sexta-feira, 19 de outubro de 2012

versos íntimos iii


isto é sobre amor
isto é sobre poesia

mais que te tenha renegado
em prol da prosa
por tantos motivos,
sabe lá deus, que é isso:
essa vontade - a batalha
vencida contra o papel
assustadoramente
branco.
essa surdez absoluta do senso
de tudo e de tanto, digo:
verso, penso, reflito.
cansa essa palavra, busco outra,
chamo todo meu vocabulário,
sacrifico meus irmãos
em prol de minha desgraça
como escrevente desses versos
só me permito ser
teu pai, tua mãe, teu amante
teu professor e aprendiz - saudade
de ser algo em tua vida
amargo os dias que passo distante
a te rejeitar... embora me venhas,
na mente minto:
eu te repudio, orgulhoso,
não te nego amor nenhum,
embora bem saiba
que, como todas,
me rejeitas, me esfria, me joga de canto
(talvez o segredo de me ter nas mãos
talvez o segredo de me mostrar
sem máscara nenhuma - ódio de amor,
amor pelo ódio, odiar amar tanto - tudo não passa
de uma ilusão - meus versos, minha tinta
meus dias, meus dias)
te busco na cidade,
te busco cansado,
te dedilho,
te surro,
te faço gargalhar,
sinto até teu cheiro,
enquanto me acompanhas
andando pelo centro da cidade -
sou o tumor que em mim mesmo fede.
sou a gana de me ter pelos dedos,
rabiscar tua pele sem senso,
tatuar nela meu nome e apagar
só para ter o gosto de reescrevê-la
e te ferir, ferindo-me, sem saber...
o vácuo que me apetece,
é ele quem me afaga a noite,
é ele quem me acalenta o dia,
é ele quem me dá a certeza de que estou certo
sobre todas as pessoas.
versos íntimos cheiram a sangue,
mas não são nada - um mero teatro
protagonizado por aqueles que não sabem viver.

eap

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