quarta-feira, 11 de março de 2015

martelo//prego

a festa acabou,
fecha-se o ciclo das imperfeições
e inicia-se o das preocupações
e a amargura toma conta do dia
do amor, dele inteiro,

e a festa acabou
com o copo ainda meio cheio,
ainda bem,
a festa tem hora, sem hora não dá,
se fosse infinita era inferno,
o corpo respira aliviado,
a mente pede por mais,

a festa acabou
mas calma, que toda festa acaba
a festa a festa a festa a festa
o recorte é tão falso que soa como música
e quando é que vão me dizer o contrário,
eu prefiro sentar e esperar que os dias
tenham chuvas mais fracas
sóis mais amenos
vós que sois a desgraça dos meus dias
e os sóis que sois que são, querem
como quem se queria o suor impregnado no corpo

a festa acabou
resta a ressaca, o corpo clamando por água,
por alimento qualquer, por gordura,
por cigarros, por sono, ressaca
ressaca de mar e terra e corpo e ar,
a luz é baça e balança a faísca última do meio-dia
quem fez o sol tão quente,
quem fez a noite tão escura,
quem fez a chuva tão incômoda

mas em londres

a festa acabou
a festa não pára
a festa não pode parar
o espetáculo não é lógico
o espetáculo é caos,
a festa é espetáculo,
e é tão difícil controlar o ódio e a inveja
que senti quando você abriu sua boca para vomitar
em cima dos meus olhos
aquelas demências,
mas, olha bem, eu vou te responder à altura:
vomitar na sua boca
e conceder que a lama e o ácido gástrico do qual beberás
ainda te faça melhor que essa gentalha de mil homens na tua cabeça
e se eu te amava antes, hoje eu não posso segurar a vontade
de tentar te esfaquear pelas esquinas,
sem motivo ou que esses desmotivos já sejam um

a festa acabou
perdeu a graça
a música perdeu compasso
o sono chegou
o cansaço legou
e fizemo-nos entendidos sobre tudo
a boca não fala nem beija nem bebe nem fuma
a boca só arca
e arqueja
pedi a conta, pedi a desforra
perdi os cálculos
perdi as negociações de toda a minha vida
e essa festa
de luzes horríveis
caio babando, espumando feito um cachorro
e são tantas fotografias
posso ser menos prolixo,
dizer que a festa sempre acaba,
mas eu nunca fui bom com os sinais
nem com as maiúsculas
e porque sou dado aos minúsculos
a festa tinha que acabar

a festa acabou
pros poetas
pras putas
pros amigos
pras empregadas
pros playboys
pra advogada a festa nem tinha começado
pro doutor a festa não parará

a festa acabou
e a dancinha solitária
com o copo na mão
o salão vazio
no meio a luz
e meu vazio todo preenchido
de que
nunca soube

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