O tempo corre facilmente,
Sem pensar nem sentir
Os percalços do movimento -
Corre, e independe
Do que pensa ou pensamos de si.
Na velocidade com que passa
Rasga nossa pele
E joga em nossos cabelos
As cinzas das horas mortas.
O tempo voa sem bater asa,
Como voam os aviões,
Sempre como um pêndulo
Aproveitando-se das instruções
Que outros homens,
Em outro tempo,
Constataram pelo erro.
Qual não foi a engrenagem
Que destravou em mim
A memória de que o nosso tempo
Sempre corre pro fim?
O tempo viaja sem pressa,
Sem mala nem hora pra voltar -
Porque o tempo histórico do homem
Sempre passa mais devagar.
Quanto tempo o tempo tem?
Quem decidiu que ele o seria?
Por que o sofrimento dura um ano?
E por que é como um raio a alegria?
Quanto tempo eu ainda tenho
Para responder essas perguntas?
Quanto tempo a vida dura?
E quanto vale o que a segura?
Conforme seja: o tempo varia:
Para a criança é a ansiedade da espera,
O dia que passa de hora arrastada;
Para os adultos é uma maratona
que sempre falta um tanto
Para a linha de chegada;
Para o velho, é uma caminhada,
Rumo a saída
que se deseja adiada;
Para o suicida
É uma surpresa esperada.
Mas grosso modo,
O tempo é o senhor das mudanças
que pode demorar e demora,
Porque o tempo humano é pífio
E é uma página que demora a acabar
Mas ela virá:
Como um dia que, na enchente,
De uma enxurrada levará séculos embora,
Mas até lá, o tempo corre a conta-gotas,
Esperando esse rio que tudo arrasta transbordar.