segunda-feira, 6 de julho de 2015

o medo I

eu só tenho medo desse amanhã
o resto, todo o resto fica pra se esquecer
mas amanhã é o dia
o pior dia de todos os tempos.

por causa das tardes de sol,
dos dias nublados,
das noites violentas,
da esquina que sempre à espreita
se assemelha
ao jogar de dados do destino.

por causa da próxima página,
por causa do livro inteiro,
nem tanto o fim,
o fim é a certeza ortodoxa de tudo.

se eu acordar tarde
se eu te ouvir gritar
se eu falhar de novo
se eu possivelmente falhar mais uma vez,

se eu estiver sozinho,

se todas essas coisas
sequer acontecerem:

amanhã continua sendo o pior dia de todos os tempos

se você não estiver lá
amanhã,
amanhã será o medo corporificado
o medo em carne e osso
a face lúgubre encardida de sombra,
e sujeira, e sangue
do tempo,
vestida num corpo,
num dorso,
no osso,
no poço
e no fundo,
o olho a fitar
e engolir a tua garganta de grito mudo,

uma queda rápida,
que não dura
mais que o sono das palavras.

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