terça-feira, 6 de setembro de 2011

Uma Tijolada em Bebeto, O Bruto


Bebeto era o cara mais marrento que eu já havia conhecido até então. Ele fora o último dos felas que eu tive a honra e o desespero medroso de conhecer. Todos sabiam da sua fama de machão. Ninguém queria disputar com ele meia hora de porrada. Meia hora? O Mardem, coitado, quando era mais jovem, naquele dia em que ele vendou os olhos e disse, Deixo vocês me baterem, ao que prontamente todos fizeram: deram uma sova que valeu por todas as que ele dera até então em todos (Theo, Mardem, o seu irmão, o Filhin, Afonso...) o que foi sério e deixou ele chorando de raiva quando tirou a venda -- ao que viu que todos haviam pulado o muro de suas casas --, tomou a maior das sovas, apanhou por todos, quando o Bebeto tirou a venda e viu que só estava ele lá com cara de pateta esperando levar um murro na boca. Mas claro, nesta época o Mardem, se hoje é o Vaca, naquele tempo era um Bezerrinho.

Sabendo disto, ninguém mexia com Bebeto. Hoje ainda, há quem tema levar na cara uma bordoada, sendo ele o cristão protestante que tem sido. Se entregar a Jesus fora uma escolha que resfriara seus ânimos, porque antes?, ah, antes, Bebeto era pau de dar em doido. Saía no pau com qualquer um que olhasse pra cara dele por mais tempo que fosse normal -- o que seria... no máximo dois segundos, vá lá. Quando digo que Bebeto era doido, é porque é verdade! Se ele fosse um animal, seria um cachorro, se tivesse raça, seria pit bull. Não é pagando pau, porque eu não sou de pagar pau pra ninguém, mas é verdade. Eu peguei a boa parte de sua mudança cristã.

O que acontece, é que ninguém entendeu, quando um dia, o Theo, escondido por detrás de uma árvore, Raul resolveu jogar nele um tijolo de construção. Ia tudo bem, tudo em paz nesta atitude, acreditem se quiser, e jogou o tijolo -- quando digo "jogou" não digo que arremessou, para matar. Era no máximo para rasgar a testa, deixar um hematoma, essas coisas, que o Theo bem que merecia (e ainda merece) uma tijolada -- e jogou. O curso do objeto iria em cheio na perna de Theo, não fosse, surgir do meio de uma parede côncava (para dentro -- coisa que só a rua Betel tinha) Bebeto distraído, acabando de aliviar um mijão, tentando ainda abotoar a calça. Leva ele uma baita tijolada no peito, produzindo um barulho estrondoso, um trovão. Bebeto, instinto de animal, apenas pôde esboçar uma reação: levantar os braços, e suspirar,

- UNGH!

E, claro, sua bermuda caiu ao chão e Raul ficou desesperado achando que iria levar uma surra colossal de Bebeto, porque ele já batera em outras pessoas por muito menos. Theo já marcava carreira pra correr também, pois sabia que quem estivesse no caminho de sua raiva levaria sova também. Mas qual não foi a surpresa dos dois que Bebeto soltou aquela gargalhada que só ele sabia soltar... Claro que esqueci de mencionar: Bebeto era também muito amigo, muito companheiro apesar de bruto, e toda esta sua fraternidade é expressa na sua gargalhada que é a maior do mundo, a mais sincera e verdadeira que poderia existir. E no final da noite, coisa de dez pra lá, estavam os três rindo da situação, sob a luz amarelada do poste, sentados no tradicional banquinho de madeira em frente à casa de Theo -- hoje nem existe mais, mas a risada de Bebeto, permanece.

E,a,p'

3 comentários:

Raul Oliveira disse...

Bons tempos que não voltam mais....

GILCIÊR SILVA disse...

Muito bom, PA-RA-BÉNS!

Unknown disse...

Saudade das palhaçadas de vocês ..

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