sábado, 24 de agosto de 2019

para uma poesia classista

não ao individualismo
não ao eu
não ao intimismo
não ao singular
sim ao plural
sim a nós, vós e elas e eles
sim à classe
sim à maioria
mas, sim, aos desejos do homem
sim à necessidade e à luta
sim a um mundo que perece
nas periferias
em cada favela, rua e chão de fábrica
sim ao despertar constante
da consciência de classe,
sim ao estímulo à luta
contra nossos senhores
entre nós a certeza
de que existe um conflito
que vai além do ódio
que precisa de norte
que precisa de luta, pão e revolução.

paz entre nós, guerra aos senhores

mais vale a nossa luta através dos séculos
que esses reacionários,
mais vale o momento,
que as mentiras,
e o resto, é construção, corpo a corpo, olho a olho,
e não nos enganemos: é uma luta de uma vida,
talvez de duas e meia,
mas é a única luta que vale a pena.

delimitemos nosso front,
sempre foi assim e sempre vai ser.
nossa arma é a palavra,
é a ideia, a verdade e a história.
e o resto, é ficção, mentiras e mais mentiras.
e não nos enganemos: nos nossos dias, todas elas
têm o mesmo valor da verdade
para quem não nos quer emancipar -
mas é a única luta possível.

não é necessária a piedade ou compaixão
por aqueles que nos tem
escravizado através dos tempos,
muito menos com os detratores de nossa causa.
a vitória há-de vir, mais cedo ou mais tarde,
o resto, são tigres de papel,
e não nos enganemos: essa luta já tem vencedores.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

tudo há-de se iluminar

tudo se ilumina com o tempo
mais que os obscurantistas estejam aí,
o que importa é que mais dia menos dia
tudo se ilumina.

demorou séculos na idade média,
demorou décadas na ditadura,
talvez esta fase demore anos
mas o que importa é sempre chega o dia
na mais demorada noite escura.

é fato que existem pessoas cegas,
mas são poucos os que conseguem
enxergar na noite escura,
apenas aqueles que andam
com uma lanterna de conhecimento
sabem que o mal não dura.

e eles vão tentar esconder a luz,
apagar o registro geral,
atirar contra nós
e alegar que foi acidental.

vão nos dar facões
e vão bradar
que o inimigo está nesse quarto,
e nós vamos nos cortar
antes que tudo se torne mais claro.

eles vão dizer que era impossível prever
mas meus olhos estavam bem atentos
meus ouvidos ouviram as vozes:
e eu vi a mão no interruptor,
e as gargalhadas dos nossos algozes.

eles nos querem cegos,
eles nos querem desorientados,
eles nos querem com ódio,
eles querem nosso sangue
e vão, inevitavelmente, ter.

mas não importa: tudo se ilumina,
tudo há-de se iluminar.

daqui a alguns anos,
vão fazer mea culpa,
vão apertar nossas mãos,
nós pedir pra limpar a bagunça
e nos fazer sentir certa culpa.

mas a história é clara
e há um grande volume
debaixo do tapete.

não dá mais para esconder do que essa gente é capaz,
mas eu sei:
que antes de se iluminar completamente,
ainda vai escurecer um pouco mais.

mas sejamos fortes,
vamos dar as mãos
a quem merece;
soltar pelo menos uma
e usá-las como se deve.

apertar o pescoço
que já vem com força pronta no nó da gravata
sentir seus corpos estrebuchar,
e em cima deles
criar uma sociedade que vai prosperar.

o inimigo é muito claro:
e não é este que está nu e desqualificado,
este aí, é só um ventríloquo
seu mestre está de terno num blindado.

eu sei que parece difícil,
eu sei que parece terrível,
mas tudo se ilumina, acredite quando digo:
essa história ainda vai ser escrita
pelas mãos de quem está resistindo.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

não adianta a métrica da vida

a vida se esvai num rio
deságua em mares
e, conforme dela corra um fio,
vai sempre ao encontro
de seus pares.

somos pequenas gotas de chuva,
grãos de areia do deserto
e toda miudeza que se acumula
das pequenezas muitas
do universo.

viver é um sopro que se dá,
que vem não sei de onde
e por mais que tentemos se agarrar
o curso certo de toda ventania
é ir longe.

mas se esse longe é breve
e toda vida se aninha na mão
de um gigante de passo leve,
talvez a gente seja parte de um
grande "senão".

mas não adianta trocar em miúdos
tudo que se pode dizer da vida
mas continuo a contar os segundos,
cansado de com a incerteza
conviver ainda.

terça-feira, 23 de julho de 2019

a saudade nos envelhece rápido

para laís helena alcântara souza
a quem devo saudade, afeto
e um espaço preenchido na história e na memória.

eu entendo tua partida
entendo que houve uma dor.
uma dor tamanha,
que não se mede pelo que sobrou.

queria entender mais
pra segurar uma tristeza tamanha
que também não se mede pelo peito
e é composta apenas de uma força estranha.

não posso voltar no tempo
mas se pudesse iria
te abraçar sem hora de acabar
te segurar as mãos
e não deixar esse tempo passar.

vou deixar teu nome no tempo,
vou deixar teu nome na história,
pra deixar que, sempre que precisar,
saibam que laís ocupa uma memória.

