terça-feira, 25 de outubro de 2011

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A cada segundo que passa eu sinto menos interesse pelos próximos que virão.

domingo, 23 de outubro de 2011

Nutshell - Alice in Chains





We chase minsprited lies
We face the parth of time
And yet I fight, and yet I fight
This Battle all alone
No one to cry to, no place to call home...

My gift of self is raped
My privacy is raped
And yet I find, and yet I find
Repeating in my head
If I can't be my own, I feel better dead...

[Layne Staley/Jerry Cantrell]

Concretude



Eu desafogo minha mágoa com o desgosto das horas mortas
que perpassam pelas minhas pálpebras.

Eu fecho estes olhos doídos de terra entre eles
para que não doa mais que já,

entretanto, a cabeça não deixa passar impune
toda a dor inconsciente que se revela
nas páginas e nos jornais televisionados.

A concretude com que se me mostram as coisas
é de pedreira cruel, é de voraz desejo de me despir
de minha vaidade de poeta.

Eu fecho os olhos cegos e brancos e lúcidos,
eu fecho os olhos malditos que são reais, pegajosos
e duma imensidão colérica e seca -- mas não fujo:

não hei de fugir, como fizeram um dia,
diante da progressão do monstro tentacular.
Eu encaro frio e abro os braços para a sua pólvora e seu enchofre.

E,a,p'

sábado, 22 de outubro de 2011

Para morrer é que se nasce



Mania de trancar as portas, aquela, e aí, todos sabiam que ele estivera a enlouquecer. Entretanto, aquele rapazote era aquele de se faltar sorte. Poderia ter qualquer idade, melhores tempos, entretanto, sentado, com cara de desprezo para a rua. E não cansava de repetir para si mesmo que a vida que levava era a mais próxima da segura. No entanto, fora uma contradição, como todo homem que se preze.
Ao mesmo tempo em que conservava sua vida, como conserva-se uma sardinha numa lata, resguardava um pseudo-desprezo por toda a existência mundana – pela sua própria inclusive. As pessoas o viam, e tinha um certo dó de sua condição. Mas ele mantinha intacta aquela sua ideologia cruel de nunca levar para o pessoal os roubos, nos dizia, resignado, que aquela era a sua condição. Vivia numa tristeza de dar dó, achava ainda aquela justificativa para o seu azar... Falava de Jorge Amado e de seu Capitães da Areia, da maneira como pôde enxergar claramente a condição daqueles que estavam por baixo da camada social. Nós ali, ah, nós nada de livro. Tinha tanta coisa na vida com que se preocupar...
Contava vantagem, contava anedota. Tinha gosto de usar as palavras mais rechonchudas que conhecia – dava vontade de mordê-las – para contar seus doze casos de assalto, dez dos quais à mão armada comprovada pelos olhos que a terra um dia ia de comer. Fazia rir a todos, e punha aquela xícara inseparável ali ao seu lado, café ali. Sua mãe olhava-o de soslaio, enquanto costurava, tricoteava ou assistia.
Era uma figura aquele rapaz. Pena ter morrido em casa, depois que escorregou num carro de controle remoto do irmão e caiu com o pescoço em cima da quina de uma cadeira e, com a faca que cortaria o pão, enfiou-a no peito, um tanto quanto contrariada, sua voz ainda dissera, segundo sua chorosa mãe, que o destino do homem é inadiável. Morre-se, por isso se nasce.
Deveria ter perguntado a ele por que o homem se reproduz – mas o seu pseudo niilismo me diria que reproduzir-se é uma opção dos fracos e dos proletários... e me fariam bem suas palavras, assim, soltas como que a contar anedotas de marginais que contra ele impunham suas vontades, vícios – e no fundo quem se viciou fui eu, em ver aquela xícara entre seus dedos.
Sentar na esquina é tudo que se há de fazer.

E,a,p'

Os Felas Interativos e como Mardem mudou o "Morreu, morreu!"...

Johnny Knoxville, do Jackass: isto não foi um acidente...
Entre nós, havia, aliás, há, do presente do indicativo, uma tradição muito maldosa que é a de avisar quando o mal chega quando ele já está inevitável sob os gritos de "morreu, morreu!", o que chateava alguns dos nossos mais prezados companheiros... Bem. Esta história não começa por aqui.

Na verdade, voltemos ao Mardem, nosso querido Vaca. A história é a seguinte. Theo, Gilciêr, Mardem e Raul num belo dia, assistiram ao filme do Jackass, que para quem não conhece, são alguns idiotas fazendo idiotices, como por exemplo, cheirar wasabi, acertar os próprios testículos com bolas de sinuca, deixar que o chutem para testar um protetor genital, entre coisas mais do tipo, que cito apenas os que o horário e o meu estômago permitem. O problema é que eles esqueceram de assistir o começo ou o final do filme que contêm em letras garrafais mais ou menos assim:

"É PROIBIDO, PARA SUA PRÓPRIA SEGURANÇA, QUE NENHUM DOS ATOS PRATICADOS NESTE FILME SEJAM REPETIDOS POR VOCÊ OU QUALQUER UM DE SEUS AMIGUINHOS IDIOTAS."

