domingo, 29 de junho de 2014

passagem iv

temo não saber se na mesma nossa estrela
existe ou existiu qualquer som que faça vez
ao teu olhar, sempre chamando uma galáxia próxima,
enquanto eu escavo as profundezas
sempre me desolo nas pedras e nelas me abraço,
meneando a cabeça e deixando enterrar,
fazer um choro de areia de tua cara seca
e de mim uma cachoeira de sereias claras
que nadam de cima abaixo -- ora,
se na tua mente não causamos dano
além-mar serei o dono do timão que se afasta
pra longe das terras incautas de teu querer.

meu deus, e já me pego remando, depois de posta abaixo
a embarcação que me propus a criar
e sair, navegar, pela órbita de qualquer infinito
que não guardo nos bolsos, porém,
sei que igual o silêncio que nos transborda
fica no teu mar um mar que chora.

mas me deixa estar, deixa-me estar sereno
mover-me como chama, de uma lado a outro
tentando a todo custo se apagar

mas como?
se dentro o coração queima
e me põe a apagar.

não venha dizer palavras vãs
que dos meus pés cuidam minhas mãos
e o caminho quem traça é minha pena.
ainda não voo, porém, reserva-te ao meu sol
para que nas minhas tardes eu possa ainda voltar,
buscar teus olhos, minha nau, e então, voltar à terra
escavando com os dedos
a claridade outrora escondida entre meus dedos.

sábado, 7 de junho de 2014

redoma

a gente faz casa no braço um do outro
e se ainda não casa
a cúpula que se forma
nos distancia
das vozes e gritos

mas eu já vivia no meu redoma

só queria companhia

e hoje tem toda uma manha
no desenlace da manhã
com os nossos descasos
e fracassos

a gente vai construindo
um universo à parte

tuas voltas

bom voltar ao teu corpo
maçãs coradas de não saber
bem como dizer o que vai aqui dentro

e aqui dentro
só a branquidão das páginas sabe
que é tudo exploração ininterrupta

e eu amo nossas idas e voltas
saber que não há que se abandonar
a essência

encontro mesmo que pesado
a taça última de gole sóbrio

é passar o tempo
com meu amor-próprio
e quem chama acende o fogo
e queima a própria casa
as próprias roupas
o próprio corpo

sempre andei pelas ruas
caustificado
onde passo
deixo as cinzas que caem
deste meu deixar

se sempre é assim
cabem novas horas
para satisfazer nosso sexo

masturba-me com mão pesada
e nunca saio leve
é sempre uma vontade inata

de deixar de ser

deixo meus pontos finais
cair
e no mais das vezes

o que sobra é continuidade

e nunca o nunca mais
sempre nunca sempre
e no final

tem sempre um entretanto