[mas fique aqui por perto,
fique aqui por dentro
e crie suas raízes
dê seus frutos, dê suas flores, dê suas sementes,
dê seu riso, dê sua presença, dê sua lembrança
mais além que uma pedra com teu nome e foto.
é o que fica dentro de nós que vai ocupar um espaço fora:
esse espaço vazio preenchido de ausência.]

já tenho saudades de você,
e essa saudade durará pra sempre,
o arrependimento também
- e deus sabe o quanto dói,
mesmo que eu seja incapaz de chorar -
fico pensando,
olhando esse vazio que você deixou,
não faz nem um dia,
e eu já me sinto velho de saudade.

tomara encontre o bem -
e se puder avisa, se puder me diz,
se puder me conta se você já tem a paz que sempre quis.

eu vou ficando, vou levar como der.
tenho tantos planos, tantos projetos,
ainda vou realizá-los - porque é o que me move
e vou te contar quando for aí - se você quiser.

terça-feira, 16 de julho de 2019

pixo

isso, de se escrever na parede das coisas,
ainda vai dar pano pra manga,
vai ser folha pras histórias
e ainda vai ocupar os espaços
de todas as memórias.

isso de ser
mancha preta em muro branco,
de levantar teu olhar pra cada canto,
onde a cidade se subverte em alento
é herança djalgum banto
perdido de nossa veia em algum momento.

isso de ser
mancha vermelha em roupa de varal,
na calada da noite tingida,
por coturno e boina cinza,
inda vai ser odiosa manchete de jornal,
nas calçadas de casas e lajes distintas.

mas é nas calçadas e nos céus de fios de poste
com vozes agudas que não podem fugir
abafadas em cigarro
e afogadas em café forte,
que eu vejo todo dia essa tinta emergir.

e eu, que já cansei de caiar esses muros
cansei também de esperar
e deixo o pixo do muro,
que é pela voz deles que a cidade vai falar.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

escrever-se

a gente brinca com a história
e faz de tudo pra esquecer
mas não adianta:
a todo momento, por baixo da porta,
a poeira entra, e continua a entrar,
mesmo quando a noite é fria demais
e não deixa tua sala-memória descansar.

fecha essa janela
porque, de fato, não adianta,
todo dia o sol entra pela persiana,
em filetes finos,
tão natural,
como quando se nasce, cresce e morre.

você sabe que a história não perdoa,
você sabe que a história não esquece,
e se você quer ficar nela,
olhe o quintal, a grama que cresce,
a árvore que sombreia
e conta seu tempo em cada auréola do seu corpo,
e aprenda, que só quem risca uma página deste livro é quem permeia
sua trajetória junto do povo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

sem título 121

tem esse silêncio
cercado de barulho
no caminho pra casa.

eu o abraço
e me aconchego
e vejo a dança dos fios dos postes
feliz, como uma criança
que descobre a física
das coisas não ditas.

tem essa aura suja
que carregam as capitais:
é peso demais
pra se carregar
numa única chuva
que cumpre seu papel
de lavar nossa sujeira
e escorrer
uma lama
que só se desloca de rua a rua
como este ônibus
que me leva
do ponto a
ao ponto b
sem demora
e como sujeira,
eu vou embora.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

caçada

você vai me seguir
você vai me procurar
você vai se frustrar
você vai se fingir
de amigo e conversar

você vai me seguir
você vai me abordar
você vai se cansar
depois de me infligir
tapa e pontapé, tentar dialogar.

você vai me torturar
e eu vou conseguir
enfim me libertar
sem soltar um único a
até você se frustrar e me matar.

não vou ser mártir
não vou ser herói algum
mas vou te assombrar
à noite, quando você deitar
debaixo de sua cama vai checar

e quando eu for fantasma
monstro que você criou
você vai se perdoar
lamber suas feridas
e me incriminar

mas tudo bem,
tudo bem,
eu vou ficar bem,
tudo bem,
tudo tem o seu tempo,
tem e vem,
como tudo na vida
eu vou levar bem,
numa boa.
no além e aquém
do que tem de estar bem
sendo eu:
seu ninguém.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

estrangeiro nativo

eu não sou deste país,
eu sou cidadão do mundo,
eu sou cidadão do fundo
de um quarto escuro.