É mais ou menos essa a cara de
alguém ao dizer "morreu, morreu!"
Bem, com exceção do "idiotas", eles seguiram a risca tudo isto, e puseram um palavrão muito em voga naqueles tempos na boca do Theo, o líder inconsciente (ele e os outros) dos Felas, que era o "fela da puta", que "fela", é uma variação cearense, mais para o lado da Caucaia, de "filho", entretanto, em "filho", apenas, a variação dá em, no máximo, "fi" (veja por exemplo o caso de "meu filho": "meu fi"/"meu fio"/"mo fí", etc.), daí, se alguém te chama de "fela", pode ter certeza: é "filho da puta" mesmo -- para isso me serviram as aulas de fonologia e sociolinguística. E decidiu: vamos nos chamar Felas.

Entretanto o aparato hollywoodiano é bem maior, e todos os Jackass com certeza têm seguro de vida e plano de saúde -- coisa que nós, (risos), não tínhamos -- no máximo, tínhamos plano funerário, que cobria apenas danos aos dentes.

E por este motivo todo mundo tinha medo de se dar mal e quebrar os dentes, os ossos, se machucar gravemente, o que contribuiu para que a investida no universo digital na rede internacional de computadores dos nossos colegas fosse um tanto quanto empobrecida e trash. Na verdade era muito feio de se ver mesmo, creia em deus pai... O único que estava se lixando pra sua saúde era o Mardem, que resolvia o caso se jogando de cabeça (literalmente, às vezes) nos vídeos.

E se jogava do skate, deixava que o derrubassem, quebravam cabos de vassoura no pobre diabo, acertavam lâmpadas nas costas dele, derrubavam-no do segundo andar, e tome voadora, e tome porrada, murro na cara, chute... Nesta época, precisamente, os Felas se vingaram de muitas surras que levaram do Mardem.

Entretanto a febre de vídeos baixou, e não saimos (sim, eu participei de dois -- por sinal os últimos) da terceira edição -- diabos, que vergonha do caramba...

A febre dos vídeos baixou, não a do Mardem, que parecia que vivia convulso duma febre imposta por satanás nos seus couros. E vivia ainda se jogando, enfrentando a morte com a sua loucura -- indo inclusive, de encontro com a confusão dos torcedores rivais quando eles voltavam, o que lhe rendeu uma pedrada.

Um dia, não contava ele, andando de skate, que iria ser atropelado. Só ouviu o diabo do "morreu, morreu!", e quando viu o carro de Enéas, A Máquina de Fazer Sexo/ Billy, The Kid/ Highlander/ Ídolo da Juventude/ O Filho do Demônio, lhe atropelou de marcha ré. Os rapazes ficaram preocupados, que ele havia se estabacado no chão feito um pacote, e levantaram-se pra ver.

Mas ele não morreu. Não é trágico.

Enéas saiu do carro, bêbado como sempre, e perguntou se ele queria beber, entende-se aí a preocupação de Enéas.

Mas o melhor, depois da gargalhada assombrosa da rua, foram as primeiras palavras de Mardem, ao se levantar,

-- Vocês filmaram? Vocês filmaram?

Foi nesse dia que o "morreu, morreu" foi precedido do "vocês filmaram?", e Mardem, mesmo sem saber, mudou o rumo desta história, que não mudará nada na vida de ninguém.

E,a,p'

sábado, 15 de outubro de 2011

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O que mais irrita às pessoas é que somos exatamente quem somos - e não o que elas desejariam quem fôssemos. Ser o que realmente se é, é o primeiro passo para sentir-se livre, que controle nenhum segura esta nossa vontade animal de Ser.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Um Silêncio Ecoa

Gatinha de rua. Bica Lisboa
Fotógrafo: Rui P.
A rua tem estado um pouco mais deserta
talvez pelo movimento escasso de certos senhores
e o mais provável é que não nos lembremos,
no dia seguinte, da falta que esta tranquilidade faz

tanto nos comprazemos de sua inquietude rotineira...
gargalhadas bigodudas e embriagadas...
balidos, e qualquer outra variação
que me atrapalham o som da tevê no domingo.

Um filete de sangue deveria ter lavado,
desde um canto da calçada à outra ponta.
Passaria por minha casa, daí então eu lavaria minhas mãos
para tudo, para todos...

Quando de um dia eu tiver deixado este sentimentalismo tolo
eu talvez vá chegar a ser tão vivo quanto o asfalto quente
que dia após dia, alguns senhores têm beijado.

Eu recolho a cabeça entre os travesseiros
procuro sossego em meu sono --
eu preciso tanto dormir, não apenas fechar os olhos.
Amanhã será um novo dia de inquietações, 
e eu preciso estar vivo.

