quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Sala, o silêncio, os retratos


As imagens nos passam as mensagens que desejamos,
e nem sempre é a mesma das do criador,
entretanto, entre tantos entreatos e cortinados,
sei da sala o vazio de meus tios e avós mortos,
cortinados pela terra fria, surrada em sutil melodia,
que os seus silêncios tem cuidado de me dizer,
e, antes que se diga dia, se sabe triste, a sinfonia
de mil trombetas angelicais explodindo
sob o céu e o sol salgado e selvagem armado,
cingindo luz e melancolia por seu labor todo dia,
de defender o céu e o seu infinito,
quereria então ele, lançar seu grito,
despertar todos os mortos,
ver olhar os olhos dos retratos da sala,
tios, avós, padrinhos e parentes,
primos, primas, alegres, doentes,
o silêncio dos retratos, as cores pretas-e-brancas
que colorem de felicidade o rosto sério de meu pai,
a face limpa e séria de minha mãe,
a cadeira vazia sobrante na sala,
o silêncio cortado na garganta,
cuspe seco na minha história,
e quem dirá de mim, o último Silva vivo,
que espera nada mais que o silvo,
da última coruja a piar nos céus.
O anjo desce, espectro de carne e madeira,
salvo pelo pai, e a lareira cinzenta,
que fatia do pão dormido de nossa mesa de domingo
não terá mordido este anjo sem dentes,
que me diz baixo, enquanto observo,
"Estes retratos mais nos falam
quando calados por muito tempo."

eap

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