sábado, 5 de novembro de 2011

Um Conto Violento (ou Niilismo)



- Porra, vai tomar no cu, Zé. Cadê aquela velha "ultraviolência"?, me perguntaram um dia.

Fiquei chateado, porque nestes últimos tempos tenho abrandado minha cabeça, ela nem sequer sangra de tanto pensar, e por isso eu não quis matar ninguém. Na verdade, na verdade mesmo, ninguém fez por merecer uma morte.

Sigo a premissa de matar desafetos em ficção. Ora, mas a quanto tempo eu não sinto um ódio deste grau? Sabe lá... O legal disto tudo é que só quem ganha é a linguagem. Dois dias atrás eu recebi aquela crítica de pessoas que esperavam de meus contos violência, o caos urbano, porrada na cara, chute nos colhões. Pois aí vai uma dica para quem espera um conto violento. Na verdade eu vou matar um personagem fictício.

Em primeiro lugar, para se criar um conto violento, é preciso frieza, um olhar clínico, um senso de humor cínico e negro. Quando falo negro, não é gargalhar, é ironizar a maldade como fosse normal. Tipo, E ele enfiou o braço dele todo no cu como se estivesse a ponto de palitar os dentes. É certo que o hiperbolismo ajuda nessas horas. Você já viu um cu com dentes? Nem eu. Daí passemos a descrição de violência, que pode ser de dois tipo: um física no mano-a-mano e/ou covarde, com armas brancas e vermelhas e pretas e de toda sorte de cor.

Particularmente gosto da covarde, pois enfiar uma faca no olho de um personagem é bem mais fácil e rápido. Aliás, esta descrição deve ser rápida, senão vai parecer que você está trabalhando na autopsia. Por exemplo, imaginemos que o fulano que me perguntou onde está a ultraviolência estivesse de frente para mim de braços abertos. Suponhamos que no meu bolso eu tivesse uma faca, iria no meio dos peitos dele. Duas facadas com o peso de uma pedrada. Sentiu a velocidade? Pois então. depois de tudo isto, o rapaz sendo maior que eu para variar, merecia ter sua cabeça esmagada por meia dúzia de pulos sobre a sua cabeça, mais ou menos na altura dos olhos, que é para ver se eles saltam fora da caixa. Isso, muito bem.

Agora vem a parte mais cruel, o pós-porrada. Geralmente se pensa, Derrubei. Venci. Errado. O cara pode levantar a qualquer momento, e é aí que tens que mostrar que levantar dali pode ser a pior das ideias. Munido da faca, que pode ser qualquer uma, você vai pôr a ponta dela na gengiva do rapaz, e cavar, cavar, até encontrar a raiz do dente e depois arrancar com a mesma faca. O rapaz vai sorrir lindamente, e falando em sorrir, corte-lhe os lábios, para que se tenha certeza de que este sorriso lá irá permanecer. Depois, recomponha-se, e passe a dedicar-se a fazê-lo sofrer. Para os fumantes, o cigarro pode ser apagado em dois locais estratégicos: ou no ouvido ou no olho -- se não tiver saltado da caixa.

Bem, depois disto, você pode comprar um banjo, acender uma fogueira, e com um espeto, pegar as peles que irá cortar com a mesma faca -- que quanto mais cega melhor -- mastigar a sua carne enquanto ele agoniza até morrer, ouvindo sua voz celestial cantar "Oh Susanna, don't you cry for me/ I come from Alabama...".

Você se pergunta, E a foto acima com isso?

Laringite.

E,a,p'

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