sábado, 19 de janeiro de 2019

sapato emprestado de um amigo (ou carta em versos com a voz de belchior)

eu uso sapato emprestado
já há mais de 3 anos
e é o sapato de um amigo, que chamava de ex
tamanha infantilidade
eu nunca pensei.

mas olha, meu amigo eu te carrego comigo
e faz mais de um ano,
mesmo que se falar
a gente já não fala faz um tanto.

eu peço desculpa pela minha ausência,
quanto mais eu sumo
mais o coração cobra clemência
porque hoje o que eu carrego comigo
é mais que dois pares de sapato
um cadarço encardido
e um solado desgastado
eu carrego minha vida
pois não me esqueço nunca daquele dia
em que eu quis me matar
e você me levou numa viagem
que eu neguei por não enxergar
o bem que você me fazia.

hoje eu sou arrependimento
mas também sou gratidão
pela sua companhia
mesmo que tão ausente
e a culpa é toda minha.

eu carrego bem mais que léguas andadas
eu carrego também
as canções que foram cantadas
no calor daquela casa
e as muitas conversas regadas a cachaça
e coca cola pela madrugada na sala.

é, meu amigo, talvez esse sapato eu não devolva
mas quero retribuir essa amizade
essa paz que você leva e traz consigo
que é um caos calmo e contido,
apenas pela alegria de ser.

é, meu amigo, eu verso na voz de belchior,
e creio que esse presente ruim, ainda vai nos trazer
algo muito melhor
ou até muito pior,
mas eu acredito no seu sonho
ele é um pouco meu também
e esse sapato, eu lembrei,
calçou meu pé tanto tempo
findou sua sola,
mas não se preocupe, que convém
que na minha próxima visita
leve uma bebida na sacola
e uma conversa pra uma boa prosa.

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