domingo, 13 de outubro de 2013

esquece, carlos

fui bater na sua porta, mas não sabia onde você moraria -- então bati em todas as portas da cidade, só sabia, decorrida uma semana, onde você não estava. 

já de punhos inchados de tanto bater portas, passei a gritar teu nome nas ruas -- essa cidade é tão grande meu deus, é tanta rua, tanta avenida, tanta viela, tanta gente -- - algumas disseram ter te visto passar, de viés, em algum lugar, que eu não sabia onde era, semana passada você estava lá, hoje, não sei mais, fui seguindo os detalhezinhos que cê ia deixando, um resquício de perfume que ficava no ar, no meio da multidão -- naquela biblioteca te esperei passar, entre os livros das prosas e poesias das quais fui me identificando e tentando encontrar, quem sabe, outro resquício teu, nosso, segui mais uma vez o destino desconhecido, coisa alguma, coisa alguma falta sentido gratuito pesqueiro memorial interno selvagem monstro de solidão absoluta. 

não procurei atinar do sentido (perdi minha voz); dei apenas de caminhar por aí, com o coração chagado, aberto, nas avenidas, "onde anda você?", mas não sabia mais dos sentidos dessas palavras, não sabia mais do que ser. no momento eu lia e relia os versos que você não me fez, mas que ficaram memorizados no meio do caminho, misto de olhar e mãos. 

ontem acordei na rua, tua letra num papel dizia "esqueça", foi então que fui para casa, fiz a barba e tomei um banho.

eap

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