E,a,p'

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sujeira e raiva - Fotos de Charles Peterson

Nirvana, Motorsports Garage, Seattle, 1990 -- Charles Peterson
Essa é apenas uma palhinha do que guarda o site do ex-fotógrafo oficial da Sub Pop -- consequentemente do grunge -- na sessão "touch me i'm sick" (trecho retirado da música de mesmo título da banda Mudhoney). Lá podemos ver o quanto de raiva, sujeira e honestidade o rock noventista pôde nos oferecer -- nada do rock technicolor que faz mal a quem tem astigmatismo hoje em dia...

Outra de minhas fotos favoritas:

Endfest, Kitsap, WA, 1991 -- C.P.


sábado, 8 de outubro de 2011

Sete Pecados

(Na falta de uma foto com bolada nas costas
uma na cara faz um efeito no mínimo parecido)
Afonso é o mais cafajeste dos felas. Não digo isto em falsidade tremenda, porque ele sabe, se vangloria e ama ser assim. É certo que não nasceu assim. Precisou ainda encaliçar muito o couro para ser o que é. E se existiu na face da terra uma máquina de fazer gente sem futuro, essa máquina era movida a duas mãos, ossos expostos e muitas, mas muitas espinhas. Seu nome é Theo. Francisco Estéfano, descendente direto dos Gomes, lá da Caucaia -- não poderia ser pior.

Existe um caso rápido que vou contar antes de adentrar em Afonso, mas que vale a pena ressaltar. Sal, irmão de criação de Mardem (sim, sim, aquele mesmo que almoça com Kurt Cobain), quando chegou era o mais próximo que tínhamos na Rua Betel de um nerd bem comportado. Foi só enturmar-se com "o bando" do Theo, que se tornou um capeta que xingava a mãe no meio da rua pra todo mundo ouvir, quando ela disse assim,

-- Sal, seu filho da puta! Eu vou te matar! Vou botar veneno na tua comida!
-- Bota, sua rapariga! Bota!

Enfim, existe outra história, que tem a ver com uma repetição nojenta de "fish, fish, fish" de um filme pornô que hoje eu não tenho coragem de contar.

Mas voltando a Afonso, este infeliz sempre fora um azarado, um saco de pancadas até atingir a sua atual estatura, de 1,84 metro. Hoje, claro, ninguém faz mais o que um dia fizeram com ele. Mas quando de sua juventude, chacota era pouco para o que sofria. Uma dessas era a brincadeira dos Sete Pecados.

Você já brincou de Sete Pecados com certeza. Se não, resumo grosseiro: o nome de cada um dos participantes no chão, e cada um joga uma pedra. Aquele que receber maior número de pedras no seu nome pagará os Sete Pecados. Digo assim, mas nem sei se o é. A parte das pedras e da bolada nas costas é o que interessa para a história.

Theo, sem vergonha do caralho, ia lá no nome do desgraçado do Afonso e pegava um punhado de não sei quantas pedras e jogava no nome dele sem que ele percebesse isto. Quando ele dava por si já tinha mais pedras no seu nome que o número de participantes. Chorava, o pobre velho... Mas fazer o quê, era o jogo, e ainda tinha a pressão do Theo:

-- Bora fela da puta, deixa de ser chorão! Vai peidar pra dentro?

Na hora de pagar os Sete Pecados, existe uma linha, de mais ou menos uns dois metros de distância do alvo, no caso o Afonso, que tinha que ser respeitada.

Mas aquele era o Theo, senhoras e senhores! Lá ia ele perder a oportunidade de meter a porrada no Afonso? Não era todo dia aquilo, e se tinham esses dois metros, ele reduzia essa distância para no máximo dez centímetros e acertava as costas do Afonso que se torcia que nem sapo com sal grosso na pele.

-- Égua mã, vou mais não...
-- Covarde!

E ficava nisso. Unindo o útil ao agradável, no final das contas, Theo transformou Afonso no homem que é hoje... Não é lá muita coisa... É certo que a custa de muita bolada e trapaça -- mas quem se importa? é só mero detalhe...

E,a,p'

Desintoxicando o Onírico Pelas Mãos do Engenheiro


[Sem nome nº 12]

"Pesadelos que perpassam
pelas pálpebras inquietas
do fundo escurecido
de minha memória
revelam..."
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"Em densas noites
Com medo de tudo
De um anjo que é cego,
De um anjo que é mudo."


João Cabral de Melo Neto
Poema de Desintoxicação



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

[Sem Nome]

(nº 15)

É em tua sofrida vertigem
que consigo enxergar
a minha monumental patetice

e o resto é só uma ilusão
interposta de certos comentários irônicos
que a tua mente cuida de criar

e fazer da nossa cidade, esse céu amontoado de fogo pálido
que há de queimar a alma dos infelizes.
.........................................................................................
[E eu tenho quebrado meus dedos
mutilado seus nós,
tentando calar minha mente
que fala pelos cotovelos.]

E,a,p'