quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Passagem (I, II, III)


I

é bem assim que me reconheço,
desfazendo meus cantares --
de toda forma que me conheço
eu me refaço em desamares.

é bem assim que me refaço
me arrefeço nos mazelares,
de todo espírito impuro e meigo
que me invade nos calares.

é bem assim, que em mil colares,
colando verso após verso
que no distinguir de teus olhares
vou me desfazendo em gestos.

II

é bem à noite que me canso
de toda a euforia branda
que me revolve os olhos
e me sensibilizo à dança.

acendo meu cigarro guardado
a sete chaves na gaveta...
me esqueci do quanto era gente
antes de ser gente inteira...

levo de leve a leveza que me acalma
entretanto não suspiro breve,
tusso e ponho fora a minha calma
anuncio-me em mil olhos acesos,

qual brasa do lume,
hoje, eu me tanto faço quanto me fiz,
só ponho a cabeça cansada
e cuido de ser feliz.

buscando meu só,
buscando ser só,
buscando só
solitude/solidão.

III

vou calado, calcando o pé no meu cansaço
buscar a verídica parte que me falta,
que me dói e tem doído.
não encontro ninguém, nem nada,
apenas na calada noite
essa noite que se fez lenta
a face obscura de um poema,
onde o nadatudo de minha vida
se fez sólido no fundo do copo que bebia.
eu vou, natimorto, buscando levar
meu eu só no verso de me buscar,
e drummond bem sabe, quando me diz
da vastidão das coisas... o mundo é vasto
e me devasta.

eap

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