quinta-feira, 22 de março de 2012

Um Brevíssimo Instante

Era breve como o vento o movimento do passo.

Mas, tendo alcançado a calçada, não desalojou o olhar da pluma brevíssima de seu desejo vivo. A sensação era bem aquela: desejo em estado bruto. Dos músculos, passos rápidos, fortes, tremelicante pedra a movimentar-se por baixo dos pés.

Era o desejo com sangue em veias. Era o próprio resplendor da coisa-paixão.

Definida de alto a baixo nesse queixume de se deixar repousar pela paixão repentina, soube esvair de seu olhar  o sorver mais profundo do mais violento fumante em seu vício mais profundo -- quanto tempo não experimentara aquela sensação pavorosa do frio nas pernas, do calor que sobe e desce dentro da saia, do suor em plenos vinte e dois graus tropicais? Nada era tão raro.

Lépida, tal pernas do guepardo, assoma na esquina. Não volta nenhum olhar. 

Ele, pobre desinfeliz na encosta de seu passar mongólico, jamais saberá que seu coração pulsou rápido, teve chance, coisa rápida, única -- nunca mais são as palavras.

eap

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