quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

sem título 121

tem esse silêncio
cercado de barulho
no caminho pra casa.

eu o abraço
e me aconchego
e vejo a dança dos fios dos postes
feliz, como uma criança
que descobre a física
das coisas não ditas.

tem essa aura suja
que carregam as capitais:
é peso demais
pra se carregar
numa única chuva
que cumpre seu papel
de lavar nossa sujeira
e escorrer
uma lama
que só se desloca de rua a rua
como este ônibus
que me leva
do ponto a
ao ponto b
sem demora
e como sujeira,
eu vou embora.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

caçada

você vai me seguir
você vai me procurar
você vai se frustrar
você vai se fingir
de amigo e conversar

você vai me seguir
você vai me abordar
você vai se cansar
depois de me infligir
tapa e pontapé, tentar dialogar.

você vai me torturar
e eu vou conseguir
enfim me libertar
sem soltar um único a
até você se frustrar e me matar.

não vou ser mártir
não vou ser herói algum
mas vou te assombrar
à noite, quando você deitar
debaixo de sua cama vai checar

e quando eu for fantasma
monstro que você criou
você vai se perdoar
lamber suas feridas
e me incriminar

mas tudo bem,
tudo bem,
eu vou ficar bem,
tudo bem,
tudo tem o seu tempo,
tem e vem,
como tudo na vida
eu vou levar bem,
numa boa.
no além e aquém
do que tem de estar bem
sendo eu:
seu ninguém.