domingo, 26 de abril de 2015
fragmento II
sexta-feira, 24 de abril de 2015
mestre
tendo em mim a inércia,
qualquer valor que seja dado
em mais de mil ou um apenas,
contribui de forma satisfatória
para o progresso daquilo que nos faz fortes
mesmo o silêncio projetado
para desdizer o não-dito e o subtendido
afogo-me nos preceitos antigos
onde sempre se é necessário explicar os pormenores e as vírgulas
utilizadas para satisfazer seus ouvidos
(apesar que nenhum dos ouvidos está apto para ouvir)
só se sabe o peso dessa apatia
quando se vê de perto a dor inteira
não a metade do pé pra lá.
o passado faz completo sentido
os gritos, os silêncios, as palavras todas.
como podem todos meus mestres estarem certos?
não é possível que se erre tanto
esperamos que o previsível não nos surpreenda mais
porém
a cada novo olhar revirado por trás das pálpebras
se apercebe o erro cultivado de anos
e como fazer o inesperado
se o sentimento de agora é coberto de uma vontade de enterrar o corpo debaixo
de sete palmos de areia grossa.
degradar lento o corpo
a mente intacta
o corpo são
a mente desgastada
e o contrário em dias pares.
deus me ajude a nunca mais enlouquecer.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
evolucionar-se
o sensível se perde e dá lugar
ao sem tato, o homem sem olhos
o homem sem senso,
o homem sem sono,
que é admirável pelo que se admira:
racionalizar a pedra imóvel
o prédio de linhas retas
a curva que se faz na folha
o intrínseco analítico,
fábula contada há mil anos
era de que o homem seria senhor
de si mesmo
mas as páginas que se mostram agora
confundem as vistas de quem proclamou
essa independência
pois que é escravidão do que se há-de ser
perfeito.
como que deuses fossem assim perfeitos?
escravos do vício de se viciar
no medo de se ter medo,
na cova de se ter que cavar uma,
mortalidade absoluta de ser mortal,
a sensibilidade morre para que nasça o homem-parafuso
o homem-engrenagem, o homem-hermético.
desomenagem de amor à fortaleza (ou canto do desgarrado)
I mean all disrespect
In the neighborhood bars
I'd once dreamt I would drink
Fortaleza i love you but you bring me down
odeio teu sol
tuas praias
teu cheiro de litoral
fortaleza i love you
but you bring me down
odeio teu centro
tua ignorância
tua inconstância
impossibilidade
tua desigualdade gritante
oligarquia patriarcal
fortaleza i love you
but you bring me down
mas também te sou grato
pela raiva e pelas pessoas
que em coro cantam comigo
no mesmo tom o mesmo hino
fortaleza i love you
but you bring me down
sou grato por ter me formado
moreno pardo mulato
meu corpo de fato
desta cor tamanho peso e fardo
a inspiração tal
fortaleza i love you
but you bring me down
deu também, fortaleza,
esse jeito de amar te odiando
de cheirar teu lixo
e do ódio frio
o morno encanto me fio
fortaleza i love you
but you bring me down
quando canto agora
na madrugada afora
adolescência em vão
nas ruas podres e encharcadas do dragão
ou na aldeota, uivando com vinho feito cão
na favela onde conheci 300 ou mil irmãos
que me tomaram paraíso inferno
ou o que me fez tão mal
é assim que digo
i love you
but you bring me down
da iracema outrora américa
o perdido anagrama
com quantas mortes
hei de fazer esse canto drama
pois que na luz esverdeada
das lagoas
há mais que tristeza e melancolia
do que se fez antes tua ama
quem te criou
te deu comer
e belle-epoque
o verdadeiro sentimento
de perdido íntimo
de quem das tuas ruas se fez caos
fortaleza i love you
but you bring me down
teu aniversário
mais 1 ano
e meu ódio é sem culpa
é amor natural
não irei mais ecoar
o que já martelei
da cidade que me fez
dar este verso final.