como um arquiteto vou construindo meus blocos de
palavras.
mas, como um arquiteto, as seleciono, minucioso,
cuidadoso
comedindo as virgulas encaixadas a meio palmo do
vácuo que precede a desordem
que precede o tenso silêncio intercalado por uma
tríade de reticências.
mas arquiteto a palavra com a pobreza e
humildade de meu vocabulário,
mvito pomposidades, sinuosos neologismos – sou mais
um mortal, pobre.
pobre arquiteto, repito, infinitamente, os
mesmos tijolos, um sobre o outro
a fim de que possa saber até que ponto posso
organizá-las, sem pressa.
por isso não jugueis meu silêncio de agora
e de depois,
vou calcar sempre na mesma lógica sinuosa de um
artesão das garrafas de areia:
em que pincelada a pincelada vai tecendo a
paisagem, destoando as cores
destilando melindres de sua arquitetura
particular,
em ser um pouco deus, na refazenda do mundo que
se põe em suas mãos.
como um arquiteto eu construo nas palavras
as minhas ordens desordenadas, meu caos.
pai, mãe, irmão, amante. todas essas coisas de
que nunca serei capaz de sê-las por perfeita e completa coesão – eu não existo
por trás do papel,
sou apenas aquele que nasceu para platonismo
incipiente,
obra inacabada, imperfeita, infiel ao próprio
saber-se,
e é nas palavras que busco me construir,
nunca neguei esta busca, esta matemática humana
de escavacar a alma;
delego-me três tijolos de sentimentos brandos
e mais um ou dois de pura maldade inocente (nem
todo mal é todo mau),
que distrai o próximo passo.
[melhor seria que eu nunca tivesse descoberto, praguejo,
estas verdades minhas
as verdades minhas próprias de sabe-se lá o quê.
peço desculpas – e tenho pedido tantas
desculpas...
tenho deslizado pelas calçadas, pelas sarjetas
sem nunca ter sonhado fazê-lo...
desculpem-me este tijolo em falso]
como um arquiteto eu me construo em versos
e até quando?, eu não saberei. por que não tomas
da caneta
e continuas por mim, enquanto observo?
eap