eu não sou empregado de ninguém,
eu não sirvo a mestre nenhum,
eu crio os meus castelos e moinhos
e com meu escudeiro, vou além,
vou pra lugar algum.

eu não falo português,
eu falo outra língua,
não adianta me imitar
nem tentar fazer rima,
eu sou latino americano,
tenho sangue quente,
não tenho eira nem beira,
mas sigo contente,
e toda vez que me acusam
eu chamo toda a gente,
pra bater, pra te xingar,
quem sabe até te esmurrar
e fazer careta,
ocupar uma rua
ou uma cidade inteira.

eu canto samba de raiz
mas curto rock n' roll,
não faço questão de ir a igreja
e faço dos versos o meu show,
não toco violão, não tenho oração,
mas guardo sempre a boa intenção
de fazer valer o que eu sou.

eu não sou brasileiro, eu sou cearense,
sou de fortaleza, do itaperi,
que é lugar de gente,
eu sou dessa rua, eu sou desta casa,
eu sou minha família,
eu sou minha asa,
não tenho eira nem beira,
mas faço como ninguém
um café e puxo uma cadeira
pra conversar dessa situação,
desse nosso sofrimento, desse novo apagão,
eu falo dessas coisas e não digo nada
durmo tranquilo quando não faço amor de madrugada.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

sem tempo

2 irmãos, mãe morta, atropelada, 18 anos. era um desespero sem tamanho. não bastasse o pai, sumido no mundo, inda agora essa. dois irmãos, ele, sem emprego, sem faculdade. presente de grego, futuro de lamentação. não adianta chorar.
ensino médio, cabou-se, emprego de meio-período, entrega água no garrafão, a madame do carro popular, segura a bolsa com força: só quero o troco. todo dia uma prova diferente: no troco da matemática é que se aprende bem, no uso do vocabulário certo é que uma moeda convém: bom dia, com licença, obrigado.
não tinha tempo pro orgulho, não tinha tempo para sentir ódio. era só resignação.
levanta cedo, prepara café, arruma menino, arruma menina, vai deixar, pega lanche fiado, desconta no fim do mês.
era presente de grego, esse do destino, transformar logo cedo em homem um menino. obviamente, claramente, reticente, nem uma gota de suor, fumava escondido (era bom exemplo).
todo dia era essa a rotina, parecia um sonho o fim de semana. a saudade da mãe era tamanha, mas não tem tempo pra saudade, não tem tempo pra orgulho, não tem tempo para sentir ódio: tô passando, eu ouvia ele gritar. deixava água, compras também. homem de confiança do pinheiro, o dono da budega, ia pra onde for, sem medo, com bolo de dinheiro, voltava com o troco que o fulano mandou.
moreno, às vezes era preto, nego, neguim, ficou conhecido neguim da água. braços finos, mas levanta galão de 20 litros com uma mão só.
neguim era forte, era conhecido, nem mesmo a malandragem mexia com o menino: esse é responsa, guerreiro demais.
o tempo corre igual a cargueira azul, rua acima, rua abaixo, beco aqui, sobe escada, ele nem pensava, faz um ano, nunca chorei.
foi na formatura da oitava série do irmão, que chorou primeira vez. aquele ali, meu irmão, é o guerreiro.
a irmã viria a se formar 3 anos depois (quando o irmão passou no vestibular).
era tanta lágrima que era mar, derramado, de seco, de magro, mas escondido. tudo era só alegria, mesmo que às vezes tivesse que se estressar, mas neguim não tinha tempo para nada, não tinha tempo pra rancor nenhum.
entendia pouca coisa de si, do seu lugar, foi por isso que se chocou quando o irmão disse que ia embora, estudar no piauí, aprender engenharia e depois tirar eles dali.
a irmã saiu também, arranjou emprego no exterior. achou chique demais, nem reclamou.
aí que a casa de neguim ficou vazia. foram 9 anos segurando, mas, mais dia menos dia, essa lágrima teimosa de tristeza cairia.
e caiu, mas neguim não tinha tempo, não tinha tempo de nada não. morava no barroso, tava completa a sua missão.
nunca mais soube de neguim, acho que o irmão o levou pra outro lugar, ou a irmã, sei lá. tava sempre apressado, eu sabia que em algum lugar ele ia chegar. 

sábado, 19 de janeiro de 2019

sapato emprestado de um amigo (ou carta em versos com a voz de belchior)

eu uso sapato emprestado
já há mais de 3 anos
e é o sapato de um amigo, que chamava de ex
tamanha infantilidade
eu nunca pensei.

mas olha, meu amigo eu te carrego comigo
e faz mais de um ano,
mesmo que se falar
a gente já não fala faz um tanto.

eu peço desculpa pela minha ausência,
quanto mais eu sumo
mais o coração cobra clemência
porque hoje o que eu carrego comigo
é mais que dois pares de sapato
um cadarço encardido
e um solado desgastado
eu carrego minha vida
pois não me esqueço nunca daquele dia
em que eu quis me matar
e você me levou numa viagem
que eu neguei por não enxergar
o bem que você me fazia.

hoje eu sou arrependimento
mas também sou gratidão
pela sua companhia
mesmo que tão ausente
e a culpa é toda minha.

eu carrego bem mais que léguas andadas
eu carrego também
as canções que foram cantadas
no calor daquela casa
e as muitas conversas regadas a cachaça
e coca cola pela madrugada na sala.

