quinta-feira, 2 de agosto de 2012

francisco

francisco trabalha numa fábrica.
francisco surdo dos zzzzzzzummmmmmbidos, e os gritos do patrão -- de praxe.
de olhos ardidos, das faíscas, no final das contas era o que menos doía em francisco cego.
das sete às cinco, francisco morto.
pelo amor de... um dia desses, francisco demitido.
-- corte etc.
à procura: nada encontra.
francisco dum filho e duma esposa magros.
faminto francisco e os seus -- há dois meses com fome.
a criança chora todas as noites e francisco não pode dormir.
francisco fuma um de outros cigarro noutro -- até a esponjinha da guimba --
o desespero queimando a ponta do dedo.
resoluto desce a rua, tal vagabundo -- troca por uma arma a tevê.
francisco cansado, à noite, a cabeça no travesseiro, espera todos dormirem.
(eu chorei por francisco)
olha para a esposa (esposa de francisco; mãe de seu filho)
o travesseiro no rosto, esse baque seco.
no berço, chora seu filho, um tiro no tórax -- a criança pára de chorar.
três minutos de francisco.
até dar-se conta: deus, que fiz?!
a bala de francisco -- o terceiro baque na cabeça.
francisco, esse homem. acertou a cabeça,
mas não morreu -- francisco vive, sua cabeça olhando a coisa sangue no chão do quarto escuro, mas, vive
(e todas as noites, antes de dormir eu penso na cabeça de francisco).

livremente inspirado em 
"Frankie Teardrop" por Suicide


eap

2 comentários:

JOPZ_B1B disse...

muito bom,foi pros melhores da semana..

http://b1brasil.blogspot.com.br/2012/08/cocando-periquita.html

JOPZ

Eliézer Araújo disse...

Muitíssimo obrigado :)

Postar um comentário