vários, cabem alheios, cabem todos. No fundo, sonho é só um sonho: meio-desejo, meio-realidade, meio nada um pouco tudo (de pouca coisa). Resquício sofrido de toda sorte de imaginação, de toda grande vontade, de todo grande repúdio, que é pesadelo.

No fundo próximo: eu sorrindo!

Eu tinha um sonho: e nesse sonho, eu sonhava, era um sonho sonhado, com cara de trago de cigarro, que comprime a mente, um pulmão -- coração.

Ali: eu no espelho.

Eu sonhei que sonhava um sonho dentro de outro sonho; assim, era quase real, e eu quase era mais vivo, era quase mais gente, era quase mais alguma coisa que não somente esse eu.

E,a,p'