é, meu amigo, talvez esse sapato eu não devolva
mas quero retribuir essa amizade
essa paz que você leva e traz consigo
que é um caos calmo e contido,
apenas pela alegria de ser.

é, meu amigo, eu verso na voz de belchior,
e creio que esse presente ruim, ainda vai nos trazer
algo muito melhor
ou até muito pior,
mas eu acredito no seu sonho
ele é um pouco meu também
e esse sapato, eu lembrei,
calçou meu pé tanto tempo
findou sua sola,
mas não se preocupe, que convém
que na minha próxima visita
leve uma bebida na sacola
e uma conversa pra uma boa prosa.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

mi carino II

é um carinho mudo
que eu nutro no meu canto
pelas coisas bonitas do mundo.

tenho vontade de beijar meus amigos
desconhecidos
irmãos
sentir um abraço quente
bater no peito a peito
mão a mão.

é esse sentimento de concreto
que se solidifica no meu peito
como uma imagem criada
instantaneamente.

bebo o amor líquido
enquanto trago meu cigarro
tomo meu café
enquanto espero um afago.
e como uma luz que se exalta em meu peito,
eu ilumino meu caminho,
na direção certa de um abraço.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

um conselho ao poeta romântico

o poeta baixo é grande
quando fala por uma mulher
o poeta, eu acho,
não está interessado no que ela quer.

o poeta fala, versa a mulher amada
odes e sonetos sobre a mulher invisível
sobre a mulher sonhada
sobre a mulher impossível

a mulher sem pêlos,
a mulher sem cor,
a mulher sem anseios,
a mulher sem amor.

é fácil matar o poeta,
se uma mulher começar a falar
é fácil enforcar um poeta
se ela começa, ela mesma a versar.

o poeta instituição, histórico,
o poema indiscreto de coxas e seios
de boca, de lábios, de desejo irrisório
de quem a mulher não nutre desejos.

imagine a mulher que fala do falo,
da frustração do homem mediano
imagine a poetisa que diz não me calo
a uma versão minha que não amo.

imagine você, que a poesia é feminina
que o poeta cria seu verso infantil
crescendo nesse substantivo que culmina
nas criações de uma mente indiscutivelmente viril.

o poeta tem que mudar sua poesia,
o poeta tem que ouvir uma, toda mulher
saber que seu horizonte se amplia
a medida que fora do corpo se constrói o que se quer.

respeite o corpo que versa, pense nisso!
é mais fácil que descrever o impossível
e se matar aos 27 por ter sido omisso
ao pouco que se preze do que é crível.

este mesmo poeta, se revisitado, tem suas falhas
é impossível não ter sido um erro antes deste fato:
pensar fora do corpo feminino e das suas saias
e deixar essa masculinidade velha e aborrecida no passado.

pense nisso, poeta; pense com carinho!
vamos criar novas crianças com um amplo horizonte
e fazer dessa geração um exemplo, um caminho
para ir mais além do que fomos, para ir cada vez mais longe.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

uma canção desesperada

eu tenho um violão e umas ideias na cabeça
e faço delas o meu norte pras palavras.
eu tenho poucas notas, mas carrego uma certeza
-- e faço dela o pedestal pra minhas mágoas.

eu tenho uma vontade e um milhão de desejos
e faço deles aço pra construir minhas asas.
eu tenho um sonho e um bolso cheio de segredos
e em cima deles me sinto a prova de balas.

eu tenho tudo o que preciso para ser quem eu sou
tenho o tempo comigo para ser meu abrigo
eu tenho a pólvora pro meu canhão de amor,
sou o mais perigoso terrorista do meu inimigo.

eu faço versos e não a guerra do homem,
que serão eternos como a esperança
eu faço guerra contra a ignorância de quem tem fome
pra que eles se juntem a mim num levante de vingança.

eu tenho uma canção na garganta pronta para entoar
e ela agora é cantada entre suspiros e murmúrios.
eu tenho essa canção e ela um dia vai ecoar
vai fazer cair as armas e derrubar os muros.

eu tenho uma visão que no escuro envaidece
eu tenho uma cegueira que na madrugada é trunfo
eu tenho uma missão e o dia ainda amanhece
e quando isso acontecer a gente vai...