sábado, 11 de janeiro de 2014

a ideia vaga iii

a ideia não vaga mais
a ideia permeia, solidifica -
misto de liberdade solidão
solitude sofreguidão.
a ideia quer ser, não falar:
procura nas palmas das mãos
coisa de destino, coisa de fim;
reproduz-se por cima de si mesma
acalentando-se através de um desatino
amarrado em válvulas de escape
que jorram porra e sangue
pelas paredes, pela estrada deixada
para trás - ninguém refreia
a ideia refeita.

a ideia de unidade
a famigerada sorte dos astros
são nada além que um buraco
esticado no meio do peito
com as unhas sujas
de pontas pretas - não dói
como doera antes saber:
tem jeito de privilégio sacrilégio
sorrir a dente amarelado
dum desgaste que a vida faz,
a ideia amadurece,
e solidifica as bases 
do que um dia foi penso -
penso, logo existo,
penso logo pendo,
logo cedo, logo tarde,
logaritmos desproporcionais
para se calcular com exatidão
a matemática da vida.

mando um puta que pariu
no meio do nada,
apenas para saber que estamos aqui.

a ideia veio cedo,
não quis ir embora:
deixou marcada nas paredes
um gosto pelo absurdo
pelo fascínio das meias palavras,
das meias verdades,
do que agora é silêncio,
do que amanhã, ou nunca,
é um seja-lá-o-que-for.

a ideia não vaga mais,
porque se soube sábia em não ficar
não parar: a ideia vaga no seu próprio lugar.

eap

0 comentários:

Postar um comentário